Homilia no 10.º aniversário da dedicação da catedral de Bragança

 

Homilia no aniversário da dedicação da catedral de Bragança
A epifania da Igreja
É aqui, nesta Catedral, que renovamos o dom da fé, é aqui que celebramos a Páscoa. Esta que é a maior Catedral portuguesa, seja também expressão de maior ardor, de maior gosto, de maior simbolismo. Se Bragança é conhecida pela Domus Municipalis passe também a ser conhecida pela Domus Cathedralis, não com o sentido do seu edifício, da sua beleza, mas, sobretudo, pelo simbolismo da sua Igreja. Que daqui, Cristo que preside a esta Igreja, vós possais ver o invisível; isto é na pessoa do Bispo, que está virado para vós, possais ver o Outro Bispo que é Cristo. Eu estou cá pelo testemunho, pelas palavras, pela vida de simplicidade e até pelas limitação, por que não dizê-lo? Que possais entrar na profundidade do Mistério que aqui se vive, que aqui se experimente neste momento.
A pastoral da Catedral
O Bispo, os Bispos Eméritos, os presbíteros, os diáconos, os religiosos, os leigos, todos nós, fieis em Cristo, somos a Igreja.  Desta forma é mais visível. Somos aquilo que somos e representamos todos aqueles que aqui estiveram no Domingo, todos aqueles que hoje não puderam vir, todos aqueles que em união com esta mesma Igreja celebram este dia nas suas comunidades, na sua adoração pessoal e comunitária. Que nós possamos, verdadeiramente, edificar com o mistério que celebramos Aquele em que acreditamos. Que Aquele que celebramos seja o mesmo que vivemos. O objetivo da vida Cristã é a vida de Cristo. Por isso, cada vez que nos reunimos na Eucaristia dizemos: “por Cristo, com Cristo e em Cristo”. E a Catedral simboliza isto, o mistério da Igreja. Não é um símbolo de ostentação, não é um símbolo de poder, não é apenas o lugar onde o Bispo tem a cadeira, é muito mais do que isto. E é isto que nós, às vezes, temos dificuldade em entender, em viver, mas é um desafio que a todos é dirigido. Uma coisa é o que vemos e outra coisa é o que devemos compreender. É este o desafio da sacramentalidade da Igreja, desta Igreja somos nós. Aqui se sente e vive também a Igreja pastoral. Temos a Eucaristia, temos o Evangelho, temos Deus connosco, e isso faz de nós homens e mulheres novos. O templo de Deus é o templo de Deus. Mais do que uma casa, mais do que um templo, é a ambição de Deus nos filhos que aqui vêm renovar-se na esperança, renovar-se na alegria da entrega do amor. Havemos, juntos, com o cabido, o presbitério, todos, havemos de repensar também o lugar da Catedral na pastoral da diocese. A herança que nos é deixada por D. António Rafael e D. António Montes, queremos continuá-la na renovação, no mesmo sentir da Igreja, no mesmo sentir do Evangelho, mas certamente com novas linguagens, novo entusiasmo. É aquilo que tenho sentido e é aquilo que espero de vós. Se vós tendes muita esperança no Bispo o Bispo tem muita esperança na diocese, muita esperança em vós. 
É neste novo ardor, que a Catedral da diocese seja lugar da irradiação da frescura do Evangelho. Algumas ideia tem-me chegado até agora, vindas de alguns movimentos, de alguns presbíteros. Certamente que no dia 17 com o presbitério, os diáconos e o Bispo havemos de encontrar outras prioridades, novas formas de tornar verdadeiramente este lugar casa de todos e que a diocese se possa rever aqui e que isto seja sinal da Igreja que somos; uma Igreja que soube construir uma Catedral e há de ser capaz de pagar o que falta, mas, mais do que isso, seja Igreja viva, capaz de olhar para ao essencial. Uma igreja existe para evangelizar, para mostrar aos olhos dos homens e mulheres de hoje, aos jovens, às crianças, a todos, como é belo ser cristão, como é belo sermos Igreja, como Bragança sabe testemunhar essa beleza a si mesma e ao mundo. É certo que isso vai exigir de nós uma grande conversão pastoral, uma conversão do coração, mudar de maneira de pensar, de estar. Não mudar por mudar, não é essa a minha intenção, mas é mudar para ser mais fiel às fontes, para que, tal como a nós nos deixaram possamos transmitir aos outros a mesma beleza da fé e do amor gratuito de Deus. 
O Ano litúrgico na Catedral
Devemos, também juntos, pensar o ano litúrgico do Bispo aqui na Catedral. Além do que é obrigatório e do que as normas canónicas decretam, estabelecer e fazer de facto deste lugar um lugar de evangelização, não tirando o lugar das paróquias, mas aqui sentir do pulsar vivo desta Igreja. Por isso há de merecer de todos nós, a começar por mim, este carinho, esta atenção.  Diria, há dois lugares que irão merecer uma especial atenção: a Catedral e o Seminário. Não os edifícios, mas aquilo que representam, tanto o lugar da celebração como o lugar do rosto visível desta Igreja que somos. 
1. A Catedral
Nos inícios, a Igreja edificou-se à volta da Cátedra do Bispo e com a expansão das comunidades multiplicaram-se as Dioceses. Nesse tempo não existiam cadeiras para a assembleia. O privilégio de se sentar era, com efeito, para aquele que tinha a missão de ensinar em nome de Jesus Cristo, sentado à direita do Pai . A cátedra dá origem ao nome Catedral, lugar da cadeira do Bispo – símbolo do munus docendi episcopal. A domus cathedralis “é toda uma epifania de fé” , tem que ser para nós lugar da demonstração da fé, lugar da beleza, lugar do encontro.. 
Quando o cristianismo se difundiu nas aldeias, aquelas porções do povo de Deus foram confiadas aos Presbíteros. Até ao século sexto só o bispo celebrava sacramentos. As paróquias surgiram para que a Igreja toda se aproximasse da casa das pessoas, sem quebrar a unidade da diocese à volta do Bispo e dum único presbitério com ele. Eu sou o primeiro responsável deste presbitério, mas um presbitério não é uma soma de presbíteros, o presbitério é em si mesmo um mistério. Participamos do mesmo e único sacerdócio: Cristo. (A Igreja pode assim aproximar-se das casas das pessoas, sem quebrar a unidade da Diocese à volta do Bispo e do único Presbitério com ele.) A Paróquia, sendo uma opção histórica e pastoral da Igreja, não é apenas uma circunscrição administrativa e repartição funcional da Diocese, mas é a forma histórica privilegiada da localização da Igreja particular. A paróquia é “o núcleo fundamental na vida quotidiana da Diocese” . A Paróquia deve ser uma casa aberta à Esperança.
Oxalá a Catedral seja também modelo de qualquer paróquia da diocese, modelo na liturgia, modelo na arquitetura da liturgia, modelo da celebração da fé. “A comunhão eclesial, embora possua sempre uma dimensão universal, encontra a sua expressão mais imediata e visível na Paróquia: esta é a última localização da Igreja; é, em certo sentido, a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas” . A Igreja não é um movimento, mas uma comunidade que reúne todos os crentes em Cristo sem distinção, para que todos celebrem a sua fé, esperança e caridade. A paróquia é a célula base da Igreja, não é apenas uma divisão administrativa da Diocese, mas um espaço eclesial na qual a Igreja se dá como o todo no fragemento.
Há um autor não crente que escreveu um livro, por estranho que pareça, com o título “Comboio Noturno para Lisboa”, que dedicou uma especial atenção ao que significa a catedral numa cidade. Diz ele: “Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso da sua beleza e da sua transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo. Quero erguer o meu olhar para o brilho dos seus vitrais e deixar-me cegar pelas cores prodigiosas. Preciso do seu esplendor… Preciso do seu silêncio imperioso… Amo as pessoas que rezam. Preciso da sua imagem. Preciso dela contra o veneno insidioso do supérfluo e negligente. Quero ler as poderosas palavras da Bíblia. Preciso da força irreal da sua poesia… Um mundo sem estas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver” .
O grande  monumento contemporâneo de Paris, o Arche del la Défense é superior à Catedral de Notre-Dame, sendo um cubo oco de 112 metros de altura coberto de mármore branco e aberto no centro, apoiado por 12 pilares de 30 metros cada. Tal Cubo propõe-se ser uma janela aberta à esperança e aos direitos humanos.
O Cubo e a Catedral é uma obra interessante de G. Weigel  pergunta-se “qual a cultura que protege melhor os Direitos Humanos, promove o bem comum, defende o legítimo pluralismo e explica os compromissos morais que tornam possível a democracia? A cultura que produziu a racionalista La Grande arche de la Défense? Ou a cultura representada pela catedral que os preponentes de la Grande arche representa, mesmo que visualmente de modo atraente, o aborrecimento metafísico. Fala-nos da política sem Deus; na verdade, celebra a política sem Deus como grande libertadora da humanidade. A sagrada irreguralidade de Notre-Dame, com a sua combinação de pedras imponentes e vidros luminosos, representa, pelo contrário, a abertura do espírito humano ao transcendente – a Deus” .
É isto que representa a catedral de Bragança. 
Termino esta breve reflexão com um texto de Edite Stein, convertida em Santa Teresa Benedita da Cruz:
“Quem és tu, doce luz que me enches
e iluminas as trevas do meu coração?…
És o Mestre da obra,
o construtor da eterna catedral
que se eleva desde a terra ao Céu?
Tu dás vida às suas colunas, que se erguem,
altas e retas, sólidas e imutáveis (Ap 3,12).
Marcadas pelo sinal do Nome divino e eterno,
lançam-se para a luz e suportam a cúpula
que termina e coroa a santa catedral,
a tua obra que abraça o universo inteiro:
o Espírito Santo, Mão criadora de Deus!…
És tu o doce cântico do amor
e do sagrado respeito que ressoa sem fim
à volta do trono da Trindade santa (Ap 4,8),
sinfonia em que ecoa
a nota pura dada por cada criatura?
O som harmonioso,
o acorde unânime dos membros e da Cabeça (Ef 4,15),
no qual cada um, no auge da alegria,
descobre o sentido misterioso do seu ser
e o deixa brotar em gritos de júbilo,
livre e participante no seu próprio jorrar:
Espírito Santo eterno júbilo!” 
“Tu és Cristo, filho de Céus Vivo”, que a confissão de Pedro seja a nossa confissão. (…) O altar é Cristo, por isso é que nós o beijamos no início e no final da celebração o incensamos e lhe dedicamos tantas outras formas de adoração. É Cristo que deve ser o sentido da nossa existência. Cristo que dá as chaves a Pedro, podemos dizer dá-lhe as chaves da porta da catedral, mas não lhe dá o rebanho que se reúne dentro da catedral porque esse é de Cristo. Mais tarde, o Evangelho de João Diz: Apascenta as minhas ovelhas, os meus cordeiros, isto é oferece aos grandes e os pequenos… A todos Jesus confia a Pedro, aos apóstolos, ao bispo; confia o rebanho, mas não lhe dá a função de pastor porque essa só Dele pode ser. 
D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda

A epifania da Igreja

É aqui, nesta Catedral, que renovamos o dom da fé, é aqui que celebramos a Páscoa. Esta que é a maior Catedral portuguesa, seja também expressão de maior ardor, de maior gosto, de maior simbolismo. Se Bragança é conhecida pela Domus Municipalis passe também a ser conhecida pela Domus Cathedralis, não com o sentido do seu edifício, da sua beleza, mas, sobretudo, pelo simbolismo da sua Igreja. Que daqui, Cristo que preside a esta Igreja, vós possais ver o invisível; isto é na pessoa do Bispo, que está virado para vós, possais ver o Outro Bispo que é Cristo. Eu estou cá pelo testemunho, pelas palavras, pela vida de simplicidade e até pelas limitação, por que não dizê-lo? Que possais entrar na profundidade do Mistério que aqui se vive, que aqui se experimente neste momento.

 

A pastoral da Catedral

O Bispo, os Bispos Eméritos, os presbíteros, os diáconos, os religiosos, os leigos, todos nós, fieis em Cristo, somos a Igreja.  Desta forma é mais visível. Somos aquilo que somos e representamos todos aqueles que aqui estiveram no Domingo, todos aqueles que hoje não puderam vir, todos aqueles que em união com esta mesma Igreja celebram este dia nas suas comunidades, na sua adoração pessoal e comunitária. Que nós possamos, verdadeiramente, edificar com o mistério que celebramos Aquele em que acreditamos. Que Aquele que celebramos seja o mesmo que vivemos. O objetivo da vida Cristã é a vida de Cristo. Por isso, cada vez que nos reunimos na Eucaristia dizemos: “por Cristo, com Cristo e em Cristo”. E a Catedral simboliza isto, o mistério da Igreja. Não é um símbolo de ostentação, não é um símbolo de poder, não é apenas o lugar onde o Bispo tem a cadeira, é muito mais do que isto. E é isto que nós, às vezes, temos dificuldade em entender, em viver, mas é um desafio que a todos é dirigido. Uma coisa é o que vemos e outra coisa é o que devemos compreender. É este o desafio da sacramentalidade da Igreja, desta Igreja somos nós. Aqui se sente e vive também a Igreja pastoral. Temos a Eucaristia, temos o Evangelho, temos Deus connosco, e isso faz de nós homens e mulheres novos. O templo de Deus é o templo de Deus. Mais do que uma casa, mais do que um templo, é a ambição de Deus nos filhos que aqui vêm renovar-se na esperança, renovar-se na alegria da entrega do amor. Havemos, juntos, com o cabido, o presbitério, todos, havemos de repensar também o lugar da Catedral na pastoral da diocese. A herança que nos é deixada por D. António Rafael e D. António Montes, queremos continuá-la na renovação, no mesmo sentir da Igreja, no mesmo sentir do Evangelho, mas certamente com novas linguagens, novo entusiasmo. É aquilo que tenho sentido e é aquilo que espero de vós. Se vós tendes muita esperança no Bispo o Bispo tem muita esperança na diocese, muita esperança em vós. 

É neste novo ardor, que a Catedral da diocese seja lugar da irradiação da frescura do Evangelho. Algumas ideia tem-me chegado até agora, vindas de alguns movimentos, de alguns presbíteros. Certamente que no dia 17 com o presbitério, os diáconos e o Bispo havemos de encontrar outras prioridades, novas formas de tornar verdadeiramente este lugar casa de todos e que a diocese se possa rever aqui e que isto seja sinal da Igreja que somos; uma Igreja que soube construir uma Catedral e há de ser capaz de pagar o que falta, mas, mais do que isso, seja Igreja viva, capaz de olhar para ao essencial. Uma igreja existe para evangelizar, para mostrar aos olhos dos homens e mulheres de hoje, aos jovens, às crianças, a todos, como é belo ser cristão, como é belo sermos Igreja, como Bragança sabe testemunhar essa beleza a si mesma e ao mundo. É certo que isso vai exigir de nós uma grande conversão pastoral, uma conversão do coração, mudar de maneira de pensar, de estar. Não mudar por mudar, não é essa a minha intenção, mas é mudar para ser mais fiel às fontes, para que, tal como a nós nos deixaram possamos transmitir aos outros a mesma beleza da fé e do amor gratuito de Deus. 

 

O Ano litúrgico na Catedral

Devemos, também juntos, pensar o ano litúrgico do Bispo aqui na Catedral. Além do que é obrigatório e do que as normas canónicas decretam, estabelecer e fazer de facto deste lugar um lugar de evangelização, não tirando o lugar das paróquias, mas aqui sentir do pulsar vivo desta Igreja. Por isso há de merecer de todos nós, a começar por mim, este carinho, esta atenção.  Diria, há dois lugares que irão merecer uma especial atenção: a Catedral e o Seminário. Não os edifícios, mas aquilo que representam, tanto o lugar da celebração como o lugar do rosto visível desta Igreja que somos. 

1. A Catedral

Nos inícios, a Igreja edificou-se à volta da Cátedra do Bispo e com a expansão das comunidades multiplicaram-se as Dioceses. Nesse tempo não existiam cadeiras para a assembleia. O privilégio de se sentar era, com efeito, para aquele que tinha a missão de ensinar em nome de Jesus Cristo, sentado à direita do Pai . A cátedra dá origem ao nome Catedral, lugar da cadeira do Bispo – símbolo do munus docendi episcopal. A domus cathedralis “é toda uma epifania de fé” , tem que ser para nós lugar da demonstração da fé, lugar da beleza, lugar do encontro.. 

Quando o cristianismo se difundiu nas aldeias, aquelas porções do povo de Deus foram confiadas aos Presbíteros. Até ao século sexto só o bispo celebrava sacramentos. As paróquias surgiram para que a Igreja toda se aproximasse da casa das pessoas, sem quebrar a unidade da diocese à volta do Bispo e dum único presbitério com ele. Eu sou o primeiro responsável deste presbitério, mas um presbitério não é uma soma de presbíteros, o presbitério é em si mesmo um mistério. Participamos do mesmo e único sacerdócio: Cristo. (A Igreja pode assim aproximar-se das casas das pessoas, sem quebrar a unidade da Diocese à volta do Bispo e do único Presbitério com ele.) A Paróquia, sendo uma opção histórica e pastoral da Igreja, não é apenas uma circunscrição administrativa e repartição funcional da Diocese, mas é a forma histórica privilegiada da localização da Igreja particular. A paróquia é “o núcleo fundamental na vida quotidiana da Diocese” . A Paróquia deve ser uma casa aberta à Esperança.

Oxalá a Catedral seja também modelo de qualquer paróquia da diocese, modelo na liturgia, modelo na arquitetura da liturgia, modelo da celebração da fé. “A comunhão eclesial, embora possua sempre uma dimensão universal, encontra a sua expressão mais imediata e visível na Paróquia: esta é a última localização da Igreja; é, em certo sentido, a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas” . A Igreja não é um movimento, mas uma comunidade que reúne todos os crentes em Cristo sem distinção, para que todos celebrem a sua fé, esperança e caridade. A paróquia é a célula base da Igreja, não é apenas uma divisão administrativa da Diocese, mas um espaço eclesial na qual a Igreja se dá como o todo no fragemento.

Há um autor não crente que escreveu um livro, por estranho que pareça, com o título “Comboio Noturno para Lisboa”, que dedicou uma especial atenção ao que significa a catedral numa cidade. Diz ele: “Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso da sua beleza e da sua transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo. Quero erguer o meu olhar para o brilho dos seus vitrais e deixar-me cegar pelas cores prodigiosas. Preciso do seu esplendor… Preciso do seu silêncio imperioso… Amo as pessoas que rezam. Preciso da sua imagem. Preciso dela contra o veneno insidioso do supérfluo e negligente. Quero ler as poderosas palavras da Bíblia. Preciso da força irreal da sua poesia… Um mundo sem estas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver” .

O grande  monumento contemporâneo de Paris, o Arche del la Défense é superior à Catedral de Notre-Dame, sendo um cubo oco de 112 metros de altura coberto de mármore branco e aberto no centro, apoiado por 12 pilares de 30 metros cada. Tal Cubo propõe-se ser uma janela aberta à esperança e aos direitos humanos.

O Cubo e a Catedral é uma obra interessante de G. Weigel  pergunta-se “qual a cultura que protege melhor os Direitos Humanos, promove o bem comum, defende o legítimo pluralismo e explica os compromissos morais que tornam possível a democracia? A cultura que produziu a racionalista La Grande arche de la Défense? Ou a cultura representada pela catedral que os preponentes de la Grande arche representa, mesmo que visualmente de modo atraente, o aborrecimento metafísico. Fala-nos da política sem Deus; na verdade, celebra a política sem Deus como grande libertadora da humanidade. A sagrada irreguralidade de Notre-Dame, com a sua combinação de pedras imponentes e vidros luminosos, representa, pelo contrário, a abertura do espírito humano ao transcendente – a Deus” .

É isto que representa a catedral de Bragança. 

Termino esta breve reflexão com um texto de Edite Stein, convertida em Santa Teresa Benedita da Cruz:

“Quem és tu, doce luz que me enches

e iluminas as trevas do meu coração?…

És o Mestre da obra,

o construtor da eterna catedral

que se eleva desde a terra ao Céu?

Tu dás vida às suas colunas, que se erguem,

altas e retas, sólidas e imutáveis (Ap 3,12).

Marcadas pelo sinal do Nome divino e eterno,

lançam-se para a luz e suportam a cúpula

que termina e coroa a santa catedral,

a tua obra que abraça o universo inteiro:

o Espírito Santo, Mão criadora de Deus!…

 

És tu o doce cântico do amor

e do sagrado respeito que ressoa sem fim

à volta do trono da Trindade santa (Ap 4,8),

sinfonia em que ecoa

a nota pura dada por cada criatura?

O som harmonioso,

o acorde unânime dos membros e da Cabeça (Ef 4,15),

no qual cada um, no auge da alegria,

descobre o sentido misterioso do seu ser

e o deixa brotar em gritos de júbilo,

livre e participante no seu próprio jorrar:

Espírito Santo eterno júbilo!” 

“Tu és Cristo, filho de Céus Vivo”, que a confissão de Pedro seja a nossa confissão. (…) O altar é Cristo, por isso é que nós o beijamos no início e no final da celebração o incensamos e lhe dedicamos tantas outras formas de adoração. É Cristo que deve ser o sentido da nossa existência. Cristo que dá as chaves a Pedro, podemos dizer dá-lhe as chaves da porta da catedral, mas não lhe dá o rebanho que se reúne dentro da catedral porque esse é de Cristo. Mais tarde, o Evangelho de João Diz: Apascenta as minhas ovelhas, os meus cordeiros, isto é oferece aos grandes e os pequenos… A todos Jesus confia a Pedro, aos apóstolos, ao bispo; confia o rebanho, mas não lhe dá a função de pastor porque essa só Dele pode ser. 

D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda

 

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