Homilia de D. António Carrilho na Solenidade da Ressurreição do Senhor

O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia! Com a solene vigília de Sábado Santo, mãe de todas as vigílias, demos início ao tempo Pascal, que compreende cinquenta dias, como se de um só dia se tratasse, para celebrar, proclamar e anunciar a alegre notícia: Cristo Ressuscitou. Aleluia! Assombro e espanto! Caros diocesanos, irmãs e irmãos, o sepulcro está definitivamente vazio e Jesus permanece vivo no meio de nós. O mundo abriu o seu horizonte fechado, ficando para sempre habitado pela Esperança viva e pela nova Luz da Páscoa. Jesus Ressuscitou. Aleluia! Uma admirável surpresa O evangelista São João, num relato de expressiva beleza e simplicidade, diz-nos que, na madrugada da Ressurreição, houve um estranho movimento no jardim, onde se encontrava o túmulo de Jesus. Maria Madalena, movida por um grande amor a Jesus, para lá se dirige apressadamente, ao romper da aurora. Perante as inesperadas notícias de Maria, Pedro e João também correm e contemplam estupefactos a realidade: o sepulcro está vazio e os panos que envolviam o cadáver de Jesus, enrolados à parte. Viram e acreditaram: “Na verdade, não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9). Uma admirável surpresa, afinal: Jesus, que foi morto e suspenso no madeiro, ressuscitou glorioso, vencendo o pecado, o sofrimento e a morte! Pedro dirá, depois, num belo testemunho de fé e extraordinária alegria: “Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se (…) a nós que comemos e bebemos com Ele, depois da Sua ressurreição dos mortos” (Act 10,41). Só a fé permite reconhecer a presença do Senhor Ressuscitado. A decepção da morte transformou-se em felicidade infinita, quando os apóstolos e outros discípulos foram surpreendidos pela visita do glorioso Ressuscitado, que os libertou de todos os medos: “A Paz esteja convosco. Sou Eu mesmo” (Lc 24,36;39). O Senhor da Vida e da morte transformou “o Sangue do Calvário em aurora feliz de um mundo novo” e a noite no mais resplandecente Dia. A Ressurreição de Cristo é, verdadeiramente, o fundamento da fé da Igreja e o maior evento da história da Humanidade. Como Filho bem amado, Jesus introduz os discípulos numa relação nova com o Pai: “Vou subir para o meu Pai e vosso Pai” (Jo 20,17). Ele conserva na Sua Humanidade glorificada os sinais das Chagas, marcas do Seu grande Amor por nós e prova de que não nos esquece nem abandona, nas lutas e tristezas da vida. Escreve S. Pedro Crisólogo, referindo-se a Jesus: “estas chagas não me fazem soltar gemidos, antes servem para vos introduzir mais intimamente no meu coração”. Festa da Vida e da Missão No início desta Quaresma, na mensagem que dirigi à Diocese, recordei a necessidade da oração, jejum e esmola, em ordem a uma maior intimidade com o Deus da Aliança, traduzida em gestos concretos de fraternidade, de solidariedade e de atenção ao essencial. Da verdade e profundidade da caminhada quaresmal de cada um, depende a sua vivência e abertura ao mistério Pascal. Páscoa é libertação! É a Festa da Vida. A vida nova da graça, que flui abundantemente do Lado, para sempre aberto, do Senhor morto e Ressuscitado. No dia do nosso Baptismo fomos introduzidos na comunhão com o Deus vivo, Uno e Trino, e no dinamismo do mistério Pascal. Por ele nos tornámos participantes da vida divina, que se alimenta e fortalece na Eucaristia, memorial da Morte e Ressurreição de Jesus. A Eucaristia é o admirável mistério da fé da Igreja para a salvação do mundo e a fonte da sua missão evangelizadora. Caros diocesanos, irmãs e irmãos, neste dia de graça, celebramos, em comunhão eclesial, a “Festa das Festas”, o maior milagre de Jesus: a Sua gloriosa Ressurreição! O mistério Pascal atravessa o coração da nossa história, ilumina-o, dá-lhe renovado vigor e faz nascer uma Esperança viva, na vida dos crentes: “Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos” (Act 10,42). Impelidos pelo Seu Espírito, seduzidos e encantados por Ele, não podemos guardar só para nós a boa notícia, que nos enche o coração e a vida. Urge partilhar o alegre anúncio Pascal, luz que dissipa as trevas e preenche o vazio existencial de tantas pessoas, que a investigação científica e tecnológica e o bem-estar material não conseguem colmatar. Como recorda o Concílio Vaticano II, o homem ferido pelo mal, ou se exalta como norma suprema e absoluta, ou se deprecia até ao desespero, pelos caminhos da destruição e da morte (cf. Lumen Gentium, 12). Só o infinito Amor e a esplendorosa Luz do Ressuscitado podem tocar o coração do homem e libertá-lo definitivamente. Jesus está vivo e faz-se companheiro de viagem no nosso percurso histórico pela vida, conduzindo-nos ao Pai, pelo Espírito. Jesus Cristo é a plenitude da revelação, o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim, a grande intervenção de Deus na história e na vida dos homens. Mensagem Pascal Caríssimos diocesanos e vós que visitais a nossa terra, nesta quadra da Páscoa, e estais connosco a celebrar a Solenidade da Ressurreição de Jesus: para todos a minha alegre e afectuosa saudação Pascal: Cristo Ressuscitou. Aleluia! Que o glorioso Ressuscitado vos ilumine e acompanhe, e às vossas famílias, hoje e sempre, pelos caminhos da vida: nos vossos trabalhos, sofrimentos, dificuldades, tristezas e alegrias. Deixai que Ele entre nas vossas casas, partilhe convosco o Pão, presida à vossa vida e vos inunde da Sua Paz e Esperança infinitas. Apesar da grave crise económica mundial, que afecta também a nossa terra, não deixeis apagar a Luz e o Fogo novo que, nesta manhã de Páscoa, o Senhor vos comunicou. Neste mundo globalizado e hedonista, que fabrica e adora os seus próprios ídolos, onde não falta quem pretenda assegurar que “sem Deus se pode desfrutar melhor a vida”, somos convidados a “olhar as coisas do alto”(Col 3,2) e a ser testemunhas transparentes da Ressurreição, dando sentido e valor à existência humana e às aspirações mais fundas dos nossos corações. Caros diocesanos, irmãs e irmãos: Não tenhais medo! Tende coragem! Cristo Ressuscitado é Fonte inesgotável de Luz, de Verdade e de Ternura infinitas. Boas Festas Pascais! O Senhor Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia, Aleluia! Senhora da Alegria Mãe da Igreja, Senhora da Alegria, escutai a nossa prece: vós que aceitastes com um “Sim” generoso a Encarnação do Verbo e O vistes emudecer dolorosamente na Cruz, acreditando para além da tristeza da morte, na feliz esperança da Ressurreição, tomai-nos pela mão, ensinai-nos o segredo do Essencial e envolvei-nos na Alegria e na Luz do vosso Filho Ressuscitado. Rainha do Céu, alegrai-vos! Aleluia! Sé do Funchal, 12 de Abril de 2009 † António Carrilho, Bispo do Funchal

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