Gerar vínculos de confiança

A sociedade portuguesa, também ela comprometida com a globalização, vive hoje confrontada com um problema cuja dimensão está longe de ser totalmente conhecida e cuja face mais visível surge traduzida pelo fenómeno do desemprego. Os números agravam-se a cada dia que passa, como o tem lembrado, e continuará a fazê-lo, a comunicação social. Trata-se de um cenário que atinge proporções de gravidade, também na medida em que a falta de trabalho toca a dignidade de muitos, individualmente considerados, mas também as famílias de que são parte. São muitos os que se reclamam donos das receitas certas para obstar à situação. Infelizmente, não raro são os mesmos que de algum modo sempre protagonizaram as intervenções nesta área fundamental do convívio comunitário, independentemente do tempo e do seu sabor. É certo que o problema não se resolverá apenas com o esforço da comunidade nacional. Mas estar à espera que o mundo resolva sempre os nossos problemas caseiros é um erro. Vale a pena lembrar a cada um que tem aqui um papel a desenvolver. A Igreja Católica vive nesta crise muita da credibilidade social que lhe é própria, pese ainda não ter encontrado, como parece, o registo certo para enfrentar os desafios a que uma secularização ideologicamente conduzida a tem obrigado. Não tanto pelo que pode e deve fazer, muito para além do que já realizam as inúmeras instituições com intervenção na área social, mas também pela participação daquelas e de outras instituições eclesiais na criação activa de oportunidades de trabalho. Oferecer trabalho a quem o não tem é hoje, talvez mais do que nunca, a ‘oitava’ obra de misericórdia. Mas a Igreja Católica pode ainda fazer algo de muito próprio, juntando ao esforço de outros um contributo de envergadura: a reconstrução de um tecido de confiança é hoje um verdadeiro imperativo colectivo. Só essa confiança permitirá que as mulheres e os homens do nosso tempo respirem num mundo assim conturbado sem perderem a esperança; ou até que a encontrem de novo, onde porventura ela se tenha já esfumado.

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