Horizontes da política

Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

O facto é paradoxal, mas cada vez mais frequente: cresce o número dos cidadãos que se distanciam da atividade e da participação política e é cada vez maior também o número dos que, sendo indiferentes, exigem da política e dos políticos a capacidade de governo das coisas públicas com qualidade e com competência capaz de resolver os problemas de todos, em ordem ao bem de cada um (por vezes, refere-se também o bem de todos, o comum).

A realização de eleições traz a debate este paradoxo, fundamental para a perceção do que está a acontecer durante semanas de campanha e de sondagens. Com dois problemas: é consentido pelos políticos que dele aprendem a tirar partido e provoca a emergência de posições extremistas que adquirem popularidade crescente, mesmo que de forma muito instável e a ocupar causas sociais distantes, extremas também, com a promessa de tudo resolver.

O que fazer?

Nestas ocasiões (como em quase todas), o Papa Francisco é uma grande inspiração. Sobretudo porque nele se reveem crentes e não crentes, políticos e indiferentes de causas públicas, quem vota e quem se abstém.  E, quando em causa está a oportunidade de referir o atual Papa em discursos mediáticos, é sempre para confirmar concordâncias, a oportunidade das suas palavras e a assertividade das suas propostas. Assim, também acerca do que diz Francisco sobre a participação de todos os cidadãos na construção das democracias e a respeito de como se devem envolver lideranças partidárias na política e na organização do governo das nações.

No primeiro documento do Papa e naquele em que lança linhas essenciais deste pontificado, Francisco refere-se à atividade política três dezenas de vezes. Trata-se de um texto sobre a evangelização, que tem por título “A Alegria do Evangelho”, onde as causas sociais, a economia, as lideranças nacionais e políticas e, claro, as religiosas e pastorais preenchem toda a narrativa do Papa. Com um único propósito, tanto nas ocasiões em que se refere ao contexto social e político como ao eclesial: viver e propor o Evangelho que garanta a justiça e a paz no mundo e a dignidade de vida para todas as pessoas.

Vamos à procura de algumas propostas concretas do Papa n’”A Alegria do Evangelho”? Primeiro, para todos os cidadãos, no âmbito da atividade política:

 Ser cidadão fiel é uma virtude, e a participação na vida política é uma obrigação moral.

Em cada nação, os habitantes desenvolvem a dimensão social da sua vida, configurando-se como cidadãos responsáveis dentro de um povo e não como massa arrastada pelas forças dominantes.

Depois, para os políticos:

A dignidade de cada pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a política económica, mas às vezes parecem somente apêndices adicionados de fora para completar um discurso político sem perspetivas nem programas de verdadeiro desenvolvimento integral.

A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum.

Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo.

Neste tempo, é urgente traçar por aqui os horizontes da política.

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Agência ECCLESIA

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