Homilia do Bispo de Aveiro no I Domingo do Advento. Ordenação diaconal

1. Iniciámos este primeiro domingo de Advento nas nossas paróquias e comunidades cristãs da Diocese. Em assembleia dominical com a comunidade cristã reunida para celebrar a Eucaristia fizemos em cada paróquia o lançamento da II.ª Etapa Pastoral do Plano Diocesano que nos guia e mobiliza ao longo de cinco anos rumo à Missão Jubilar Diocesana.

Sem perder o rumo iniciado e o sentido de missão encontrado no esforço pastoral dedicado ao serviço dos mais pobres e tomando no coração e na vida o Plano Diocesano de Pastoral Sócio-Caritativa para que se faça roteiro de novos dias e renovados caminhos, somos agora convidados a viver uma nova etapa centrados na educação cristã, conscientes de que a Igreja educadora da fé é fundamento de esperança.

Um dos primeiros objectivos deste novo tempo que agora começa é assim formulado: “proporcionar momentos de formação para as comunidades no seu todo tendo como tema “ A Fé, fundamento de esperança”.

Desde este primeiro momento de uma nova etapa pastoral e em sinais visíveis de sensibilização de todos os cristãos e de todas as comunidades procuremos ser caminho aberto a esta formação, de olhos colocados nos agentes pastorais neste campo imenso da acção evangelizadora e da missão profética da Igreja.

Na caminhada de Advento/Natal que neste contexto hoje também iniciamos queremos celebrar esta certeza e anunciar esta verdade: Jesus Cristo: minha Fé, minha Esperança.

O vosso bispo conta convosco e quer guiar-vos neste caminho, partilhando na comunhão e na missão da Igreja a alegria da sua fé, a fidelidade à sua missão e as intuições pastorais necessárias para prosseguirmos o caminho de renovação no contexto do nosso Plano Diocesano de Pastoral.

 

2. Vivemos circunstâncias novas da presença da Igreja na sociedade, que desafia a Igreja a exercer a sua missão num quadro cultural diferente procurando ler atentamente e com esperança os sinais dos novos tempos.

É e será sempre ao ritmo da missão que se intui e descobre este novo rosto da Igreja, fiel ao ensinamento de Jesus transmitido pelos Apóstolos, atenta à escuta da palavra de Deus e assídua à celebração da fé e dos sacramentos.

O Concílio Vaticano II e o Sínodo diocesano ensinaram-nos o caminho a percorrer e provocam-nos a descobrir em Igreja o farol que nos ilumine neste caminhar. A luz que brilha e ilumina os nossos passos é Cristo. Procuremos por isso, abrir o nosso coração, a nossa inteligência e a nossa vida ao acolhimento da mensagem do Evangelho, raiz da nossa fé e imperativo da nossa missão.

De Cristo aprendemos a fidelidade ao Pai e o arrojo profético da fortaleza do Espírito que nos convida à missão. Com Cristo partilhamos este amor sempre novo com a humanidade concreta a quem amamos e desejamos servir. No horizonte da missão está sempre presente o nosso lema diocesano: amar a Deus é servir.

Portadora de uma mensagem ancorada em Jesus Cristo, a Igreja não deve temer as mudanças mesmo quando nos parecem vertiginosas e inesperadas. A mudança cultural tão sentida nas crianças da catequese, nos jovens do nosso tempo, nos alunos das nossas escolas e mesmo nas famílias cristãs não é razão para temer mas sim um desafio e uma proposta para um testemunho feliz da nossa fé, para uma presença solidária dos cristãos junto dos que mais sofrem e para uma perspectiva missionária da pastoral dos nossos dias.

 O Plano de Pastoral da nossa Diocese para estes cinco anos está formulado nesta base e com esta intuição missionária e pastoral de evangelização e de serviço ao mundo.

Torna-se importante para prosseguir este caminho saber interpretar a realidade, que nos envolve, em chave evangélica e crente. A existência cristã tem necessariamente de inscrever a fé e a esperança em Deus no horizonte da sua caminhada de vida e como uma das intuições pastorais mais prementes.

Uma outra intuição que partilho convosco é a imprescindível dimensão comunitária da Igreja, como casa e escola de comunhão. Aí nos realizamos em plenitude. A educação cristã não é só instrução; é experiência de vida, em comunidade e aprofundamento da fé como descoberta de vida. É um caminho a percorrer com Jesus Cristo, em Igreja.

Nunca serão esquecidos ou ignorados por parte da Igreja os doentes e os idosos. Do seu testemunho redentor, da sua sabedoria de vida e da sua experiência de fé todos recebemos em graça e em bênção.

 

3. Imaginar caminhos novos adaptados ao mundo a que somos enviados nesta diocese de Aveiro e neste tempo que é o nosso, para anunciar o Evangelho como prioridade das prioridades, convida-nos a pensar o ministério dos presbíteros e dos diáconos, a vida e testemunho dos consagrados e a formação inicial e contínua dos leigos. Todos os cristãos são chamados a anunciar o Evangelho, como prioridade das prioridades.

São também estes caminhos novos a percorrer que hoje nos conduzem para esta Sé, Igreja-Mãe da Diocese, em dia de Ordenação de um Diácono em ordem ao Presbiterado e de Instituição de um leigo no ministério de Leitor na perspectiva do Diaconado Permanente.

Esta coincidência não é para nenhum de nós um facto menor mas sim um acontecimento eclesial maior a merecer um compromisso de oração e de comunhão com o José Carlos da Silva Lopes, de S. Tiago de Ribeira de Fráguas, que vai ser ordenado de Diácono e com o José Figueira da Silva, de S. Vicente da Branca, que será instituído de Leitor. Este momento convida-nos a uma abertura de coração e de vida ao ministério ordenado, a uma nova cultura da vocação e a um olhar agradecido e confiante para com as famílias, para com as comunidades, para com os Párocos e para com os Serviços de Pastoral Vocacional e de Formação de Diáconos e sobretudo para com os Seminários.

O tempo de formação é longo e exigente. São muitos os mediadores desta formação e os intervenientes neste percurso de acompanhamento humano, espiritual, académico e pastoral. Deus precede-nos neste caminho e conduz-nos nesta missão.

Uma ordenação é sempre uma hora de bênção para a Igreja. É um sinal de que Deus ama o seu Povo e dele cuida com desvelo materno. Em cada ordenação ouvi sempre o grito profético do convite à confiança desmedida e à urgência da missão de quem trabalha na pastoral vocacional e na formação.

Esperemos o tempo necessário para que o tempo de Deus se faça nosso tempo e para que em nada nem nunca diminua a confiança, a coragem, a ousadia e a comunhão de toda a Igreja Diocesana como educadora da fé e fundamento de esperança, que quer ser incansável em “consciencializar os baptizados para a concretização da opção vocacional própria e para a responsabilidade de serem promotores das diferentes formas de realização vocacional, muito em especial das vocações de consagração”.

Neste Ano Sacerdotal, somos convidados a viver e a agradecer como povo sacerdotal a alegria e a fidelidade dos sacerdotes e a cultivar com renovado entusiasmo o campo fecundo das vocações.

 

4. A Igreja designa-te, irmão, que vais ser instituído no ministério de Leitor para “servir a fé que tem a sua raiz na Palavra de Deus” (Ritual da Instituição). Lê, por isso, a Palavra de Deus que és chamado a proclamar e anuncia a Boa Nova da salvação com alegria.

A ti, irmão, que vais ser ordenado de Diácono, Deus fortalece-te com os dons do Espírito Santo e confia-te a missão de ajudar o bispo e o seu presbitério no serviço da palavra, do altar e da caridade.

Recebes o Diaconado na perspectiva futura da ordenação presbiteral. Juntamente com a tua família, com a comunidade de Ribeira de Fráguas, com todos quantos te acompanharam ao longo do tempo de acolhimento e de decisão vocacional e de formação nos Seminários e na acção pastoral, é toda a Igreja diocesana que dá graças a Deus.

Nunca te “apartes da esperança do Evangelho do qual és ministro e não apenas ouvinte” e “vê no Evangelho e na vida da Igreja o exemplo que o Senhor te deixou, para que como Ele procedeu assim procedas tu também”. Deixa que te recorde o texto do Ritual da Ordenação na entrega do Evangeliário: “Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas”. (Pontifical da Ordenação).

 

5. Na palavra de Deus hoje proclamada, o profeta Jeremias diz-nos que as promessas de Deus feitas ao seu povo se cumprem e recorda-nos que a continuidade do ministério sacerdotal é sinal da fidelidade de Deus à sua aliança com Israel.

S. Paulo, por sua vez, alegra-se com os cristãos de Tessalónica, com o seu testemunho de vida em fraternidade e em comunhão e com o modo como cresceu na fé esta comunidade e incentiva-os a progredir no conhecimento de Deus.

A perspectiva da vinda de Jesus na plenitude dos tempos de que nos fala o Evangelho aviva a nossa confiança em Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, e suscita a nossa esperança de que Deus na sua vinda nos encontrará vigilantes e fiéis.

 

6. Nossa Senhora, Mãe e Mestra da Fé, e Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, guiam-nos e iluminam-nos neste tempo novo em que Jesus Cristo, Seu Filho, nos convida à missão: uma missão evangelizadora e profética, comunitária e interventiva, marcada pela alegria e pela esperança.

Sé de Aveiro, 29 de Novembro de 2009

+ António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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