Guimarães: I Congresso sobre a morte retirou «temática tabu» da «redoma»

Iniciativa do Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização é para continuar nos próximos anos 

Foto: O humorista Ricardo Araújo Pereira foi um dos conferencistas do I congresso ‘A morte: Leituras da humana condição’ (CLEPUL UL)

Guimarães, 25 fev 2019 (Ecclesia) – O Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização (IEAC- GO) faz um balanço muito positivo do I congresso ‘A morte: Leituras da Humana Condição’ e já perspetiva avançar com uma nova edição do projeto.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a presidente da comissão organizadora do congresso, que decorreu em Guimarães entre 21 e 24 de fevereiro, destaca o debate que se gerou entre representantes de várias áreas e saberes e que permitiu abordar “mais a fundo” uma temática “que continua a ser tabu” na sociedade.

Para Eugénia Magalhães, “foi interessantíssimo ouvir técnicos de saúde dizerem que não têm esta questão integrada na sua formação”, ou “antropólogos relevarem a necessidade de termos mais estudos sobre esta temática” e mesmo “psicólogos admitirem que este é um tema tabu também no seu setor”.

“É neste encontro de perspetivas e conclusões que também podemos avançar, porque se não soubermos escutar continuamos numa reflexão ainda muito em redoma”, considera a investigadora.

O I congresso sobre ‘A morte: Leituras da Humana Condição’ contou com mais de uma centena de comunicações e oradores provenientes das mais variadas áreas do conhecimento, desde a Teologia à Arte, passando pelo Urbanismo, a Arquitetura, a Sociologia, a Saúde, o Direito e a Economia, a Filosofia e a Comunicação.

Eugénia Magalhães salienta que o interesse que rodeou o evento, em termos do número de comunicações, só reforçou mais a convicção de que “este tema é absolutamente fundamental na sociedade atual”, ainda que não seja fácil falar dele.

“Nós vivemos numa sociedade que tende a ignorar essa temática da morte, que tende a retardar o envelhecimento como se essa fase não existisse, como se efetivamente não tivéssemos esse percurso”, aponta aquela responsável, que perspetiva mais congressos sobre esta temática no futuro.

“Não vamos abandonar definitivamente esta ideia, de todo, porque confirmámos aqui que de facto temos de abrir horizontes em termos da análise científica, em termos das nossas atividades profissionais”, frisa Eugénia Magalhães, que destaca a preocupação de “ir à procura de temas que rompam com aquilo que já está a ser debatido”.

Entre o grupo de oradores que participaram no evento, destaque para intervenções como a do humorista Ricardo Araújo Pereira, que refletiu sobre ‘Morte e humor’; e para o arquiteto Filipe Fontes, que abordou ‘A morte como perda, o cemitério como memória, a cidade como infraestrutura e vida: a inclusão da morte na vida da cidade’.

Realce também para a presença de responsáveis da Igreja Católica em Portugal, como o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, e o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga; e para os debates à volta de matérias como a ‘importância da espiritualidade nos processos dos cuidados de saúde’, o ‘direito a morrer’, a ‘morte nos media’, as ‘decisões clínicas em final de vida’, temas que invocam problemáticas que têm estado muito presentes no espaço público, como a eutanásia e o suicídio.

“Eu creio que este é um caminho aberto aqui também a partir de Guimarães, a terra onde Portugal nasceu, que acreditamos irá continuar a dar um contributo para que exatamente a morte não seja um tabu mas uma dimensão perfeitamente integrada na realidade da existência e na vida de todos nós”, sustenta Paulo Alves.

O presidente da Comissão Científica do Congresso releva a intenção do IEAC- GO continuar a promover iniciativas que desafiem a sociedade e envolvam cada vez mais os vários campos do saber.

“Esta solidariedade, este encontro entre as ciências que aqui se gerou não é habitual, até noutros espaços de natureza académica, que acabam por afunilar ou agir a partir de um conjunto de pergaminhos que não permitem de algum modo esta ventilação e corrente interna entre as diferentes perspetivas”, considera Paulo Alves.

O Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização (IEAC-GO) é uma associação privada, sem fins lucrativos, formalmente constituída por 24 membros fundadores, no dia 23 de dezembro de 2017, no Santuário de Fátima.

JCP 

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Agência ECCLESIA

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