Homilia do Bispo de Aveiro na celebração da Ceia do Senhor

“Eucaristia, fonte de vida, de ânimo e de esperança para o mundo” 1. Celebrámos nesta Sé Catedral esta manhã a Missa Crismal, em que o Presbitério Diocesano reunido com o seu Pastor, viveu e testemunhou de forma tão bela e expressiva a alegria da fé, o sentido da vocação e o dom da fidelidade; renovou as suas promessas sacerdotais; e em que foram benzidos os Óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos e consagrado o Óleo do Crisma. O sacerdote da nova aliança é chamado a ser testemunha do mistério de Deus, no seu amor gratuito, na sua vida entregue, no serviço da Palavra e dos sacramentos da Vida. É por isso mesmo que continuo a afirmar a prioridade que quero dedicar à pastoral vocacional. De todas as vocações. Todavia sem a vida, presença e trabalho de bons pastores segundo o coração de Deus não é possível ver surgir as vocações e desenvolverem-se à medida das necessidades do mundo no nosso tempo. Rezar para que tenhamos sacerdotes no futuro próximo significa primeiramente rezarmos pelos sacerdotes que temos e agradecer o seu amor a Deus, a dedicação à missão, a fraternidade presbiteral, a paixão pelo Evangelho e a abertura aos problemas das pessoas e do mundo. Pertence-nos a todos ajudá-los a levar em frente a sua missão e a perseverar até ao fim neste “combate da fé”, no dizer de Paulo (1 Tim 6, 12). 2. Foi na tarde do mesmo dia, no Cenáculo, na ceia desejada e preparada para celebrar a Páscoa dos Judeus, que Jesus instituiu o Sacerdócio e a Eucaristia e confiou aos Apóstolos o mandato de o fazerem em Sua Memória. A Eucaristia instituída na tarde desse dia transporta consigo o sentido da ceia pascal. Páscoa é aí entendida como passagem de Israel da opressão para a liberdade, passagem de Deus na história do seu povo, que em Cristo se fará passagem redentora da morte à vida e em nós se fará passagem do pecado à graça de filhos redimidos. Este memorial celebrado, vivido e renovado torna-se para os cristãos proclamação da morte de Cristo, anúncio da sua ressurreição e certeza da sua vinda gloriosa. A instituição da Eucaristia anuncia, prepara e celebra o sacrifício de Cristo que a partir desse momento se desenrola até à consumação plena do Calvário na entrega sobre a Cruz. 3. “Todas as vezes que vós comeis deste Pão e bebeis deste Cálice, vós anunciais a morte do Senhor até que Ele venha” ( 1 Cor 11, 26 ). Mas falar da “morte do Senhor” é afirmar que Ele está vivo, como se saudavam os primeiros cristãos: “ Cristo ressuscitou, verdadeiramente Ele ressuscitou”. Este anúncio e esta certeza não podem ficar restritos às assembleias que se reúnem para celebrar a Eucaristia no seio das nossas comunidades. A Eucaristia tem a força propulsora do envio e o sentido imenso da missão. No ano da Eucaristia dizia-nos João Paulo II que, “voltados para o futuro, entraremos a partir da Eucaristia numa dinâmica que lança na missão e que dá ao caminho dos cristãos o sopro novo da esperança”. Sejamos testemunhas deste amor de Deus que em Jesus se fez dom de amor e de vida para cada um de nós e para a Humanidade, verdadeiro mandamento novo de que nunca esgotaremos todo o dinamismo e alcance. Que o Pão da Eucaristia seja igualmente repartido por todos os nossos irmãos doentes e idosos para que nunca lhes falte o alimento que sacia a sua fome de Deus e dá sentido redentor às suas dores e provações! Que a Eucaristia celebrada seja também adorada e procurada na presença real de Cristo nos nossos sacrários. Façamo-nos testemunhas desta presença para que Cristo no silêncio discreto dos nossos tabernáculos seja fonte de vida, de ânimo e de esperança para o mundo! 4. A Eucaristia, na Palavra proclamada, no Pão repartido e na Comunidade reunida, é o lugar donde procede a vitalidade da Igreja e para o qual convergem todas as nossas actividades de missão, de evangelização, de catequese, de formação, de culto a Deus e de serviço na caridade aos irmãos. Na Eucaristia as famílias e as comunidades cristãs encontram a sua identidade. A Eucaristia é igualmente sinal de fraternidade e de comunhão dos cristãos. A Eucaristia é este centro do dinamismo missionário e do serviço aos irmãos, sobretudo aos mais pobres, para que sejamos âncora e farol de um mundo novo. Aí se aprende, também, este jeito de quem lava os pés aos discípulos e se faz servo e irmão de todos. Este gesto do lava-pés afirma um modo samaritano de servir e dá valor ao trabalho humilde e esquecido, às vidas sóbrias e ignoradas, às tarefas sem glória nem ostentação. É a partir da Eucaristia que nos sentimos enviados para acolher e para partilhar, para evangelizar e para servir os nossos irmãos. “ Aquele que encontrou Cristo não o pode guardar para si próprio; deve anunciá-lo” (João Paulo II ). 5. Façamos que a Eucaristia seja sempre fonte de vida e de esperança para o mundo. E que as portas da Igreja se abram cada vez mais para acolher, para congregar e para celebrar à volta do altar este mistério admirável da nossa fé que Jesus nos deixou na última ceia. Sé de Aveiro, 9 de Março de 2009 +António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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