Homilia do Bispo de Viseu na Missa do Galo

Silêncio! Escutemos a Palavra

 «Muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por Seu Filho». Filho que é Deus e está com Deus desde o princípio e, desde o princípio, Ele é a Palavra de Deus, o Verbo, o que torna real, visível e activo o que Deus é, o que Deus pensa, o que Deus diz, o que Deus faz. Por isso, o Filho de Deus não somente é a Palavra (o Verbo), mas toma um corpo para ser Deus no homem, tornando-se visível, actuante e vivo em cada homem que vem a este mundo. Assim, cada homem ou mulher é divino, é expressão da Palavra de Deus (do Verbo) e é a visibilidade de Deus, de modo que o que fizermos ao mais pequenino ou ao mais simples – a quem quer que seja – é a Deus que o fazemos – seja bem, seja mal.

         A segunda leitura, de S. Paulo, fala-nos da actividade de Deus que, pelo Verbo, vai realizando e levando à perfeição toda a História da Salvação: Ele criou o universo; Ele sustenta tudo com a Sua Palavra; Ele fez e faz a purificação dos nossos pecados; Ele foi para junto de Deus; Ele está connosco na Eucaristia, na Palavra, nos Sacramentos, nos irmãos, nos inúmeros sinais da Sua presença… Deus, através do Verbo – Seu Filho e nosso Irmão – é o Autor, o Sujeito e o Protagonista de tudo o que se realiza. Como descreve o Evangelho de S. João, Ele é o Criador, é a Vida, é a Luz, é a Graça e a Verdade. Ele sustenta todas as coisas e dá a sugestão e a força para que tudo ponhamos em prática…

         Foi este Verbo, Palavra e Filho de Deus que veio montar a Sua tenda no meio de nós, no Natal e que nos revelou toda esta actividade de Deus. Por tudo isto, nós não podemos passar sem o Natal. O Natal é a promessa e a garantia de tudo o que cada homem ou mulher pode desejar… Desejando e procurando sozinho, fora de Deus, o homem ou a mulher nunca atinge os seus grandes ideais e nunca conhece a profundidade da verdade e da ciência sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre as coisas. A fonte e a revelação do mistério da vida e do bem e do mal estão em Deus e nunca o homem se tornará senhor dos mistérios profundos da existência. A ciência do homem, por mais que ele procure e avance, encontra sempre limites intransponíveis que ficarão sempre vedados a toda a ciência e a qualquer tecnologia e o confrontam com algo que está sempre para além e nunca chega a atingir nem a conhecer. Quando o quis fazer, no Paraíso Terrestre, querendo tornar-se dominador da ciência do bem e do mal, desobedecendo a Deus, perdeu a inocência, revelou-se-lhe toda a sua nudez e foi expulso do paraíso. Com o Natal, Jesus Cristo recuperou-nos o direito ao Paraíso na nova criação. Não desaproveitemos a graça, não estraguemos o Natal!…

Quando ouvimos o que nos é relatado no Evangelho de hoje, de que os contemporâneos do Verbo não O receberam e preferiram as trevas, a morte, o egoísmo, a ignorância… nós interrogamo-nos – como foi possível tanta cegueira?… Porém, quando hoje os homens continuam a fechar-se à verdade, à luz, ao amor, à fraternidade, aos irmãos e quando persistem em esquecer e marginalizar Deus, tirando-o da cultura, escondendo os símbolos, tentando expulsá-lo da família, da escola, da educação, da vida… não nos podemos admirar do erro e da crise, do sofrimento e da injustiça que grassam no nosso mundo – cegueira maior do que há 2000 anos! …

O Natal é a nova oportunidade do homem, da mulher e da humanidade se encontrarem com Deus, com os outros e consigo mesmos. É a nova oportunidade de humanizarmos a vida e de reencontrarmos o Paraíso perdido… Não tenhamos medo de Deus e do Natal!… Não tenhamos medo do Verbo que vem montar a Sua tenda no meio de nós para viver connosco!… Não receemos o lugar que Ele quer ocupar na nossa vida e na vida dos homens e dos povos!… Não tenhamos medo dos símbolos que O mostram e que falam d’Ele, nem dos valores da cultura que o Seu Natal anuncia e defende!…

Como estamos a viver na nossa Diocese, Jesus Cristo é a Boa Nova que anuncia e faz um Mundo Novo… Quem adere e escuta esta Boa Nova torna-se árvore que dá fruto… A árvore com fruto torna-se fonte de vida, de luz e de paz…

A 1ª leitura faz apelo à necessidade de pessoas que anunciem o Natal e que como mensageiros, proclamem a todos as boas novas que o Verbo veio revelar com a Sua Palavra. Faz também apelo a sentinelas cujo papel é estar atento, vigiar no perigo, guardar e defender os bens que se estimam e manifestar alegria pelo bem, pela segurança e pela felicidade de todos…

Precisam-se mensageiros e sentinelas no mundo de hoje: na família, na escola, na educação, nos hospitais, na cultura, na política, na economia, na Igreja, nas Comunidades Cristãs, nas relações entre os homens e entre os povos! … Precisam-se mensageiros que anunciem valores e boas novas e precisam-se sentinelas que promovam, defendam e realizem os valores que ajudem a construir um mundo justo, um mundo solidário, um mundo de paz, um mundo feliz!…

Precisamos de escutar o Verbo!… Façamos silêncio e escutemos a Sua Palavra!…

Glória a Deus nas Alturas!… Santo Natal e Boas Festas a todos os homens e a todas as mulheres de boa vontade!…

Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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