Homilia de D. António Luciano na Missa Crismal 2021-04-01

1. Um povo sacerdotal nascido do mistério pascal, animado pela esperança do novo dia.

“Vós sereis chamados ‘Sacerdotes do Senhor’ e tereis o nome de ‘Ministros do nosso Deus’”. E “firmarei uma aliança eterna” (cf. Is 61,6a.8b-9).

Somos um Povo Sacerdotal que caminha para a Páscoa, convocado por Cristo, o Ungido do Senhor, Sumo e Eterno Sacerdote.

Como afirma a LG, a “Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele. (…) A Igreja ‘prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus’, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. Cor 11,26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades (…), até que por fim se manifeste em plena luz” (LG 8).

Esta Missa, “que o Bispo concelebra com o seu presbitério e dentro da qual consagra o santo crisma e benze os outros óleos, é como que a manifestação da comunhão dos presbíteros com o seu Bispo” (Cerimonial dos Bispos, 274). E um povo que nasce da Páscoa, alimenta a fé, vive a esperança e confia no Ressuscitado, alegra-se e faz festa no dia em que se celebra a Missa Crismal, pois “os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres da doutrina, sacerdotes de culto sagrado, ministros do governo” (LG 20).

 

2. A vocação ao ministério ordenado é um mistério, um dom e serviço.

Escolhidos por Deus de entre o povo, fomos constituídos membros do presbitério duma Diocese. E como presbitério, mesmo em tempos difíceis e complexos, somos chamados a acolher com confiança as palavras de Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos enviei, para que vades e deis muito fruto” (Jo 15,16).

A generosidade do “Sim, quero”, pronunciado hoje como no dia da ordenação, faz da nossa entrega um compromisso na consagração, para ser vivido na fidelidade à missão sacerdotal. Postos à prova em tempo de pandemia, de confinamento e constrangimentos, vamos renovar as promessas sacerdotais, dizendo: “Sim quero, com ajuda de Deus” (Ritual da Ordenação).

Chamados a construir o tecido da nossa identidade presbiteral na visibilidade do sacramento da Ordem, enquanto ministros da Palavra e da Eucaristia ao serviço do Povo de Deus, repetiremos com o salmista: “Senhor, cantarei eternamente a vossa bondade” (Salmo 88).

Diz-nos a LG que “…todos os sacerdotes, tanto diocesanos como religiosos, estão associados ao corpo episcopal em razão da Ordem e do ministério, e, segundo a própria vocação e graça, contribuem para o bem de toda a Igreja. Em virtude da comum sagrada ordenação e missão, todos os presbíteros estão entre si ligados em íntima fraternidade, que espontânea e livremente se deve manifestar no auxílio mútuo, tanto espiritual como material, pastoral ou pessoal, em reuniões e na comunhão de vida, de trabalho e caridade” (LG 28).

 

3. A vida espiritual e fraterna é um alicerce para a estabilidade sacerdotal.

O Bispo deve convidar os presbíteros a seguir Jesus Cristo “casto, pobre e obediente”, procurando em tudo “fazer a vontade do Pai”, com um coração puro, generoso, desprendido, humilde e pobre, para servir na gratuidade, com cuidado pastoral, o rebanho que lhes foi confiado. Tenhamos presente que a vida espiritual e fraterna, assente na virtude da obediência, será o alicerce importante e fundamental para sermos verdadeiramente livres em Cristo.

Identificados com Cristo que veio “para servir e dar a vida”, resistiremos às tentações que podem colocar em risco a fecundidade do ministério sacerdotal. É fundamental termos sempre presente as palavras de Isaías e de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,16-21). Vemos assim que, no Evangelho, está anunciada a nossa identidade e a nossa missão.

O escasso tempo para acolher e escutar os outros, assim como a desculpa generalizada de que temos muito trabalho, podem ser, por vezes, sinais reveladores de uma vida espiritual pobre, sem Espírito, sem autenticidade, e de pouca organização nas prioridades. Pode faltar-nos a escuta da Palavra de Deus, a oração assídua, o discernimento evangélico, que são fundamentais para transformar a negatividade da vida em vida espiritual e pastoral fecunda. Um padre quando reza, estuda, contempla, trabalha e sacrifica a sua vida em favor da paróquia, celebra a Páscoa.

O serviço pastoral dos presbíteros deve também privilegiar o serviço e a partilha dos bens nas dificuldades, nas incompreensões e nas provações. Servir na gratuidade o Povo de Deus ajuda a alcançar a conversão pessoal e a renovação pastoral.

 

4. A alegria de ser um presbitério que procura viver a comunhão.

Quero hoje convidar-vos também a meditar sobre o dom da comunhão e da unidade em presbitério. Nunca é demais sublinhar esta necessidade de reconhecer a realidade do nosso presbitério na dimensão da vivência da fé e dos costumes, da esperança pascal e da caridade, num diálogo com todos, aceitando os desafios da fraternidade e da amabilidade pastoral, diante do ‘ícone iluminador’ do bom samaritano (cf. Fratelli Tutti, 67).

As crises não são só para os outros. Elas também nos podem atingir. Por isso, sejamos santos e também misericordiosos como o Bom Samaritano, que soube cuidar do seu próximo. “A misericórdia tem dois aspetos: é dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar, compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: ‘O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles’ (Mt 7,12)” (Papa Francisco, Alegrai-vos e exultai, 80).

Neste contexto, gostaria de falar sobre o repouso dos sacerdotes. Reflete o Papa Francisco: “O cansaço dos sacerdotes! Sabeis quantas vezes penso nisto, no cansaço de todos vós? Penso muito e rezo com frequência, especialmente quando sou eu que estou cansado. Rezo por vós que trabalhais no meio do povo fiel de Deus, que vos foi confiado; e muitos fazem-no em lugares demasiado isolados e perigosos. E o nosso cansaço, queridos sacerdotes, é como o incenso que sobe silenciosamente ao céu. O nosso cansaço eleva-se diretamente ao coração do Pai” (Na Alegria…, p. 162).

É perante o cansaço que devemos saber parar e procurar a Deus, como nos ensina o Mestre: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos” (Mt 11,28).

 

5. Identificados com Cristo, sementes de vocação

Pelo dom da Ordenação, o Espírito do Senhor ungiu-nos para constituirmos um presbitério onde todos precisamos de cuidar uns dos outros.

Dedicados a viver a missão em caminho de santidade, identificados com Cristo mestre, sacerdote e pastor, seremos sementes fecundas de novas vocações sacerdotais. Tenhamos presente que uma paróquia, sem um jovem a sonhar com a vocação ao serviço da Igreja, é pobre. E isso afeta o seu futuro e sustentabilidade.

Em nome da pastoral juvenil e das vocações da diocese, apelo a que olhemos para JMJ como uma oportunidade de evangelização dos jovens e de os desafiar ao bom acolhimento da pastoral vocacional e familiar, valorizando todos o Ano “Família Amoris Laetitia”.

 

6. Fiéis na vocação, Sacerdotes a tempo inteiro.

Mas neste dia não podemos deixar de salientar também o Jubileu Sacerdotal de ordenação de um número significativo de sacerdotes, e que é para todos motivo de alegria, de festa e de ação de graças.

Celebram 25 anos de ordenação sacerdotal os Reverendos: Padre Alcides Fernando Tavares Vilarinho; Padre Carlos Alberto Ramos de Sousa; Padre Francisco Alexandre Domingos; Padre João Pedro Ferreira Cardoso; Padre Jorge Carvalhal Pinto; Padre Paulo Diamantino Estevão Rodrigues; e lembrando também o Padre João Carlos de Almeida Carvalho, incardinado presentemente na Diocese de Aveiro.

Celebram 60 anos: Padre Armando Matos da Costa; Padre Celestino Correia Rodrigues Ferreira; Padre Miguel Rodrigues Pereira.

Celebram 70 anos: Padre Daniel Lopes dos Santos e Padre Carlos Marques Lima. E faço ainda memória do Monsenhor Sílvio Duarte Henriques, falecido recentemente.

Sacerdotes generosos, que procuram viver a vocação num caminho de santidade, servindo com alegria o povo de Deus e desempenhando as funções que lhe estão confiadas.

– Caros aniversariantes, felicito-vos e agradeço a Deus e às vossas famílias e comunidades o dom do vosso sacerdócio.

Lembremos e rezemos também por todos os sacerdotes doentes e por aqueles que já estão na Casa do Pai.

Confiemos todos a Maria, Mãe dos Sacerdotes, a São Teotónio e, neste Ano jubilar, a São José, a nossa vida e o nosso ministério. Como bons administradores e “guardiães da Igreja”, cuidemos dela cheios de esperança e entusiasmo Pascal. Ámen.

Viseu – Sé, 1 de abril de 2021

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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