Homilia da Missa Crismal 2021 de D. Manuel Quintas

MISSA CRISMAL 2021

01 de Abril de 2021

Saudação: Rev.mo Vigário geral, Ilustres membros do Cabido, Caríssimos padres e diáconos, consagradas…

Estimados irmãos

Este ano, felizmente, podemos reunir-nos na manhã deste dia, para a concelebração da Missa Crismal. Recordo que o ano passado só foi possível fazê-lo no mês de junho, na Solenidade do Coração de Jesus, Dia de Oração pela santificação do Clero.

Estamos, por isso mesmo, gratos a Deus, sinal do progresso verificado no combate à Pandemia que, apesar das exigências a que nos sentimos obrigados, nos permite este ano celebrar o tríduo pascal com as nossas comunidades paroquiais.

Se bem que já tenhamos recordado todas as vítimas da Pandemia com as nossas comunidades, na primeira Eucaristia após o confinamento, queremos, hoje, com o significado próprio desta concelebração diocesana, que anualmente a Missa Crismal nos proporciona, ter presente quantos foram atingidos diretamente pelo coronavírus: os doentes e os que deles cuidam, os falecidos e seus familiares que choram a partida dos seus entes queridos, por vezes, sem poder dizer-lhes o último adeus.

O Senhor da vida acolha no seu Reino os falecidos, dê conforto e esperança aos que ainda se encontram a atravessar esta provação, não falte com o necessário aos que sofrem as consequências laborais e sociais desta pandemia e desperte em todos nós sentimentos mobilizadores de apoio fraterno e solidário.

1. Missa crismal: expressão de unidade e comunhão

A unidade e comunhão, que exprimimos e fortalecemos em cada Eucaristia, está presente de modo particular nesta concelebração da Missa Crismal, não apenas entre nós caros padres e diáconos, mas também com todo o Povo de Deus.

a) Está presente na unção batismal pela qual o Espírito faz de nós membros de Cristo sacerdote, profeta e rei; na unção crismal, com a qual o Espírito nos torna membros e construtores do reino, que Cristo veio anunciar; na unção sacerdotal, conferida àqueles que Deus escolheu do meio do seu povo, consagrando-os, à imagem de Cristo sumo e eterno Sacerdote, com a missão de ensinar, apascentar e celebrar/santificar.

b) Está igualmente presente na comum participação na bênção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos e na consagração do óleo do Crisma que, por sua vez, testemunharão em cada uma das nossas comunidade e ao longo de todo o ano, esta mesma realidade presente no nosso ministério e na nossa ação pastoral.

c) Unidade e comunhão que exprimimos também neste dia com a renovação pública das promessas sacerdotais, como expressão de fidelidade a Cristo, ao dom do sacerdócio recebido e à Igreja da qual somos servidores.

Unidos no único sacerdócio de Jesus Cristo, bispo e sacerdotes, somos “servos” do Mistério que celebramos. Quem age verdadeiramente na Igreja, por nosso intermédio é o Espírito de Cristo, o Espírito Santo. Aquele que enviou Cristo a anunciar a boa nova aos pobres, é o mesmo que hoje nos (re)envia a nós.

2. S. José, modelo da identidade e da paternidade do pastor

A carta apostólica do Papa Francisco, Patris Corde – com coração de Pai – tem como objetivo “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”.

Considero oportuno que nos detenhamos neste dia, deixando-nos conduzir pelo Papa Francisco, no conhecimento de algumas virtudes de S. José, que inspiram a nossa identidade e são modelo da nossa paternidade como pastores, ao serviço do povo de Deus que nos foi confiado. (cf. Discurso à comunidade do Pontifício Colégio Belga, 18.03.2021)

a) S. José um pai acolhedor… que não deixa de sonhar

Depois de esclarecido sobre o que Deus dele pretendia, S. José pôs de lado, mesmo se legítimos, planos e projetos pessoais: amou e acolheu Maria e Jesus, uma esposa e um filho bem diferentes da visão familiar que provavelmente teria desejado. José não procurou explicações ou satisfações para a realidade surpreendente e misteriosa que passava a viver. Simplesmente a acolheu com fé e a amou tal como lhe foi apresentada pode Deus.

Esta novidade não o impediu de ser um pai que sonha, como aliás todos os pais. Não um sonhador abstraído da realidade, mas alguém que consegue ver mais além do que a vista alcança, e que só o amor possibilita, próprio de quem vê com o coração, que vê melhor e mais longe do que os olhos: um olhar profético, capaz de reconhecer o desígnio de Deus onde os outros nada veem, e assim ter um objetivo claro pelo qual se empenhar.

São José soube ver em Maria e em Jesus não apenas uma jovem esposa e um filho, mas a presença contínua da ação de Deus na sua vida.

b) S. José, mestre de vida espiritual e de discernimento

S. José é mestre de vida espiritual e de discernimento. Recorramos à sua proteção para nos libertarmos da tendência de racionalizar tudo, mesmo com as melhores intenções.

Esta tendência pode revelar apetência para “ser senhores/donos” do que nos acontece, em vez de o receber tal como nos é doado. É o caso e alguém ser colocado numa paróquia ou numa diocese, esquecendo a sua história – por vezes centenária – com uma vida própria feita de muitas vicissitudes, que não se pode ignorar nem sujeitar a ideias ou planos pastorais pessoais, que não têm em conta esse rico património. S. José ensina-nos que a primeira atitude é amar de forma plena e gratuita, o que nos é indicado, simplesmente porque por ali passa a realização da nossa vocação e da nossa missão. Só depois de conhecermos e acolhermos a sua especificidade, poderemos progressiva e gradualmente guiá-la por novos caminhos.

c) S. José, como um pastor que ama e conhece o seu rebanho, é guardião daqueles que lhe foram confiados

Ser guardião é parte essencial de vocação e missão de S. José. Tarefa que viveu com discrição, humildade, silêncio e fidelidade total, em constante abertura a Deus e aos seus sinais, com disponibilidade plena para realizar o que lhe é pedido. José vive a sua vocação e realiza a sua missão com a liberdade interior do servidor bom e fiel, que só deseja o bem daqueles que lhe foram confiados.

Tutelar e ser guardião dos que nos são confiados significa, como para S. José, amar com a ternura de um pai, pensando sobretudo no seu bem e na sua felicidade, agindo com discrição e com perseverante generosidade. Trata-se de uma atitude interior, que leva a nunca perder de vista os que nos são confiados, discernindo o melhor momento para se aproximar ou para se afastar, mantendo sempre um coração vigilante, atento e orante.

É a atitude do pastor, que nunca deixa de estar em sintonia com o seu rebanho e que adequa a sua ação de acordo com as necessidades específicas de cada momento: à frente para abrir caminho, no meio para estimular e sentir-se estimulado, atrás para que ninguém se atrase ou se perca. É o que se pede a cada pastor na sua relação com a comunidade que lhe foi confiada: ser pastor atento e disposto a mudar de acordo com o que a situação do rebanho o exigir, evitando todas as formas de rigidez que, podendo ser teoricamente boas, na prática não se adequam ao caminho que a comunidade está a percorrer.

3. Conclusão

Minhas irmãs e meus irmãos louvemos o Senhor que nos reuniu no seu amor e nos chamou, caros padres e diáconos, para o serviço do seu povo.

Este ano estamos particularmente unidos a D. Manuel Madureira e ao Pe. Mário, pela respetiva celebração de sessenta e vinte e cinco anos de sacerdócio, em junho próximo. Com os nossos parabéns louvamos o Senhor pelo seu serviço e a sua dedicação à nossa Igreja diocesana.

Tenho igualmente a alegria de comunicar a toda a Diocese a próxima ordenação diaconal do Fábio Pedro e do Samuel Camacho, celebração prevista para o dia 25 de abril, domingo de oração pelas vocações, em S. Pedro do Mar, Quarteira às 17h00.

Não nos cansemos de continuar a pedir ao Senhor da messe o dom de novas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada para a sua Igreja. É Ele que cativa, confere o dom da vocação e capacita para o serviço do seu Povo. Somos nós, seus instrumentos, que despertamos e apoiamos na resposta e contagiamos com o testemunho de uma vida consagrada a Cristo e ao seu povo.

Meus caros irmãos, renovo o meu pedido a que estimeis os vossos Párocos: rezai cada dia por eles e por mim para que, o nosso amor fiel a Cristo, se alimente cada dia no testemunho da Palavra que vos anunciamos e se fortaleça, sempre mais, no dom da Eucaristia que vos distribuímos, para que a nossa entrega, sem reservas, a esta nossa Igreja diocesana, seja sinal e de Cristo Bom Pastor, que continua a dar a vida pelas suas ovelhas.

Encomendemo-nos à proteção de S. José para aprendermos, com ele, a arte da paternidade, ou seja, a arte de amar com um coração de pai.

E que Maria, mãe dos sacerdotes, interceda por nós e por todas as nossas comunidades paroquiais, nos guie e acompanhe no exercício do nosso ministério sacerdotal e na fidelidade às nossas promessas a Cristo e à Igreja, que de seguida renovaremos.

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