Homilia do bispo de Viseu na Celebração da Paixão do Senhor

“Quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim”. Esta atração que a Cruz exerce em nós, não é para nos conduzir ao abismo. É para nos chamar à plenitude da realização pois, na morte cristã, encontramos a força para a transformação radical no encontro da plenitude da vida, em Jesus Ressuscitado.  

A 1ª leitura descreve este desconcerto perante a Cruz, a dor e a morte. Jesus Cristo assumiu todas as consequências das nossas misérias, dos nossos erros. Ofereceu a Sua vida como sacrifício de expiação. Foi eliminado por sentença iníqua. Terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado na Sua sabedoria. Receberá as nações como prémio, porque Ele próprio entregou a Sua vida à morte e chamou a Si as culpas da multidão.

Então, diz a epístola aos Hebreus: “tendo nós um sumo-sacerdote que penetrou nos céus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé”. “Vamos, portanto, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia”, pois, Ele “tornou-Se, para os que Lhe obedecem, causa de salvação eterna”.

A partir daqui, o Evangelho da Paixão é claro, na determinação com que Se entrega na Sua vocação ao Amor: “A quem buscais?” – Pergunta, com serenidade, de cara levantada e fixando os que O enfrentam. “Sou Eu”, adianta Jesus, repetindo a oferta da Sua vida por Amor, dando-Se a todos, aos próprios que O entregam e crucificam.

E entra em ação o poder das trevas. Poder transitório, marcado pela fraqueza e inconsistência. É por medo que Pilatos O entrega e condena-O sem ter encontrado culpa alguma – será, portanto, um poder caduco e fracassado… até à consumação da obra das trevas… Um poder limitado e sem horizontes, para lá da satisfação terrena e mesquinha dos próprios interesses e das próprias ambições.

E ouve-se o grito de Jesus: “Tudo está consumado”, quer dizer, tudo está realizado como o previsto por Deus, no dealbar da criação, quando prometeu a Redenção. Tudo está realizado pelo Amor que Se entregou e Se ofereceu em substituição dos verdadeiros culpados…

E a Cruz atrai a si todos os que entram e acolhem a vocação ao Amor: logo o Cireneu que aceita levar a Cruz; as mulheres que, muito a medo e talvez condoídas, exercem a sua profissão; o bom ladrão que, na Cruz, reconhece o Salvador; o centurião que, finalmente, abre os olhos para reconhecer que Ele era justo; o próprio José de Arimateia e Nicodemos, amigos na sombra por medo dos judeus, aparecem, no momento da Cruz… Finalmente, a multidão regressa a casa batendo no peito, ao ver o que se passava… Depois, é toda a multidão incontável, ao longo dos tempos, onde nos incluímos, hoje, todos nós…

Viemos e estamos aqui como seguidores da Cruz. Não de uma Cruz de fracasso, mas de uma Cruz que é a vitória do Amor. Viemos e estamos aqui como seguidores do Crucificado. Não um crucificado morto e enterrado, mas um crucificado por Amor e que voltou à vida. Está vivo e ressuscitado e caminha connosco. É Ele Quem nos dá o sentido da Cruz, da morte e da vida. É Ele Quem nos chama à vocação à Vida e ao Amor. É Ele Quem nos diz que a Vida tem sentido quando conseguimos ver, na Cruz e na morte, a outra face – o Amor, a Ressurreição, a Vida.

Precisamos de viver a Sexta-feira Santa percebendo bem a causa da morte de Jesus. Ele morreu por Amor, pela Verdade e pelo Reino. Reino que é Amor, Vida, Verdade, Justiça, Solidariedade, Santidade, Graça, Paz. Reino que, outrora como hoje, tantas vezes e de tantos modos, não é aceite e respeitado.

Se o sangue de mártires é semente de cristãos; o sangue de Deus feito Homem por Amor, é semente de filhos de Deus, regenerados e purificados; novas criaturas, chamadas ao Amor.

6ª-feira Santa – Hora de Jesus – Hora de decisão na escolha de quem vale a pena seguir para encontrar a Vida. Na Cruz de Jesus, encontramos o Amor do Ressuscitado, ainda que, para O seguir, tenhamos que tomar a cruz de cada dia. Na nossa cruz, levada no seguimento de Jesus, encontramos a dor, o sofrimento, a morte. Porém, encontramos, também, o Amor do Ressuscitado, a vitória da Vida. A nossa Fé assenta na Cruz, da vitória e do Amor, no Sepulcro Vazio, no Crucificado que Ressuscita, na certeza da vida para além da morte, na glória e na eternidade na Casa do Pai. Jesus, creio em Ti. Tu és o Filho de Deus. Nós Te bendizemos. Na Cruz, salvas todos nós. AMEN!

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