Homilia do bispo de Bragança-Miranda na concatedral de Miranda do Douro

É com profunda grande alegria que estou em Miranda do Douro a celebrar convosco a Eucaristia neste Domingo, na oitava da ordenação episcopal e início do ministério pastoral na nossa amada Diocese. Vir a Miranda é voltar às fontes da nossa identidade eclesial e cultural. Aqui nasceu em 22 de maio de 1545 a Diocese que somos. Queremos também recordar que há 445 anos foi dedicada esta casa de oração, hoje com todas as honras de concatedral da Diocese, com a sagração do Altar-mor a 6 de abril de 1566.

  1. «Tudo posso n’Aquele que me conforta». Esta palavra de S. Paulo que escutamos na segunda leitura, leva-nos a evocar um grande Bispo da nossa Diocese e oriundo de Miranda Do Douro, D. Abílio Vaz das Neves, porque foi o lema escolhido por ele para o seu brasão e orientação da vida episcopal.
  2. «Convidai para as bodas todos os que encontrardes» – Evangelho

Tudo começa com um convite. Universalidade da salvação.

O banquete – símbolo da festa e da alegria de Deus connosco

Nesta parábola, alguns elementos chamam a nossa especial atenção: em primeiro lugar vemos uma sala vazia, preparada para uma festa onde ninguém participa, depois é o primado do dom, ao início um Deus não escutado e ignorado que sonha uma festa com pessoas felizes. Deus celebra o rito da amizade: «Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes».

Deus da sala vazia, Deus das igrejas vazias, do pão e do vinho que ninguém quer. Todavia Deus convida, não obriga. Ele convida não ao trabalho e canseira da vinha, mas da festa. Deus não se desencoraja, encontra sempre novas possibilidades. Deus não quer gente serva, mas que o deixem servir na alegria das núpcias.

Deus não se merece, Deus acolhe-se: «Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados».

A parábola termina com um drama, o drama da veste nupcial. Aquele homem não era pior que os outros, mas enganou-se acerca do rei. Não acredita que fosse possível a um rei convidar um pobre. O rei não dá só pede, terá pensado. «Enganar-se sobre Deus é um drama, é a coisa pior que nos pode acontecer, porque enganamo-nos sobre o mundo, sobre a história, sobre o homem e sobre nós próprios. Enganamos a vida» (David M. Turoldo).

O que é o hábito nupcial? É Cristo, «revesti-vos de Cristo», exorta S. Paulo. Por Cristo, com Cristo, em Cristo – Doxologia final – passar a vida a vestir-se e a revestir-se de Cristo, dos seus gestos e dos seus dons.

 

Ad docendum Christi Mysteria.A vida em Cristo

  1. A vida em Cristo não se ensina, aprende-se e experimenta-se. À pergunta dos discípulos «onde moras?» Jesus responde «vinde e vede» (Jo 1, 38-39). Esta resposta do Mestre continua a ser um convite permanente para a comunicação plena e o seguimento definitivo de Cristo.

Alguns imaginam Cristo como o sacramento da salvação de todas as pessoas, mas que está “lá em cima”, e depois a Igreja, outro sacramento, como estando “cá em baixo”, e, por fim, os sete sacramentos da Igreja, realizados de vez em quando. A vida em Cristo é a finalidade da nossa oração e da nossa fé. «A vida em Cristo», uma expressão usada com frequência nas cartas paulinas (Fil, 21), tem início na vida presente e será perfeita na vida futura. É Cristo que se une aos homens pelos mistérios, comunicando a vida nova.

Caros Armanos i Armanas

Pra acabar, deixai que bos fale na buossa lhéngua mirandesa; perdonai-me se nun la sei falar tan bien cumo bós.

La nobidade de l Eibangeilho renuobe l nuosso coraçon pa ls zafios que siempre la bida mos pon.

L Papa Bento XVI lhembrou-lo hai mui pouco tiempo: « Todos mos damos de cuonta de cumo ye tan perciso que la lhuç de Cristo alhumbre cada rincon de l’houmanidade: la família, la scuola, la cultura, l trabalho, l tiempo lhibre i ls outros campos de la bida social. Num se trata d’anunciar ua palabra que mos pon a drumir, mas que mos spechuca, que chama a la cumberson, que torna possible l  ancuontro cun El, por quien renace ua nuoba houmanidade».

Santa Maria Maior, a quien ye dedicada esta tan guapa casa de Dius, anterceda por todos i mos amostre l caminho pa l Mistério de Cristo; que sou Nino, l de la Cartolica, seia l defensor  de las populaçones an todas las oucasiones defíceles; que El, cun sue Santíssema Mai, mos ancoraije a todos para sermos buonos guardianos i teçtemunhas de la fê crestana que nuossos pais mos  trasmitírun i que muito cuntribui pa l porgresso de la nuossa tierra, de las sues gientes i de la sue cultura.

D. José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança – Miranda

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