«Fraternidade Humana»: Dois anos depois de Abu Dhabi, memórias em português de um católico e um muçulmano (c/vídeo)

Pedro Gil e Khalid Jamal acompanharam nos Emirados assinatura de declaração «histórica» que inspira nova jornada da ONU

Lisboa, 04 fev 2021 (Ecclesia) – Pedro Gil, católico, e Khalid Jamal, muçulmano, estiveram em Abu Dhabi a 4 de fevereiro de 2019, na assinatura da declaração sobre a fraternidade humana que uniu o Papa o grande-imã de Al-Azhar, abrindo caminho à nova jornada da ONU.

A 21 de dezembro de 2020, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou unanimemente o dia 4 de fevereiro como Dia Internacional da Fraternidade Humana.

A resolução convida os Estados-membros a celebrar este Dia para “promover o diálogo inter-religioso e intercultural”.

A iniciativa inspira-se na declaração católico-islâmica para a paz mundial e a convivência comum, um momento histórico

Pedro Gil, diretor do gabinete de imprensa do Opus Dei, recorda uma ocasião “histórica”, que acompanhou de perto, na primeira viagem de um Papa à Península arábica, que se tornou “muito especial”.

“Ao ouvir falar da declaração sobre a fraternidade humana, dei-me conta de que era um acontecimento fora do comum”, refere à Agência ECCLESIA.

Para o responsável, a fórmula assumida e proposta em Abu Dhabi é a “do relacionamento e do encontro”, desenvolvida pelo Papa na encíclica ‘Fratelli Tutti’, de outubro de 2020.

“Há uma enorme clarificação e iluminação sobre qual é o caminho certo a percorrer”, aponta.

Pedro Gil admite a “surpresa” com a mobilização do país para receber o Papa Francisco, com bandeiras do Vaticano e mensagens de receção, levando-o a deixar de lado alguma “desconfiança” inicial.

“Da parte da cultura oferecida, institucionalmente, e da comunidade política, vi muito maior recetividade e agrado no acolhimento da fé cristã do que hoje em dia existe no Ocidente”, assinala o entrevistado.

Num país com 8 milhões de imigrantes, o português viu nos Emirados capacidade de “aceitação e adaptação” na sociedade, para encontrar “fórmulas agregadoras”.

Khalid Jamal, dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa, admite que, há dois anos, ninguém teria a noção completa do “impacto que esta visita iria ter”.

“Estamos aqui perante um facto absolutamente histórico”, que veio “reinaugurar, quase, as relações entre muçulmanos e católicos”, observa.

O responsável fala dos Emirados como um país de “expatriados”, no qual se tem feito o esforço de “assegurar que aqueles que lá vivem e não são muçulmanos têm condições para praticar a sua religião”.

Simbolicamente, a declaração de 2019 inclui a preocupação da proteção dos locais de culto e contra o uso da religião para justificar o terrorismo.

Para Khalid Jamal, este texto pretende ser “um poderoso instrumento de trabalho” em favor da paz e do diálogo.

“Eu e o Pedro íamos meio a férias, meio a passeio, à descoberta, no caso dele, e acabamos por presenciar um momento extraordinário, tão especial nas relações entre muçulmanos e católicos”, recorda.

Pedro Gil sublinha que esta mensagem “compromete ambas as partes por igual, com sinceridade”.

“A cura das nossas relações, ou nasce de Deus ou não se consegue”, acrescenta.

Os dois entrevistados integram um programa de diálogo inter-religioso, “E Deus criou o mundo”, na Antena 1 da rádio pública, também com participação de Isaac Assor, moderação de Henrique Mota e produção de Carlos Quevedo.

Após a assinatura  da declaração de 2019, foi criado o Comité Supremo para a Fraternidade Humana para “traduzir as aspirações do documento em compromissos duradouros e ações concretas para fomentar a fraternidade, solidariedade, o respeito e a compreensão mútua”.

O Comité Supremo está a planear uma Casa da Família Abraâmica, que contempla uma sinagoga, uma igreja e uma mesquita na ilha Saadiyat, Abu Dhabi.

OC

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