Homem das grandes causas

80 anos de vida muito fértil, interventiva e dedicada a grandes causas. Esta é uma definição muito redutora de Daniel Serrão que foi homenageado pelo Centro Regional do Porto da Universidade de Católica Portuguesa. “Fiquei surpreendido com algumas coisas escritas por pessoas que tenho a maior consideração e nunca pensei que guardassem de mim uma recordação e imagem como aquelas que estão escritas no notável livro” – disse à Agência ECCLESIA o homenageado. “Um homem com esta dimensão não pode ser retractado em 15 minutos” – referiu Walter Osswald na sua intervenção em redor do tema: «Daniel Serrão, um Retrato esboçado». Em declarações à Agência ECCLESIA este amigo de Daniel Serrão sublinhou que o homenageado foi um dos “difusores da bioética em Portugal”. E acrescenta: “verdadeiro cidadão e patriota. Alguém que se sente responsável em colocar a render os seus talentos em favor da comunidade”. Ajudou na difusão do pensamento Bioético em Portugal e, o primeiro livro publicado no nosso país tem bastantes trabalhos de Daniel Serrão. Na sessão de homenagem foi lançado em livro que coloca em destaque alguns episódios da vida de Daniel Serrão. “Foi uma surpresa e não sabia que tinham incomodado dezenas de personalidades portuguesas e estrangeiras para escreverem coisas a meu respeito” – afirmou. E num tom jocoso disse para a plateia: “esse Daniel Serrão conheço mal, mas passei a ter alguma consideração por ele depois do que ouvi aqui dizer. Conhecido a nível nacional e internacional, o homenageado é “um interprete de sonhos” – nas palavras de Walter Osswald. Os amigos dizem que as viagens de Daniel Serrão têm sempre objectivos altos. “Os meus alunos, assistentes e pessoas que passaram pelas minhas mãos dizem que eu lhes marquei a vida”. Nascido a 1 de Março de 1928, na freguesia de S. Diniz, cidade de Vila Real de Trás-os-Montes, Daniel Serrão assumiu quando era jovem que “não haveria de ser medíocre nunca”. E avança: “é um pouco a marca transmontana”. Daniel Serrão confidencia que quer viver a vida “em círculos crescentes”. Quando lhe falavam de algum autor (de várias áreas do saber) que não dominava, o jovem Daniel Serrão ia investigar porque “tinha de conhecer”. E relata como passou a admirar o poeta Fernando Pessoa. “Ainda ninguém falava de Fernando Pessoa e descobri numa livraria, em Aveiro, este autor e comecei a ler”. “Disse logo para mim que estava perante um génio” – salienta. Já passaram muitos anos e ainda “não acabei de descobrir Fernando Pessoa”. O livro «Desassossego» pode-se ler “mais de mil vezes e continuamos a descobrir novas interpretações”. O livro «Mensagem» é uma visão “esotérica da história de Portugal”. Apesar de saborear os escritos de Fernando Pessoa, Daniel Serrão não acredita nos esoterismos. Na Academia das Ciências a sua cadeira tem o número treze e “não tenho problema algum de estar sentado naquele lugar” – disse. A sua vida é mais «Mensagem» do que «Desassossego». “Gosto do «Desassossego» de Fernando Pessoa, mas não partilho dele porque tenho um optimismo permanente”. É um homem de fé, no entanto tem medo de perdê-la. “A coisa mais difícil que existe é conservar a fé” – confidenciou Daniel Serrão. A fé não se obtém através de equações, mas “é uma conquista diária”. E confessa: “já tive a minha noite escura”. Em 1944 completa o Curso Geral dos Liceus, em Aveiro, com 18 valores. Antes, frequentou os Liceus de Viana do Castelo e Coimbra. Em Aveiro termina, em 1945, o Curso Complementar de Ciências, com 18 valores. Em 1951 completa o Curso de Medicina, com média final de 17 valores. Cumpre o serviço militar obrigatório, de 1951 a 1953, prestando serviço no Hospital Regional n.º 1 do Porto. Casado há 50 anos com Maria do Rosário de Castro de quem teve seis filhos (um deles falecido em 1993) e destes tem, actualmente, nove netos. Doutorou-se em 1959, com 19 valores. Concorre em 1961 a Professor extraordinário de Anatomia Patológica e é aprovado por unanimidade. De Outubro de 1967 a Novembro de 1969, esteve mobilizado, em Luanda, prestando serviço no Hospital Militar como anátomo-patologista. Jubilado há dez anos, Daniel Serrão ainda olha para os trabalhos de futuro. “ Não tenho data para terminar os meus projectos”. No entanto, anuncia que este ano (2008) irá deixar algumas actividades no estrangeiro porque “tenho receio de perder qualidades e não dar por ela”. No Vaticano, na Academia Pontifícia para a Vida, Daniel Serrão ocupa o cargo de académico de número (efectivo). Com oitenta anos, “passarei para académico honorário, incluindo o presidente”. Brevemente, Bento XVI deverá “anunciar outro presidente, porque D. Elio Sgreccia também completa 80 anos”. Ao recordar o convite de João Paulo II para este cargo, Daniel Serrão realça que foi “uma surpresa absoluta quando recebeu a carta da Nunciatura”. Daniel Serrão é médico, investigador, docente, humanista e um homem interessado na reforma do sistema de saúde português, “fez estudos aprofundados sobre estas questões e apresentou um relatório, mas infelizmente está na gaveta” – disse o Walter Osswald. Sobre esta reforma, Daniel Serrão disse que esta mudança seria para 15 anos. “Não dava dividendos políticos” – lamentou. “Primeiro constrói-se as opções e depois fecha-se o inútil”. Teixeira de Pascoaes afirma que «O futuro é o passado que amanhece», “este é o meu lema de vida porque vivo projectado para o futuro”. “Não tenho melancolia do passado”. Daniel Serrão assume que tem falado muito e escrito pouco. “Irei compilar muita coisa dispersa e publicar alguns livros” – anunciou este professor. O primeiro trabalho a ser publicado será sobre a história do seu saneamento na década de setenta. Já foi entregue na editora e terá como título «Um saneamento político exemplar, 33 anos depois».

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