Homilia de D. António Montes na vigília da beatificação da Irmã Clara do Menino Jesus

1. Bendito seja Deus, admirável nos seus santos!

A nossa vigília desta noite – neste lugar emblemático da gesta missionária portuguesa na qual as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição participaram de maneira significativa – a nossa vigília é, em primeiro lugar, uma celebração de louvor e acção de graças pela santidade de Deus, presente e actuante na Irmã Maria Clara do Menino Jesus a partir da consagração do baptismo e vivida, mediante a radicalidade da profissão religiosa, na plena entrega ao Senhor e no serviço do próximo especialmente dos mais pobres e desvalidos.

Na vida de Mãe Clara os dois termos “cristã” e “santa” tornaram-se sinónimos. Esta deve (devia) ser a “normalidade” da vida cristã – a “medida alta” da vida cristã ordinária, como recomendou o Beato João Paulo II na sua exortação no início do novo milénio.

A vida de santidade não resulta do mero querer humano: é deixar que Deus actue em nós, dispondo-nos a colaborar com a graça divina, “com o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”, conforme ensina S. Paulo na carta aos cristãos de Roma (Rm 5, 5).

Foi isso que fez Mãe Clara. Deixou-se moldar pela santidade de Deus. Por isso, louvamos e damos graças a Deus.

2. Esta vigília de oração é também oportunidade para evocar e agradecer a maravilhosa gesta de caridade da Irmã Maria Clara e de suas filhas espirituais ao longo de século e meio e em quatro continentes, concretizando no quotidiano da vida a divisa da Congregação: Lucere et fovere. Alumiar e aquecer, no passado, no tempo da Fundadora, e no presente. Iluminar o espírito de crianças e jovens a abrir para as grandes opções da vida. Aconchegar a existência de doentes e idosos, tantas vezes fragilizados por circunstâncias adversas.

A intervenção de Mãe Clara em diferentes domínios da área social não era simples acção social. Procedia duma motivação religiosa. O seu coração de mulher franciscana enchia-se de compaixão diante do sofrimento humano e procurava aliviá-lo com o vigor da sua fé. A sua actuação aparecia como “rosto da ternura e da misericórdia de Deus”.

A acção social da Irmã Maria Clara constituiu exemplificação antecipada duma anotação do Concílio Vaticano II na constituição Lumen gentium a propósito do chamamento à santidade de todos os baptizados: “Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano” (LG 40).

3. Finalmente, ao propor a Irmã Maria Clara como modelo de vida cristã e intercessora junto de Deus, a sua beatificação constitui uma interpelação para todos nós. Não se trata apenas de acontecimento relevante e de festa para a sua família religiosa. É um convite à santidade dirigido a todos os cristãos, particularmente os da sua diocese de Lisboa, na linha da anotação do concílio Vaticano II também na constituição Lumen gentium: “É pela caridade para com Deus e o próximo que se concretiza o verdadeiro discípulo de Cristo” (LG 42).

E termino com o estribilho final de cada capítulo das Florinhas de S. Francisco de Assis: “À glória de Cristo. Amém”.

Lisboa, igreja dos Jerónimos, 20.05.2011
D. António Montes Moreira, O.F.M., Bispo de Bragança-Miranda

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