Guiné-Bissau: «Aqui a fraternidade é uma realidade» – Irmã Fátima Gama

Missionária do Espírito Santo conta que relação entre membros de várias religiões é de proximidade e respeito

Foto: Ir. Fátima Gama

Lisboa, 29 set 2022 (Ecclesia) – A irmã Fátima Gama, Missionária do Espírito Santo na Guiné-Bissau, contou à Agência ECCLESIA que as religiosas participam nos” momentos importantes” das várias religiões e que a “fraternidade é uma realidade”. 

“Eu acho que aqui é fraternidade que se vive no meio onde estou, posso dizer que, de modo geral na Guiné, até hoje, apesar de haver vozes que, creio, serem isoladas e podem fazer crer outra coisa, mas dos anos que vivo cá e do que percebo, há uma convivência pacífica da religiões, em que a fraternidade é realidade”, explica à Agência ECCLESIA.

A Missionária do Espírito Santo, atualmente a dar aulas de psicologia e introdução à economia, depois de ter ensinado língua portuguesa, refere que também em contexto escolar a relação entre membros das várias religiões é de proximidade e respeito. 

“Os alunos que frequentam estas escolas são bem aceites, sejam de qualquer religião, no corpo docente encontramos professores cristãos, muçulmanos, ou outros que continuam fieis à religião tradicional, isso não é problema, é uma riqueza, e não tenho nada a assinalar de difícil ou conflito que seja proveniente de diferentes religiões”, conta. 

A irmã Fátima Gama destaca que, por exemplo nas celebrações, festas e momentos importantes, “todos são convidados e celebram juntos”. 

Se há festa dos cristãos todos são convidados e vêm com alegria, se é dos muçulmanos pois também participamos na medida que podemos”.

A religiosa citou ainda um “exemplo pequenino” de um aluno muçulmano ter “aprendido mais sobre a religião cristã”. 

“Uma das disciplinas que a escola tem é “cultura religiosa”, uma disciplina aberta que não fala só de religião cristã, mas apresenta as várias religiões e educa para diálogo religioso e lembro-me de um ano em que lecionei esta disciplina, trabalhámos sobretudo com a Bíblia e um dos alunos que era muçulmano, para minha surpresa, disse que aprendeu muito e que tinha aprendido coisas que nem os cristãos sabem”, recorda.

A irmã Fátima Gama está na zona de Cacheu, na Guiné, onde “predomina a etnia manjaca” e onde os “cristãos são uma minoria” mas “beneficia” do caminho feito pelos missionários ali presentes há mais de quatro décadas.

“Os missionários que passaram por cá fizeram um trabalho de aproximação das pessoas, da descoberta da cultura local e participação dos momentos importantes; além disso houve o estudo da língua local e que hoje a liturgia cristã está traduzida na língua manjaca e permite que os cristãos possam rezar e celebrar na sua própria língua”, conta.

A entrevistada reforça que a presença dos missionários se centra no “caminho a fazer com o povo”, sem pressionar ninguém mas dando testemunho. 

“O modo como vivemos no meio deles, partilhando as mesmas condições de vida das pessoas de cá, é já um testemunho e interpelação”, resume. 

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, no próximo sábado, ficando depois disponível online e em podcast.

SN

Lisboa: Congresso Missionário é dedicado à «fraternidade sem fronteiras» (c/vídeo)

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