Guarda: Homilia da Última Ceia – Missa da Instituição

Celebramos, nesta Quinta-Feira Santa, a memória da Instituição da Eucaristia, e também do Ministério Sacerdotal e do Mandamento Novo do Amor.

Cumprindo a tradição do seu Povo, Jesus celebrou com os discípulos a Ceia Pascal.

Mandou preparar o lugar, uma sala ampla, no andar de cima, com o cordeiro pascal, a pão ázimo, a taça do vinho e as ervas amargas.

Com o ritual da Ceia, anualmente celebrada em família, o Povo fazia memória da libertação do Egipto e em particular daquela passagem do anjo exterminador que poupou os primogénitos dos Israelitas, quando todos estavam preparados para partir, cingidos os rins, sandálias nos pés e cajado na mão fugindo à escravidão do Faraó.

Este era o ritual previsto e com seu simbolismo próprio.

Jesus introduziu nele duas novidades e a surpresa do lava-pés.

As novidades introduzidas no ritual desta Ceia foram as palavras pronunciadas sobre o pão e as pronunciadas sobre o cálice. Com as novas palavras Jesus dá a saber ao seus discípulos que, a partir de agora e para o futuro, sempre que repetirem este gesto e estas palavras é a Sua Pessoa que se faz presente, na atitude de entregar a vida pela salvação do mundo. Desta forma, Jesus antecipava a morte na cruz com todos os seus efeitos redentores e assim se deu a instituição da Eucaristia, que passou a fazer memória de outra libertação e de outro êxodo, ou seja, a passagem da morte à vida pela Páscoa de Cristo.

Por isso, a comunidade cristã percebeu, desde o início, que a Eucaristia é o grande tesouro onde se conserva a própria Pessoa de Jesus com o gesto de amor sem limites, que vai até à morte na cruz, para salvação do mundo. E, em cada Celebração Eucarística, volta-se para este tesouro e procura tirar dele toda a motivação e força necessárias para continuar, nos tempos atuais, a pôr em prática o exemplo de Jesus.

Por sua vez, o gesto surpreendente do lava-pés, que hoje recordamos, é o exemplo de amor e serviço, por excelência, que Jesus deixa aos seus discípulos; e ele próprio o explica com estas palavras – Se eu que sou mestre vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, assim como eu fiz, fazei vós também.

O simbolismo deste gesto está principalmente em que eram os servos que lavavam os pés aso seus senhores. Por isso, Pedro não queria aceitar tanta humildade na pessoa de Jesus, que, assim, voluntariamente se colocava ao nível do escravo. Mas, com ele, Jesus também quis fazer um último apelo de conversão àquele que o haveria de entregar nessa mesma noite.

Na realidade, Jesus apresenta, com o gesto do lava-pés, a explicação mais acabada do mandamento novo do amor no qual se resume toda a lei.

Por isso, como Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo os amou até ao fim, também nós seus discípulos somos convidados a fazer o mesmo, isto é, a amar até às últimas consequências.

Esse é, de facto, o caminho que nos aponta a Eucaristia.

E como os discípulos de Emaús reconheceram Jesus ao partir do Pão, também nós hoje o queremos reconhecer ao celebrarmos a Eucaristia, no mesmo gesto de entregar a sua vida pela vida do mundo

O V Congresso Eucarístico Nacional que estamos a preparar e se vai realizar em Braga convida-nos a acompanhar os discípulos de Emaús neste reconhecimento de Jesus ao partir do pão, ou seja na Celebração Eucarística e a descobrir que esta partilha alimenta a esperança.

Por sua vez, o caminho da partilha qua a Eucaristia nos aponta é também o caminho pelo qual cada comunidade de Fé se constrói, porque da Eucaristia nasce a Igreja. E, ao nascer da Eucaristia, transporta consigo o mandato de fazer como Jesus fez, no lava-pés.

Olhando ainda ao V Congresso Eucarístico Nacional, que se vai realizar dentro de dois meses, desejamos que a sua preparação próxima e realização sejam oportunidade bem aproveitada para renovar a vida eucarística em toda a nossa Diocese. Ora, nós temos a boa tradição do Lausperene, que, desde os anos 50 do século passado, compromete cada Paróquia, num determinado dia do mês a fazer adoração Eucarística. Queremos agora remotivar e renovar esta boa prática recebida da tradição e também na celebração de Quinta-Feira Santa, confiar ao Senhor da Eucaristia este nosso propósito.

Com a instituição da Eucaristia, Jesus ofereceu aos discípulos a forma mais surpreendente de cumprir a promessa que lhes fez de estar sempre com eles. De facto, principalmente na Eucaristia, Ele está sempre connosco, disponível para nos escutar, para nos animar na caminhada da Fé, esperando que partilhemos co Ele as nossas alegrias e esperanças, como também as dificuldades.

É por isso que a Fé na presença real de Jesus no mistério da Eucaristia é dos traços mais marcantes da vida Cristã. Ela é para nós hoje memória viva da entrega que Jesus fez de si mesmo para salvação do mundo, é convite para que, com Cristo, também nós, enquanto seus discípulos, nos entreguemos pela mesma causa, e é presença real de Jesus continuada no meio de nós.

Por isso, temos os sacrários nas nossas Igrejas, fazemos a adoração ao Santíssimo Sacramento, que no dia de hoje nos é especialmente recomendada e para ela nos encaminha a procissão solene com o Santíssimo Sacramento que encerra esta Celebração. E somos convidados a dedicar algum tempo para adoração eucarística, ao longo desta noite; adoração solene que tem tradição nas Igrejas da nossa cidade que para isso se prepararam e aguardam a nossa visita.

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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