Homilia do bispo da Guarda no Domingo de Ramos

Foto: Diocese da Guarda

Começamos neste Domingo de Ramos, a Semana Santa, uma semana que o Povo se habituou a chamar a Semana  Maior; não por ter mais dias ou mais horas, mas porque celebra o acontecimento maior da nossa Salvação – a Morte e Ressurreição de Cristo.

Hoje introduzimos  uma meditação que nos vai acompanhar ao longo de toda a semana. E a cada um de nós pede-se que também procuremos criar as condições de ambiente e de recolhimento pessoal necessárias para podermos mergulhar no mais fundo do Mistério de Cristo.

Há um ano estivemos impedidos de nos reunir em assembleia para celebrarmos os mistérios da Páscoa. Graças a Deus que a situação, este ano, é diferente. Mas não podemos baixar a guarda. Antes, pelo contrário, temos de manter todas as cautelas, cumprindo rigorosamente as regras já conhecidas e que provámos a nós mesmos e à sociedade que somos capazes de aplicar e com reconhecidos bons resultados. Confiamo-nos, por isso, durante estes dias da Celebração Pascal, à Providência de Deus e à proteção dos santos, sem deixarmos de fazer tudo o que está ao nosso alcance para não regredirmos no combate á pandemia.

 

Como dissemos, este é o primeiro dia da grande semana em que celebramos os mistérios da Páscoa. E começamos por um contraste, hoje, ao recordarmos a entrada solene de Jesus em Jerusalém para a Festa da Páscoa. Por um lado, temos o entusiasmo espontâneo das populações, aclamando Jesus com cânticos e ramos; por outro, passados poucos dias, a pressão popular para levar Jesus á morte e morte de cruz.

A morte de Jesus estava, de algum modo, anunciada naquela figura do Servo de Deus, que o Deutero-Isaías nos apresenta, hoje, na primeira leitura. Perseguido e em sofrimento extremo, o Servo não abandona a confiança em Deus. Também Jesus sofreu e fez a experiência do abandono, como lembra o salmo responsorial – “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”. Mas a confiança em Deus nunca esteve em causa.

Ele tinha perfeita consciência da missão que o Pai lhe confiara e que assumiu com total obediência. Era de condição divina, mas voluntariamente decidiu despojar-se a si mesmo para assumir o nosso estatuto de seres humanos, até às últimas consequências  de sofrimento e morte; e morte ignominiosa da cruz.

Fica, assim, posto em contraste o orgulho de Adão, primeiro homem, que, sendo criatura, queria ser Deus e a humildade de Jesus, que, sendo Deus, quis assumir a condição humana para servir.

O relato da Paixão e Morte de Jesus que acabamos de escutar convida-nos a manter o nosso pensamento para aí voltado durante toda esta semana. Jesus caminha para a morte, de cruz às costas, mas com toda a serenidade; partilha as debilidades da natureza humana e, ao mesmo tempo, solidariza-se com todos os que sofrem e são injustamente condenados.

 

Como dissemos, há um ano atrás não tivemos possibilidade de celebrar em assembleia os mistérios da Páscoa. E na memória coletiva ficou aquele quadro chocante do Papa Francisco, numa Sexta-Feira da Quaresma, a percorrer sozinho, a Praça de S. Pedro (fez ontem um ano)e a fazer uma oração pelas vítimas da pandemia em que incluía toda a humanidade. Hoje mesmo estreia um filme documental, que começa com esta cena; filme que leva o título de “Francisco”. O seu realizador declara-se judeu de cultura, mas diz que é pessoa não religiosa. A figura central é o Papa Francisco e a grande tese do filme é que o mundo está em risco e a raça humana também; e nós temos de saber parar, por alguns momentos, para pensar e reavaliar o que estamos a fazer.

Como disse o seu realizador, este filme é uma carta de amor dirigida a todo o planeta e seus habitantes e pretende fazer-nos pensar naquilo em que nos tornaremos se não cumprirmos o mandamento do amor uns para com os outros.

Que esta semana nos ajude também a parar, diante dos mistérios da Páscoa, para avaliarmos, diante da Cruz de Cristo,  os percursos que estamos a fazer, neste mundo, que cada vez nos exige mais responsabilidade.

Que Maria Santíssima nos acompanhe e ensine, ao longo destes dias, a contemplar como ela a Páscoa de Cristo e a nossa Páscoa.

D. Manuel R. Felício, bispo da Guarda

 

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