Homilia de D. António Montes Moreira, Bispo Emérito de Bragança-Miranda, Procissão do Enterro do Senhor

Sexta-Feira Santa – Procissão do Enterro do Senhor

1. A procissão do Enterro do Senhor prolonga a memória litúrgica da Paixão de Cristo, que celebrámos na Catedral a partir das quinze horas, a hora da morte de Jesus, a «hora nona», como referem os evangelistas S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas, utilizando a maneira romana de contar as horas do dia.

Este cortejo silencioso é uma expressão caraterística de piedade popular, bem ao gosto da cultura tradicional da nossa gente. Nesta simbiose de fé e cultura, a fé insere-se na cultura e esta serve de apropriado veículo de transmissão da fé.

É louvável transportar a imagem de Cristo morto em Sexta-Feira Santa através das ruas da nossa cidade e acompanhá-la devotamente em atitude de recolhimento. Para atingir o seu pleno significado, esta manifestação de fé pede que nós sejamos imagens vivas de Cristo nos caminhos da nossa vida.

2. A vida humana de Jesus não acabou no suplício da cruz e no escondimento do  túmulo em Sexta-Feira Santa. Ressurgiu gloriosa na manhã do Domingo de Páscoa.

A ressurreição de Cristo não foi regresso à vida humana anterior. Foi passagem (a palavra hebraica Passah, páscoa, significa ‘passagem’) a uma vida nova pela qual a sua humanidade glorificada acedeu à intimidade da Santíssima Trindade, que a pessoa e a natureza divinas de Jesus nunca tinham abandonado durante a sua presença na terra.

Desta forma, o ponto alto da Semana Santa não é hoje, mas Domingo de Páscoa.

3. Com a ressurreição, a cruz deixou de evocar a morte e tornou-se sinal mais. A presença nesta Procissão da réplica da Cruz da Jornada Mundial da Juventude deste ano, em Lisboa, mostra que os nossos jovens querem ter Cristo a orientar a sua vida.

4. Agradeço à Santa Casa da Misericórdia o empenho tradicional na organização desta Procissão e de outros atos religiosos da Semana Santa dentro do espírito que presidiu à sua fundação há mais de quinhentos anos: praticar a caridade cristã e promover o culto divino.

Agradeço igualmente a colaboração da Câmara Municipal na realização da Procissão, bem como a presença do Senhor Presidente da Câmara, de membros da Vereação, das Forças de Segurança, dos Bombeiros Municipais, da Banda de Música e de representantes de outras instituições da cidade.

Para todos vós, que viestes à Procissão em número tão elevado e nela participastes em atitude de recolhimento e de fé, para todos vós e para as vossas famílias, os meus votos cordiais de Santa Páscoa.

                          Bragança, Igreja da Misericórdia, 7 de abril de 2023, c. 18 h.

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