Frei Bernardo Vasconcelos: o poeta místico

Frei Bernardo Vasconcelos foi um dos “maiores poetas místicos do nosso país, apesar de ter vivido apenas 30 anos” – sublinhou Frei Geraldo Coelho Dias, Monge Beneditino e Professor da Universidade do Porto, em relação a Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos. As suas poesias impressionaram profundamente os meios católicos da década de trinta e ainda hoje os seus versos catapultam a nossa alma para “os confins do sonho e da espiritualidade” – realçou Frei Geraldo Coelho Dias na celebração do primeiro centenário do nascimento (7 de Julho de 2002), em S. Romão do Corgo, Celorico de Basto.

Tendo decidido fazer-se monge, travou amizade com D. António Coelho e começou por fazer uma experiência no mosteiro de Samos, na Galiza. Deixou a família e o Marvão a 15 de Agosto de 1924. Fez o postulantado em Singeverga e a 11 de Setembro partiu para aquela região espanhola, onde fez o noviciado. A 24 de Setembro de 1924 tomou o hábito beneditino com o nome de Frei Bernardo da Anunciada. Fez a profissão solene na Igreja de S. José da Póvoa de Varzim, a 29 de Setembro de 1928.

Iniciou em Samos, os estudos em ordem ao sacerdócio, começando pela filosofia. A 25 de Setembro de 1926 partiu para Lovaina, Bélgica, a fim de estudar Teologia na Abadia de Mont-César. Acometido pelo mal de Pott (tuberculose óssea), os médicos aconselharam-no a regressar a Portugal. Na busca da recuperação, submeteu-se a tratamentos médicos no Porto (foi operado duas vezes). Passou temporadas na zona da Foz do Douro para receber iodo e banhos de sol. Decidido a ordenar-se sacerdote continuou a estudar Teologia e publicou, nos finais da década de 20, na revista “Opus Dei”, uma série de artigos que deram origem ao livro “A missa e a vida interior”.

O Pe. Jorge Ferreira, OSB e vice-postulador da Causa de Beatificação e Canonização de Frei Bernardo Vasconcelos, referiu à Agência ECCLESIA que ele “tem a consciência de que a sua missão/pregação aos outros não é tanto pela palavra oral mas pela escrita”.

Nos últimos seis anos de vida (1926 a 1932), Frei Bernardo Vasconcelos sofreu bastante mas soube espiritualizar o sofrimento e fazer dele um “Cântico de Amor”. – escreveu Frei Bernardo Vasconcelos. Veio a falecer na Foz do Douro, quando faltavam três dias para completar 30 anos, a 4 de Julho de 1932. “O funeral dele foi uma homenagem de triunfo” – referiu o Pe. Jorge Ferreira.

Fama de santidade
A 5 de Julho de 1982, o conselho de presbíteros de Braga enviou a João Paulo II uma carta a solicitar que autorizasse a abertura do processo canónico em ordem à beatificação e canonização. “Foi aberto a 4 de Julho de 1983 e concluído a 9 de Outubro de 1987. Consta de dois volumes, que o então postulador da causa, D. Gabriel de Sousa, entregou a Congregação para a Causa dos Santos, em Roma. Um, de 456 páginas, com as cartas pessoais de Frei Bernardo, o outro, com 562, tem testemunhos da sua virtude e fama de santidade” – (In: Diário do Minho de 24 de Abril de 2002).

Novidades “não existem” – realça o Pe. Jorge Ferreira. E acrescenta: “o que falta verdadeiramente, como outros que estão nas mesmas circunstâncias, é o milagre”. Falecido antes dos trinta anos mas “muito conhecido”. Desde os tempos de Coimbra que “conseguia arrebatar muita gente”. Depois, os fiéis continuaram a “pedir-lhe graças”. Estas estão publicadas no boletim quadrimestral para “manter viva a chama sobre a devoção a ele” – frisou o Pe. Jorge Ferreira.

Nas poesias, ele penetra muito bem no sentido “teológico-litúrgico dos sacramentos, doação e sacrifícios”. Frei Bernardo Vasconcelos estava “fadado para dar a vida pelos outros”. Mesmo vivendo pouco tempo, este monge beneditino bebeu muito rapidamente a regra de S. Bento sem esquecer a sua veia poética. “Não perdia tempo nenhum e colocava-se logo a escrever” – disse

Alguns escritos
Frei Bernardo Vasconcelos foi autor de vários livros, um dos quais, “Cântico de Amor”, veio a público no próprio dia do seu falecimento. “Vida de amor”, publicado postumamente, em 1933, é uma espécie de autobiografia extraída dos seus escritos e cartas. Escreveu também “A vida de S. Bento contada às almas simples”; “Poesias dispersas”; “A missa e a vida interior”; “As nossas festas”; “Do ideal cristão” e “Eucaristia e ideal cristão”.

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