Homilia do bispo de Bragança-Miranda no Domingo de Páscoa

Páscoa sempre nova

Foto: Secretariado das Comunicações Sociais de Bragança-Miranda

Ressuscitar com Cristo

Todos os anos, a segunda leitura da missa do dia da Páscoa da Ressurreição propõe o princípio da vida nova: «Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus» (Col 3,1).

Nesta extraordinária afirmação está todo o mistério da existência cristã. A ressurreição não é o retorno à vida do que estava morto, como aconteceu com Lázaro e com o filho da viúva de Naim. A ressurreição é a passagem da condição mortal à condição imortal. Por isso, «A fé na ressurreição é o coração do cristianismo. (…) A ressurreição é a exaltação da humanidade. (…) Juntamente com Cristo, uma parte da nossa humanidade foi já exaltada no profundo de Deus. Cristo é, assim diz a carta aos Hebreus, como uma âncora atirada não já na profundidade do mar, mas nas alturas do céu» (J. Daniélou). Não sabemos como ocorreu, mas a ressurreição é um facto real que aconteceu na história.

O que a Igreja pede aos pastores e aos teólogos é para não se anunciarem nas suas ideias, mas que anunciemos a Jesus Cristo, nossa Páscoa. Na verdade, «A nossa Páscoa é sempre nova» (S. Gregório Nazianzeno).

 

O sepulcro aberto e vazio

Os quatro evangelistas concordam que depois do sábado, no primeiro dia da semana, algumas mulheres foram ao sepulcro onde tinham sepultado Jesus. João menciona só Maria Madalena (Jo 20, 1-2), subentendendo-se um grupo; os outros evangelistas referem-se a um grupo de mulheres: Mateus referencia Maria Madalena e a outra Maria “mãe de Tiago?” (Mt 28,1); Marcos alude a Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé; Lucas indica Maria Madalena, Joana e Maria, Mãe de Tiago, e outras que estavam com elas (Lc 24, 10).

Maria Madalena está presente em todas as narrativas, concedendo-lhe assim uma função decisiva como a “Apóstola dos Apóstolos”. As mulheres estão em primeira ação nos caminhos da missão.

Igualmente é dado comum nos evangelhos a mediação dos Anjos na proclamação da ressurreição de Jesus: em João «dois anjos em vestes brancas, sentados um à cabeceira e outro aos pés do lugar onde tinha sido deposto o corpo de Jesus» (Jo 20, 12); em Mateus é «um anjo do Senhor, descendo do céu e aproximando-se, rolou a pedra e sentou-se em cima dela. O seu aspeto era como um relâmpago e a sua roupa branca como a neve» (Mt 28, 2-3); em Marcos «um jovem sentado ao lado direito, revestido com uma longa veste branca» (Mc 16, 5); em Lucas «uns anjos que dizem que Ele está vivo» (Lc 24, 23).

Os Anjos são os mensageiros de Deus. Aqui a sua missão é de anunciadores da ressurreição.

 

Ver e acreditar

Há uma célebre pintura a óleo de Eugène Burnand (1850-1921) que nos mostra Pedro e João que correm ao sepulcro na manhã da ressurreição. João vai à ferente e chega primeiro, mas espera por Pedro, a quem reconhece a primazia. Pedro «viu» (Jo 20, 6). João «viu e acreditou» (Jo 20, 8), pois já tinha entendido as Escrituras.

Seja como for, faltava o “ainda não”, como conclui o texto proclamado: «Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos» (Jo 20, 9). As Escrituras são o a chave para interpretar e acolher a fé na ressurreição. Sem o entendimento da Escritura não se acredita. Mas sem ver podemos acreditar. A Igreja acredita através das Escrituras e do testemunho dos que viram.

Jesus ressuscitado manifesta-se através de sinais: as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus. O túmulo vazio e aberto, por si mesmo, não é prova da ressurreição. É necessário entrar em contacto com os sinais para experimentar o encontro com o Ressuscitado.

A Liturgia da Igreja vive de sinais, os sacramentos da Páscoa. O mistério continua aberto. É o que diz claramente Santo Agostinho: «Portanto, irmãos, estes são chamados sacramentos porque neles uma coisa é o que se vê, uma outra coisa é o que se compreende. O que se vê tem um aspeto material, o que se compreende tem um fruto espiritual».

Ainda há lugar para uma Páscoa de esperança?

Celebrar a Páscoa não é apenas narrar a experiência das mulheres e dos Apóstolos, mas compreender a sua peregrinação para acreditar em Jesus Cristo e proclamar que Ele está vivo na nossa história atribulada e, ao mesmo tempo, carregada de Esperança.

Destacamos a Mensagem da Conferência Episcopal Portuguesa – A Esperança da Páscoa – ao afirmar: «É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus Cristo vivo, a transformar e a renovar o mundo. (…) Para todos existe a possibilidade de reencontrar a esperança, porque Cristo é a nossa Páscoa (cf. 1Coríntios 5,7) e a nossa paz. A fé, a esperança e a caridade que nascem e renascem da Páscoa frutificam, quando nos tornam mais irmãos e cidadãos mais ativos para se realizar a justiça e a paz, o perdão e o amor».

 

A fé da Igreja nasce da Liturgia de nascente, Jesus Cristo Páscoa sempre nova.

Com a Senhora Mãe da Alegria e com o Admirável São José vivamos em Aleluia!

Bragança, 4 de abril de 2021

D. José Manuel Cordeiro

Bispo de Bragança-Miranda

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