Igreja: A generosidade dos jovens na construção do ser comunidade, no Vale de Chelas

Frei Tibério Zilio diz que esperança está a nascer entre os jovens nas paróquias dos frades conventuais, marcadas pela pobreza cultural e muito diversa mas onde a generosidade ajuda a congregar

Foto: Agência ECCLEISIA/MC

Lisboa, 21 jun 2023 (Ecclesia) – O frei Tibério Zilio, pároco São Maximiliano Kolbe Vale de Chelas e de Santa Beatriz da Silva, em Lisboa, diz que os jovens são “generosos”, “não têm preconceitos” e que apesar da sua “inconstância” desafiam para uma vida mais ecológica.

“Não é culpa dos jovens se são inconstantes. A nossa vida é precária e estamos a oferecer precaridade aos jovens, não podemos pretender perfeição. Mas eles, com criatividade ultrapassam-nos. Os jovens estão a ensinar um estilo de vida ecológico. É importante que o mundo adulto abra o coração e as portas da comunidade para fazerem, com erros e limitações, mas deixar entrar. Assim a igreja renova-se”, assume à Agência ECCLESIA o frade conventual, da Ordem dos Frades Menores Conventuais.

“Os jovens têm um coração generoso. A experiência de preparação da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 está a mostrar isso. Temos três igrejas e eles são os que dão o exemplo de participação e sentido de comunidade. Não têm barreiras e dão-se todos bem, não têm preconceitos”, acrescenta.

Frei Tibério Zilio é pároco nas duas comunidades paroquiais, um local que congrega seis bairros, constituídos por muitos prédios onde habitam pessoas chegadas, na sua maioria, nos anos 80, de Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde, Goa, Guiné e também do norte de Portugal: “Vieram à procura de trabalho e temos este povo paroquial muito diverso em cultura, com a mesma língua”.

Depois da “fome”, a comunidade de quatro frades assume o “saber como ir ao encontro das pessoas, que ali vivem”, procurando “para lá das missas e encontros, festas”.

“O nosso desafio é como ser Igreja em saída ao encontro de quem ou não é religioso ou está na dúvida ou vive de maneira diferente com outros valores, mas que estão ali ao teu lado”, traduz.

O frei Tibério dá conta da criação de grupos comunitários, “com várias associações e entidades para ajudar a construir comunidade, quer a nível social como no apoio económico”.

“A urgência era a fome e a pobreza e a paróquia criou o centro social de são Maximiliano Kolbe, um dos maiores de Lisboa, onde são servidas 400 refeições diárias mas temos respostas para creche, berçário, grupos para adolescentes, cuidado a idosos com apoio a domicílio, temos uma loja spot, um banco alimentar moderno”, explica.

A comunidade organiza-se para receber jovens estrangeiros que no final de julho e agosto estarão em Lisboa para participar na JMJ Lisboa 2023.

“Geralmente este nome, Vale de Chelas, não é apreciado por adultos, mas curiosamente os jovens gostam desta terra, não têm vergonha, talvez porque mais do que os adultos colhem tudo, aceitam tudo sem fazer seleção”, dá conta.

Mas o responsável reconhece que a pobreza é ainda uma realidade, sentindo que a pobreza cultural marca também a população.

“As pessoas não se sentem periferia mas ela existe. A pobreza nunca é apenas material, é muitas vezes associada à cultura e nós sentimos que temos gente simples, no sentido da ignorância. Vários paroquianos não sabem escrever ou ler. E isso é uma pobreza, isto marginaliza. Muitas vezes as pessoas não se sentem descriminadas mas ficam em casa, é verdade”, admite.

Em entrevista ao programa ECCLESIA, o frei Tibério recorda o sue crescimento em Rosà, a sua terra natal, perto de Pádua, e a forma como se foi sentindo chamado pelo carisma franciscano, de São Francisco de Assis, chamado à pobreza mas “à riqueza dos encontros”.

“A Laudato Si não é poesia, mas fruto de uma experiência de se saber que Deus é pai, fruto do despojamento. A pobreza é cultural. São Francisco queria contrastar o ídolo da sociedade que diz que quem é rico é que vale, os outros que não têm validade, são os descartes, como indica o Papa Francisco. A pobreza assume um valor de irmandade cultural e valoriza todos aos olhos de Deus. Pobreza, castidade e obediência são os votos que os frades fazem mas o sinal de comunicação é a fraternidade, e colocar a periferia no centro”, conta.

A conversa com o Frei Tibério Zilio a pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação ou no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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