Homilia do Bispo do Funchal na Missa Crismal

Configurados com Cristo, para o serviço do Povo de Deus Caríssimos Padres: alegro-me convosco e a todos saúdo gostosamente, por nos encontrarmos aqui, mais uma vez, na Catedral da Diocese, a concelebrar a Sagrada Eucaristia, num dia tão profundamente significativo para nós. É que Quinta-feira Santa é o dia da Eucaristia e do Sacerdócio, o dia por excelência da festa do presbitério e de cada sacerdote. Viestes, em tão grande número, de perto e de longe, numa expressão clara da unidade e da comunhão dos presbíteros com o seu Bispo e entre si. Viestes participar na Bênção dos santos óleos, que levareis convosco e permanecerão nas vossas comunidades, ao longo de todo o ano, como elementos de referência à unidade da pastoral diocesana. Gerados na comunhão do presbitério e tomados na celebração dos sacramentos, assim se afirma, também, de forma simbólica, a nossa comunhão. Disto mesmo são testemunhas os membros dos institutos de vida consagrada e os leigos, que nos acompanham nesta Eucaristia e no transporte respeitoso dos óleos santos para cada paróquia. Configurados com Cristo Sacerdote O texto do profeta Isaías, de sublime beleza e profundidade teológica, que acabámos de escutar, na primeira leitura, expressa a grande alegria do Povo de Deus, pela presença do Ungido do Senhor que vem, cheio do Espírito Santo, com uma missão específica e libertadora: “anunciar a Boa Nova aos pobres, curar os corações atribulados e proclamar a redenção dos cativos e a liberdade aos prisioneiros” (Is 61, 1-2). A salvação de Deus é integral, envolve o homem todo: física e espiritualmente. Jesus Cristo, o Ungido do Senhor por excelência, é a plenitude da Revelação e, n’Ele, a Escritura e a Humanidade encontram a verdadeira Luz e a sua plena realização. Cristo, o Verbo eterno do Pai, continua a sua missão, incarnando no hoje da história, na Palavra, nos sacramentos e nos seus discípulos, ungidos pelo Espírito Santo, para o serviço e edificação da Igreja e da comunidade humana. O Sacramento da Ordem, instituído por Jesus na última Ceia, perpetua a presença de Cristo no meio do Seu Povo. Chamado por Jesus, pelo próprio nome, para estar sempre com Ele e ser enviado em missão (cf. Mc 3,14), o sacerdote privilegia o encontro pessoal com Ele na oração, para testemunhar e aceitar com alegria e renovado entusiasmo a lógica da sabedoria da Cruz até às últimas consequências. O desafio da santidade A espiritualidade sacerdotal nutre-se da intimidade habitual com Cristo, potenciada com o Pão da Palavra, da Eucaristia e do amor fraterno. O sacerdote não pode desligar-se da Fonte da Vida com risco de perder-se no vazio das noites de pescas inúteis, no mar da história (cf. Lc 5,5). A santidade é, assim, o principal desafio da pastoral na modernidade, pois a autenticidade do testemunho é sempre contagiante. Caros sacerdotes, os trabalhos do Evangelho e a vossa caridade pastoral são motivo de grande alegria, mas, por vezes, também causa de sofrimentos, porque as iniciativas, os esforços e a doação à comunidade nem sempre encontram ressonância e até pode parecer infrutífera a vossa acção pastoral. Sentindo convosco, a minha palavra só pode ser esta: Coragem! Continuai a semear a Palavra da Vida, “a tempo e fora de tempo”, como dizia S. Paulo, e sem complexos e inibições, apenas animados pela consciência da missão assumida. O sacerdote, porque ungido pelo Espírito Santo, é convidado a ser Evangelho vivo: mestre da Palavra, ministro dos sacramentos e guia da comunidade eclesial. A caridade pastoral que o anima não pode confinar-se ao número restrito dos fiéis da sua comunidade. Deverá abrir-se, sim, a todo o rebanho, em amplo regaço de acolhimento e misericórdia, à semelhança de Cristo, o Bom Pastor, que deixa as noventa e nove ovelhas e vai à procura daquela que se distanciou, e imitando a audácia profética de Paulo de Tarso que, movido pela paixão por um profundo amor a Cristo, ousou anunciar o Evangelho no Areópago de Atenas. Memória pessoal e gratidão Neste dia de acção de graças, renovamos juntos as promessas sacerdotais e reafirmamos a certeza de que, confiados na graça do Senhor, continuaremos a dizer “SIM” a Cristo Sacerdote e a trabalhar com alegria na Sua vinha. Como S. Paulo, podemos dizer: “Eu sei em quem pus a minha confiança” (2Tim 1,12). Também fazemos memória da história de Deus com cada um de nós, quando nos seduziu e convidou a segui-Lo, marcando-nos com o inestimável selo do Espírito pelo Sacramento da Ordem. Na Ordenação Sacerdotal, lembra o Concílio Vaticano II, os sacerdotes são “assinalados com um carácter especial”, recebem a força do Espírito Santo que os habilita a “agir na pessoa de Cristo, cabeça” (Presbyterorum Ordinis, nº 2). Como é bom recordar, em Eucaristia, o inesquecível dia da nossa ordenação sacerdotal! Aquele “Vinde Ver”, no eterno agora da vida, de permeio com as alegrias, esperanças e sofrimentos, próprias do percurso e dinamismo de uma Igreja viva, lança-nos desafios pastorais constantes e sempre de maior exigência. Disponíveis e reconhecidos, cantemos para sempre a Bondade do Senhor! A cada um dos sacerdotes da nossa Diocese, o meu sincero obrigado pelo serviço pastoral que realizais comigo, vosso Bispo, em comunhão eclesial. Partilho convosco dos sentimentos de S. Paulo, prisioneiro por amor de Cristo: “Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus” (2ª Tim 1, 8). Aos leigos e a todos os membros dos Institutos de Vida Consagrada da nossa comunidade diocesana, peço que ameis os vossos padres, que rezeis por eles e os ajudeis no exercício do seu ministério. Rezai também pelo nosso Seminário e por todas as Vocações de especial consagração. E a propósito do nosso Seminário, recordo que temos actualmente 23 Seminaristas e cerca de 40/45 adolescentes e jovens a frequentar o Pré-Seminário. Apraz-me, também, lembrar que no próximo dia 18 de Abril, sábado, teremos, nesta Catedral, a celebração das instituições de três Leitores e um Acólito, de entre os nossos Seminaristas do 4º e 5º anos de Teologia, que frequentam o Seminário dos Olivais, em Lisboa. Constituirá mais um momento de muita alegria e esperança para a nossa Diocese, pois trata-se de um passo importante na caminhada daqueles jovens para o Sacerdócio. S. Paulo, modelo do evangelizador O Jubileu do Ano Paulino tem sido para toda a Igreja fonte de inesgotável sabedoria divina, que ilumina e fortalece a fé e a caridade do Povo de Deus. Na nossa Diocese, as jornadas, os retiros e outras actividades sobre S. Paulo, como percurso formativo na teologia Paulina, têm contribuído largamente, para um maior conhecimento da vida e do rico património espiritual das suas cartas. Nestas encontramos o clamor de uma ardente paixão por Cristo, pelo Evangelho e pela Igreja. Continuam, ainda hoje, a falar ao coração do homem, às diferentes culturas, espaços e regiões. As dificuldades pastorais que Paulo teve de enfrentar nas comunidades por ele fundadas, são semelhantes às nossas, no contexto peculiar do tempo actual: evangelizar, corrigir abusos, fortalecer no amor e na esperança os irmãos desanimados, alertar para os perigos, convidar à partilha dos bens, etc. A sua entrega total a Cristo fê-lo aceitar os desafios do Evangelho, com fortaleza e audácia, até selar com o próprio sangue o amor que o consumia por Jesus. Modelo de evangelizador para todos os tempos, o seu grito profético continua a ressoar na Igreja e no mundo: “Ai de mim se não evangelizar!” (1 Cor 9, 16). Paulo de Tarso continua a ser, para cada sacerdote, inspirador nos novos caminhos da Evangelização, neste tempo de procura, mas tão carente de Essencial. Com ele, queremos percorrer as estradas do mundo, lendo os sinais dos tempos, procurando discernir as sementes do Reino e escutando o Senhor Ressuscitado, o Rosto resplandecente da Palavra, que nos faz “arder o coração” e reconhecê-Lo na fracção do Pão, no rosto dos irmãos e nos eventos da história. A encerrar o Ano Paulino, teremos, conforme foi anunciado, na Paróquia de São Paulo – Ribeira Brava, no dia 28 de Junho, domingo, uma grande celebração diocesana. Para ela peço uma especial atenção e cuidado de todos os Sacerdotes, estimulando a participação das respectivas comunidades e grupos, para que aquela celebração constitua, de facto, um acontecimento de forte expressão eclesial. Ano sacerdotal Por ocasião dos 150 anos da morte do Santo Cura d’Ars, o humilde sacerdote francês, exemplo de autêntico Pastor, o Santo Padre anunciou a convocação de um “ano sacerdotal” especial, de 19 de Junho de 2009 a 19 de Junho de 2010, que terá como tema: “Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”. O objectivo deste ano, diz o Papa, é “ajudar a perceber cada vez mais a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade contemporânea”. Ao longo do ano, serão promovidas, em toda a Igreja e também aqui na nossa Diocese, várias iniciativas de ordem espiritual e pastoral, incentivando a formação permanente dos sacerdotes e proporcionando-lhes os apoios necessários para uma vida de crescente fidelidade à missão. Durante este Ano jubilar, Bento XVI proclamará São João Maria Vianney “Padroeiro de todos os sacerdotes do mundo”. Em louvor e acção de graças Caríssimos Padres, a concluir quero recordar e felicitar, desde já, com cordial afecto e sincera gratidão, os presbíteros que, neste ano de 2009, celebram jubileus de ordenação sacerdotal: 50 anos (Bodas de Ouro) dos Rev.dos Padres Cón. António Rodrigues Rebola, Isidro Rodrigues, José Teixeira Marques e Rafael Maria Andrade, todos eles ordenados em 15 de Agosto de 1959; e 25 anos (Bodas de Prata) do Rev. P. João de Freitas Mendonça, ordenado no dia 21 de Julho de 1984. Sem prejuízo das celebrações comemorativas próprias, procuraremos assegurar, tal como no ano passado, uma celebração conjunta diocesana de acção de graças. No mesmo espírito de comunhão do presbitério, rezamos pelos sacerdotes doentes e damos graças a Deus pela vida e ministério dos Rev. dos Padres Agostinho João Cardoso e João Ferreira, falecidos no último ano. Que Deus os tenha na Sua Glória! Súplica a Maria A Maria dirigimos, por fim, a nossa prece: Mãe de Cristo e Mãe dos Sacerdotes, Estrela da nova evangelização, guiai-nos, para que seguindo o exemplo do vosso amor e disponibilidade, saibamos ser pastores autênticos daqueles que nos estão confiados. Dai-nos força nas horas escuras da vida e nos momentos de maior cansaço do nosso ministério, para que possamos exercê-lo com fidelidade e amor! Rainha dos Apóstolos, Auxílio dos Presbíteros, rogai por nós! Funchal, 09 de Abril de 2009 † António Carrilho, Bispo

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Agência ECCLESIA

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