Homenagem emigrante ao Mons. Bastos

Ausentes, nós vamos lá estar
Comunidades emigrantes unem-se ao “até sempre” a Mons. Manuel Bastos 

P. Rui Pedro, missionário

Hoje não vamos poder lá  estar! Mais uma vez, a distância aproxima-nos, irmana-nos misteriosamente na mesma fé e comunhão em Cristo.

Continuaremos a ter-te lado-a-lado no nosso atribulado caminhar pelo mundo em demanda de um pão mais justo e trabalho digno. Contigo, o nosso peregrinar foi sempre mais sereno e acompanhado por um Deus que liberta e encoraja a prosseguir não obstante o fracasso e pecado.

Foste farol seguro em noites de temporal! 

Todos os anos nos visitastes nas Américas, Europa e Austrália como fiéis de pleno direito da tua paróquia. Éramos a diáspora sempre presente nos teus projectos pastorais, homilias, discursos, procissões, reuniões e numerosas obras sociais. Obrigado pelo carinho com que sempre falavas de nós!

Visitaste-nos, como um pai, para falar de ousados projectos de solidariedade para pobres, órfãos e idosos; vieste até nós para partilhar inquietações missionárias de sacerdote preocupado com a vivência da fé em terra estrangeira; abandonavas a paróquia para manifestar, aos mais afastados da Igreja e Pátria, o amor divino que brotava do teu coração de pastor pobre, humilde, teimoso e utópico.

Guardador de rebanhos que procuravas todos, especialmente aqueles mais tresmalhados pela emigração a que fomos forçados por causa de, nem o nosso mar, nem a nossa terra, nos matar a fome de dignidade.  

A cidade de Peniche, a terra e o mar, vai hoje parar – como se deve fazer a todos aqueles e aquelas que dão exemplarmente a vida pelos outros, pelos feridos da vida – para contemplar a missão e homenagear a vocação de um dos homens mais incontornáveis e decisivos da sua história religiosa, social, cultural e política: Mons. Manuel Bastos Rodrigues de Sousa. 

Homem do mar sempre fiel à  classe trabalhadora e suas lutas, profeta invulgar de uma igreja totalmente mergulhada na vida do povo, discípulo terno de um Deus que ama os pobres e, com eles, apressa a vinda do Reino, capelão de homens e mulheres honestos de todos os regimes políticos e partidos, militante que sonhava o desporto como escola única de educação para valores e saúde, amigo fiel que a ninguém deixada sem postal de aniversário ou agradecimento, padrinho de afilhados sem beira e sem conta (entre os quais me incluo também eu !), educador criativo sobre a força da tradição para identidade de uma comunidade, apóstolo da reconciliação entre partes desavindas, cooperador universal com todas as pessoas, grupos e crenças que tivessem como prioridade a dignidade humana e a caridade na verdade, grande defensor da liberdade de ensino e dos direitos dos migrantes de todas as latitudes. Grande divulgador da vida e exemplo de outros penichenses ilustres e homens fiéis ao Evangelho, como o Servo de Deus, D. António Ferreira Viçoso, que desejava ver beatificado pela Igreja. 

Um sacerdote exemplar

Boa viagem, mestre de vida liberta, amigo dos emigrantes e meu mestre da arte sacerdotal! Ser padre requer arte, jeito e utopia. É esta herança que, ao findar do Ano sacerdotal, deixas aos cinco padres que silenciosamente geraste na fé, fruto do teu sacerdócio missionário e feliz! 

Continua a interceder por todos os que sonhamos um mundo mais justo e solidário e trabalhamos incansavelmente, como tu, por uma Igreja que a todos incluí procurando aqueles de nós que andamos longe, perdidos no mar da vida! 

Despeço-me com as mesmas tuas palavras, com as quais nos despedimos há dias, quando te visitei no teu leito de sofrimento e altar de entrega serena: “Até sempre, na casa de Deus!” 

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