Homilia do Bispo de Viseu na celebração da Ceia do Senhor

Compreendeis o que vos fiz? Começamos, com esta celebração, a viver o Tríduo Pascal de 2009. Também hoje, o Senhor quer passar na nossa vida e viver, connosco, a Festa da Páscoa. Sempre que a celebramos, anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha. Celebrar a Páscoa é, pois, viver e anunciar a Esperança e aceitar viver e construir um futuro novo que o Senhor anuncia. Celebrar a Páscoa é querer vivê-la em cada Domingo; é ter a certeza do reencontro; é acreditar que a Palavra e o Pão, tornados alimentos de vida eterna, realizam o que significam e concretizam o que anunciam. O essencial da celebração pascal e de todos os momentos vividos nestes dias está na pergunta que nos faz Jesus, depois de lavar os pés aos discípulos. Voltando-se para eles e hoje para todos nós, Jesus pergunta de forma solene: “Compreendeis o que vos fiz?” Jesus sabe que não é fácil entender tantas coisas e coisas tão grandes e tão profundas, vividas e ensinadas em tão pouco tempo, misturadas com uma carga tão intensa de despedida, de saudade, de entrega. Os mistérios são enormes e insondáveis: Jesus feito Pão partido para a vida do mundo – a instituição da Eucaristia; o lava-pés e a oferta da Sua vida – a proclamação do Mandamento Novo; a entrega da Eucaristia e dos Sacramentos à Igreja para os homens de todos os tempos – a instituição do Sacerdócio. Eucaristia, Mandamento Novo, Sacerdócio. São estes 3 mistérios que preenchem esta tarde de Quinta-feira Santa e que constituem o centro da Páscoa, numa oferta de amor sem limites e sem igual – uma oferta que só pode ser divina. Estes são gestos e atitudes que importa compreender, para que aprendamos a lição do Mestre e os realizemos também. Para tornar mais fácil a lição e não a esquecermos na vida, Jesus concentra todo o programa desta aula e todos os Seus ensinamentos no gesto do lava-pés, como nos explica S. João no Evangelho de hoje. Lavar os pés aos outros e compreender o seu significado basta para nos levar a servir as grandes causas da fraternidade, da paz, da verdade, da justiça, do amor. Concretiza-se, pondo em primeiro lugar os irmãos. Exige servir, deixando os nossos direitos pessoais nas mãos de quem servimos e tornando-os nossos avaliadores e juízes. O lava-pés fica, assim, como o ícone da Eucaristia, do Sacerdócio e do Mandamento do Amor. É a grandeza da Páscoa e, ainda mais, é a grandeza da Eucaristia, entregue à Igreja para ser tornada Páscoa e Mistério Pascal pela acção mediadora do Sacerdote. É o mistério da Assembleia reunida, cada Domingo, em nome de Jesus, para escutar a Palavra da novidade pascal e para celebrar a vida da eternidade prometida e esperada. É o mistério infinito do amor que Se entrega e que Se dá, sem medida, para a vida e felicidade de cada pessoa humana. É o mistério profundíssimo do amor de Deus que Se renova nas mãos humanas sacerdotais, para Se dar a todos, sem distinção e somente porque nos ama e nos quer oferecer um acesso simples para todos. Por tudo isto, celebrar a Páscoa cada Domingo é dar visibilidade e mostrar as provas da Fé de quem se diz cristão e que, depois – nas opções, nas atitudes, nas decisões e nos actos da vida – traduz toda a coerência da adesão e do seguimento de Jesus Cristo. Quinta-feira Santa – dia de acção de graças; dia de intimidade orante; dia de amor partilhado, sem medida e sem fronteiras; dia de escuta agradecida; dia de memória feliz e reconciliada. Graças e louvores se dêem a todo o momento – ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento, presente na Eucaristia. AMEN!… Ilídio, bispo de Viseu

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