Homilia do bispo de Santarém no Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor

Irmãos e irmãs

“Este é o dia que fez o Senhor: exultemos e cantemos de alegria”.

É o Domingo da Páscoa do Senhor, origem de todos os domingos. Cristo é a nossa Páscoa, é n’Ele e por Ele que participamos da vida de Deus. É bom que estejamos espiritualmente alegres, contentes por acreditarmos e nos reconhecermos amados por Deus, atingidos pela graça da Ressurreição do Senhor. Porém, precisamos de vigilância. Estes dias da Semana Santa e celebração do Tríduo Pascal, mesmo com confinamentos, para muitos cristãos são dias de muito trabalho. E o cansaço rouba-nos a boa disposição.

Saboreemos alguns pormenores das Leituras da Palavra de Deus, todas do Novo Testamento. O ‘pano de fundo’ é a paixão e morte de Jesus na cruz, a sua sepultura e Ressurreição. Para alguns responsáveis da sociedade, a morte de Jesus era a solução para calar a sua mensagem e acabar com a sua influência junto dos mais pobres. No Evangelho que escutámos, segundo São João, o centro da narrativa é o sepulcro onde Jesus foi sepultado, encontrado vazio.

Para Maria Madalena, a primeira a ir ao sepulcro pela manhã do primeiro dia da semana, o seu primeiro pensamento foi tratar-se de um roubo do cadáver de Jesus: “Levaram o Senhor do Sepulcro e não sabemos onde o puseram”. Os apóstolos, Pedro e João, correm para o sepulcro; viram o sepulcro vazio e os sinais associados à sepultura; as ligaduras e o lençol. João diz que viu e acreditou, mas concluiu que na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

Os Apóstolos, de início, tiveram dificuldades em entender a ressurreição e medo a falar do assunto. Tiveram a ajuda de Jesus Ressuscitado, que lhes apareceu, para entenderem a ressurreição, não apenas como um voltar a viver como antes, mas passar a ter a vida de Deus, junto do Pai, onde o seu corpo humano também se encontra. Aliás não há nenhum elemento que informe acerca do corpo de Jesus a não ser o lençol, o santo sudário, cujas conclusões de investigação afirmam tratar-se de um fenómeno único.

Na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, o apóstolo Pedro faz uma síntese da vida de Jesus, onde confessa que Jesus ressuscitou, apareceu aos apóstolos e mandou-os pregar ao povo que tinha sido constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. (…) e que quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome o perdão dos pecados. Portanto, trata-se de uma afirmação segura em que as dificuldades de aceitação da ressurreição estavam superadas. A pregação de Pedro, indicia já a experiência de uma comunidade cristã a viver à luz da Fé.

Na segunda leitura, São Paulo escreve a uma comunidade cristã, aos colossenses, exortando-os a manterem-se na fidelidade ao batismo recebido: Se ressuscitastes com Cristo aspirai às coisas do alto. Para São Paulo, não há ressurreição sem haver morte. Isto é: não é fácil ser cristão. É um desafio permanente. Porque para ser cristão é necessário ‘morrer’; é necessário renunciar, superar egoísmos e dizer não a muita coisa mundana que lhe é sugerido.

Os cristãos vivem no mundo, como todas as outras pessoas, mas pertencem ao céu e, por isso são exortados a ter critérios de vida, próprios de acordo com a Fé que professam. Pertencer ao céu não significa uma vida com desinteresse pelo mundo, antes pelo contrário. Temos na Igreja, uma riqueza enorme de Doutrina Social que nos ajuda a refletir e a ter princípios  para bem nos interessarmos pelo mundo, pelas pessoas e pela sociedade em que vivemos.

Pela frente temos o Tempo Pascal, cinquenta dias para celebrarmos a Páscoa e darmos testemunho. Se até aqui, o desafio foi a caminhada quaresmal para preparar a Páscoa. Agora, o desafio é o Tempo pascal como tempo oportuno e privilegiado para testemunhar a vida nova que Jesus promoveu com a sua Ressurreição. Como vamos traduzir a Páscoa na vida concreta? Que iniciativas extraordinárias podemos ter?

Para que se tenha força para um testemunho de Fé, indico quatro palavras como referência: oração, alegria, humildade e coragem. São palavras que bem encontramos no testemunho de Nossa Senhora. Que ela nos acompanhe como sempre acompanhou os discípulos de seu Filho.

D. José Traquina

Bispo de Santarém

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