«Há falta de preparação para a paternidade»

Pe. Querubim Silva afirma que a lacuna no acompanhamento dos filhos é também «culpa do Estado» Um estudo realizado pelo Conselho Nacional da Educação (CNE) aponta que 23% das crianças portuguesas são atingidas pela pobreza. Um número que supera inclusive a realidade dos adultos atingidos pelo fenómeno da pobreza ( 21%). O estudo “A educação das crianças dos 0-12”, apresentado ontem, dia 20, indica ainda que as crianças portuguesas são mais vitimizadas do que em qualquer outro país da Europa e que as crianças portuguesas são das que menos brincam com os pais, tendo na televisão a principal fonte de entretenimento. Para o Pe. Querubim Silva, membro do Conselho Nacional de Educação designado pela Conferência Episcopal Portuguesa, as questões da pobreza associadas à desnutrição, à falta de meios e ambientes para o aproveitamento escolar são factores de insucesso. Há uma “clara lacuna no acompanhamento dos pais”, mas esta lacuna, reconhece o sacerdote, “por vezes sintoma de incúria, é também fruto de circunstâncias sociais em que os pais vivem”. Para sobreviver e responder à necessidade dos filhos, “os pais acabam por descuidar o acompanhamento aos filhos”. O problema dos maus tratos às crianças é “demasiado camuflado”. Com frequência se encontra, mesmo em famílias equilibradas, “falta de paciência e de amor, que no fundo é o suporte pedagógico”. O Pe. Querubim aponta mais “maus tratos camuflados do que o que se imagina”. A impreparação de muitos pais para assumirem tarefas educativas e paternidade conscientes, são exemplos disso mesmo. “Hoje as solicitações fora de casa são muitas. E não tenhamos ilusões, muitos adultos são capazes de trocar o cuidar dos filhos por um pouco de divertimento”, aponta. O Pe. Querubim indica que “ganhar-se-ía mais se na organização laboral e social houvesse um maior destaque à família, com espaço para acompanhamento educativo”. “Estar grávida é correr o risco de perder o emprego, depois vem o período de aleitamento”, lembra o sacerdote, apresar de, “muitas coisas terem melhorado, claro, o panorama geral ainda não é suficiente”. Face ao contexto social e aos próprios números que indicam a baixa de natalidade, o Pe. Querubim Silva interroga-se se “em breve teremos crianças para educar”. O acréscimo da população por via da imigração “trará novos problemas”, adianta. A sociedade portuguesa não perspectiva “um acréscimo de população e um acompanhamento condigno daqueles que serão o futuro”. “Estamos a criar um contexto pior ainda do o que actualmente vivemos. Não tenho dúvidas”, enfatiza. Acerca das medidas propostas pelo CNE para melhorar a qualidade do ensino ministrado às crianças até aos 12 anos, o representante da CEP acredita ver nas propostas “medidas mais harmoniosas e vantajosas”. De forma faseada, à semelhança do que acontece noutros países, “a monodocência coadjuvada e o estabelecimento de etapas são positivos”, indica. Estas medidas representam uma ruptura com a forma actual, mas passadas as ressistências, “com o auxílio de uma monitorização e avaliação adequadas de equipas inter-profissionais, poderão conduzir a resultados positivos”. O Pe. Querubim Silva aponta a necessidade de conjugação entre iniciativas estatais, por via de estruturas de iniciativa da sociedade civil que prestem o mesmo serviço público e as parcerias familiares. Um programa de renovação como este “implica repensar as políticas familiares”, sublinha. O sacerdote rejeita a possibilidade de se cair num assistencialismo estatal, mas reconhece “um ambiência ideológica que tem tornado tudo estatal”. O sacerdote adverte por isso, que as parcerias com as IPSS e as autarquias são absolutamente necessárias. “Qualquer democracia reconhece que as respostas têm de ser múltiplas”, com uma “participação coordenada, é claro”, mas sem a participação da sociedade civil, onde se inclui confissões religiosas, “não será possível levar adiante uma educação capaz”. O Pe Querubim Silva lembra ainda que a fase entre os 6 aos 12 anos é fundamental na estruturação de bases para aprendizagens futuras.

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