Homilia da Paixão e morte de Jesus, na Sexta feira-Santa, por D. António Luciano

A PAIXÃO E MORTE DE JESUS

SEXTA FEIRA-SANTA

Pai em vossas mãos entrego o meu espírito”.

Morreu na Cruz! Jesus, o Filho de Deus morreu na Cruz, por mim, por ti, por toda a humanidade. Tudo está consumado, inclinando a cabeça Jesus expirou.

Morreu na Cruz, para nos salvar, para nos dar a vida, que ofereceu ao Pai, por nós para nos ser dada no mistério Pascal em abundância.

Tomás Halík, Professor de Sociologia e Filosofia da Religião em várias Universidades, em 2015 escreveu um livro com o título: “O MEU DEUS É UM DEUS FERIDO”, partindo da aparição do Ressuscitado a São Tomé, que lhe mostra as feridas, o autor ajuda-nos a entender que só um desde ferido de amor por nós, pode ser verdadeiro.

Jesus está ferido, magoado, abandonado, mas não ressentido. Não vês as chagas do Seu Corpo na Cruz onde se ofereceu ao Pai, por mim, por ti, pela humanidade.

Nesta tarde de sexta-feira Santa “faz nos bem ir ao encontro das suas feridas, das nossas próprias feridas, de todos que sofrem. As feridas do mundo, os pecados, as injustiças, as grandes desordens mundiais ferem a Deus: ”O que fizeste ao mais pequenino…a mim o fizeste”. “Tocar essas feridas é tocar em Deus. Ser tocado por elas é receber a graça da Fé”. (cf. Tomás Halík).

Só um Deus ferido de amor pode dar a vida por nós, morrer na cruz e estar connosco como Ressuscitado na Palavra, na Eucaristia e na comunidade.

Jesus o nosso Salvador deu a vida por nós e quer amar cada um de nós. Deus nunca é indiferente às nossas dificuldades, aos nossos problemas. O nosso Deus é um Deus que se faz presente para cuidar da humanidade e curar as nossa feridas, pelo dom das Suas Chagas.

Jesus não é indiferente aos frágeis, aos doentes, aos refugiados, aos migrantes, deslocados ou sem abrigo. À luz do Evangelho da Paixão segundo São João convido-o ao silêncio, à oração e à contemplação e como lembro o Papa Francisco numa das suas catequeses sobre a morte de Abel, pergunta a Caim: “Onde está o teu irmão?”. Diante da morte Cristo, de alguém, eu pergunto: Onde estás tu, meu irmão e minha irmã, onde está teu irmão? “Onde está Cristo o Salvador do mundo? Onde estamos nós os cristãos nesta tarde de sexta-feira Santa?

À luz da Palavra de Deus que escutámos pensemos no que significam estas três palavras: sofrimento, abandono e confiança.

O sofrimento faz parte da vida de todo o ser humano, enquanto mistério e experiência dolorosa de vida e de morte, quer nos afete por enfermidade física, psíquica, moral ou espiritual.

A perda de sentido de vida e de horizonte de existência humana é uma morte, que pode levar-nos ao abandono do próprio Deus. Devemos aprender a confiar em Deus, mais e sempre, porque Ele nunca nos abandona.

O drama da Paixão e Morte de Jesus, continua ainda hoje vivo e atual, quer na vida pessoal de cada um de nós, quer nas diversas vicissitudes sofredoras de muitos povos e da humanidade inteira. Foi a condenação de um inocente, que por fazer o bem, morre na cruz, para salvar todo o ser humano. Nós continuamos a viver o ritmo da nossa vida marcada por uma decisão iníqua. Quantos seres humanos continuam hoje a experimentar na sua vida sentenças injustas. Ele que era o Justo, tornou-se o Servo Sofredor, entregou-se voluntariamente à morte para nos resgatar do pecado. Na natureza humana há sempre algo a resgatar, muita coisa que precisa de se aperfeiçoar, de se renovar. Este é o desafio do verdadeiro humanismo e da fé cristã que assenta no conhecimento da Pessoa de Cristo Crucificado, Morto e Ressuscitado.

Santo Agostinho ensinava que a “humanidade está na expetativa da libertação, continuando a experimentar e a sofrer as dores da maternidade,” esperando dar à luz, a verdadeira vida que é Cristo Jesus, o Ressuscitado. Esperamos todos um “novo nascimento da humanidade”, uma nova transformação onde o amor, a justiça e a paz sejam fecundados no mistério da Morte e da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Caros sacerdotes, caros jovens, meus irmãos e irmãs, caras crianças, Cristo morreu por nós, ensinou-nos a dar a vida.

Fazer esta experiência da fé cristã implica audácia e disponibilidade interior no caminho da morte. ”Se o grão de trigo não morrer não pode dar fruto, mas se morrer dará muito fruto.”

Deixemos que as palavras de Jesus na Cruz nos ajudem a fazer o nosso caminho juntos para Páscoa.

– Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste.

– Mulher, eis o teu filho, Filho eis a tua Mãe.

– Jesus lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.

– Tenho sede! De ti meu irmão, minha irmã, dos pobres e dos doentes, dos famintos. Com confiança, gratidão e esperança rezemos todos juntos a Jesus nesta sexta-feira-Santa:

– Pai perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem…

Viseu, 7 de abril de 2023

+ António Luciano, Bispo de Viseu

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