Grandes passos em direcção ao ecumenismo: são ainda possíveis?

A Europa precisa das Igrejas unidas, não de qualquer forma monolítica mas em estruturas que respeitam a diversidade e a pluralidade Escrevi para esta publicação, há dez anos um breve artigo sobre o tema em epígrafe, necessariamente conciso, no contexto do entusiasmo pela então recente Assembleia Ecuménica de Graz e das preparações para a celebração do Jubileu 2000. Solicitam-me agora, decorrida uma década, a modesta opinião, para avaliar a situação actual comparando-a com as “propostas” então feitas. Relendo o que escrevi e comparando os desideratos com o presente estado do movimento ecuménico constato que estamos ainda bem distantes da concretização dos alvos ideais, o que evidentemente, para o cristão, pessoa de Fé e Esperança, não é confissão de frustração ou fracasso, antes admissão de duas preciosas realidades: a de que sem utopia não avançamos nunca e a de que são na realidade muito imponderáveis as evoluções e os desenvolvimentos do acontecer humano no tempo e no espaço. Façamos sucinta revisão da década: Assente toda a poeira das celebrações da passagem do Milénio, com suas utopias e seus apocalípticos receios, assistimos ao ruir das torres babélicas de Nova Iorque; às guerras vindicativas no Afeganistão e no Iraque que ainda duram e durarão; a alguns horrorosos atentados; a cataclismo naturais pavorosos, reveladores da revolta da natureza contra os abusos do homem; ao desaparecimento da figura carismática de João Paulo II e entrada na cena ecuménica de um teólogo rigoroso da craveira de Bento XVI; à eleição de novos dirigentes no CMI e em diversas Igrejas empenhadas no Ecumenismo que não vemos, infelizmente, mais unidas, mesmo interiormente, devido a controversas decisões relativas ao acesso ao ministério em dissonância com a ética sexual tradicional; ao decréscimo numérico do número de cristãos praticantes na Europa; à renovada insistência católica-romana em posições que considerávamos em vias de superação; ao proliferar de Religiões não-cristãs e Novos Movimentos Religiosos com grande impacto no tecido social de diversos países; ao crescimento do secularismo em todas as áreas da vida, penetrando mesmo largos sectores cristãos especialmente no que concerne a questões éticas fundamentais; ao alastrar da permissividade sexual; à realização de alguns importantes acordos teológicos (como foi o sobre a Justificação) e a grandes conclaves ecuménicos, como o recente em Sibiu, etc, etc. Com tudo isto é óbvio que a situação actual apesar de alguns passos positivos é menos promissora do que a de há dez anos atrás. Ao celebrarmos o Centenário do Oitavário de Oração pela unidade dos Cristãos temos de confessar e reconhecer estes factos. Mas um tal panorama, tendo como pano de fundo uma Europa agora alargada a 27 países, e necessitada de recorrer a todos os seus valores para construir a sua integração, deve constituir para todas as Igrejas e todos os cristãos um aliciante desafio a uma persistente e renovada procura de unidade, baseada, como apontei em 1998, numa metanóia profunda e não apenas de palavras; na busca de uma unidade que respeite as diversidades étnicas, históricas e espirituais e assegure a vivência do essencial da Fé e na preparação de um Concílio Cristão Geral, onde à luz da situação que vivemos, se procurem as soluções que possam verdadeiramente contribuir para a consolidação da estrutura moral e espiritual cristã desta nova Europa, que sem tal cimento dificilmente se conservará em paz. A reconciliação dos povos no interior da Europa e a efectivação plena dos direitos humanos de todos que nela vivem exigem urgentemente uma tomada de consciência muito séria por parte das Igrejas, pois grande é a sua responsabilidade perante os grandes problemas que hoje interpenetram os tecidos sociais das nações, dos quais o menor não é o dos milhares de imigrantes. A Europa precisa das Igrejas unidas, não de qualquer forma monolítica mas em estruturas que respeitam a diversidade e a pluralidade e contribuam para uma prática salutar do Amor fraterno na vivência de um Baptismo mutuamente reconhecido, de Ministérios reconciliados e de Sacramentos compartilhados. O Ecumenismo é hoje um desafio ainda maior! Sem ele não é possível a Paz! Ireneu Cunha, Bispo Emérito da Igreja Metodista

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