Guiné-Bissau: diversidade cultural

A Guiné-Bissau é um pequeno país, do tamanho do Alentejo, situado entre os países francófonos da África Ocidental. Apesar de apenas ter cerca de 5% de católicos (sendo a religião tradicional africana a mais praticada – 50% – seguida da muçulmana – 45%) a Guiné-Bissau é constituída por duas dioceses: a de Bissau e a de Bafatá. Foi nesta última, que abrange as zonas leste e sul do país, que passei cerca de dois anos da minha vida, numa diversidade cultural muito singular, onde interagem várias etnias, que são essencialmente marcadas por uma cultura e religião diferentes.

A minha residência era a leste, na cidade de Bafatá, a 120 km da capital Bissau. A minha casa estava excelentemente localizada no planalto com vista para o rio Geba, dentro da cúria de Bafatá. O meu trabalho na FEC (1), com quem trabalhei três anos, era com as escolas ligadas à Diocese de Bafatá e por isso deslocava-me frequentemente no leste e a sul.

O leste, que faz fronteira com o Senegal e a Guiné-Conacri, vive do comércio, para além da agricultura, que é a principal actividade do país.

A caminho do sul o isolamento aumenta, as estradas tornam-se cada vez mais difíceis, tornando longos os pequenos trajectos. São zonas isoladas e de rara beleza, para quem vai de visita, mas um pouco duras para quem tem que lá viver o seu dia-a-dia.

Existem missões que se encontram em sítios que estão de tal forma isolados que nem os transportes públicos transitam, algumas delas em plena floresta de Cantanhez. O mesmo se passa em Bolama, a ilha que foi capital da Guiné-Bissau, candidata a património da humanidade, onde ainda se reconhece o estilo arquitectónico português do tempo colonial.

Nestas regiões, o acesso a uma educação e saúde básicas é muito precário e assim a Igreja Católica tem um papel importante nestas áreas. Quase metade da população guineense é analfabeta e este número aumenta substancialmente se tivermos em conta apenas as mulheres e as regiões mais isoladas.

Este país está entre os dez mais pobres do mundo (2). Toda a gente ouve falar na instabilidade política de que este país tem sido alvo. A maioria da população guineense não tem acesso a electricidade, água potável, esgotos e não tem sistema de recolha de lixo.

Como é viver num país assim? Acho que só quem experimenta é que consegue verdadeiramente perceber o prazer dos sorrisos imensos e genuínos das crianças, da força do trabalho das mulheres, sempre de cabeça erguida, das paisagens imensas de cortar a respiração, dos cheiros e dos sabores que, como diz o provérbio: “Primeiro estranham-se e depois entranham-se!”.

Nunca vou esquecer os fins de tarde passados na ponte sobre o rio Geba, as noites de lua cheia reflectida na água, quanto tudo à volta era escuridão, o som dos batuques que marcam o ritmo dos corpos e da vida, as longas conversas com o bispo de Bafatá, D. Pedro Zilli, sempre acompanhados com as suas histórias sábias…

O que aprendi? Tanta coisa, mas uma marcou-me especialmente: nunca perdermos as nossas referências. Termino com um dos meus provérbios africanos favoritos (cantado pelo grande cantor guineense José Carlos Schwartz): “Po tudu tarda ki tarda na iagu i ka ta bida lagartu” (o tronco, por mais tempo que fique na água nunca será crocodilo).

Sara Poças

NOTAS:

1 – Fundação Evangelização e Culturas

2- Dados do Índice de Desenvolvimento Humano, do Relatório de Desenvolvimento Humano 2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

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