Emirados: Papa e grande imã de Al-Aazhar assinam declaração inédita que condena terrorismo e intolerância

Texto conjunto assume defesa dos direitos políticos das mulheres

Abu Dhabi, 04 fev 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, assinaram hoje nos Emirados Árabes Unidos a Declaração de Abu Dhabi, apresentada como “histórica”, pelo Vaticano, que condena o terrorismo e a intolerância religiosa.

“Pedimos a todos que deixem de usar as religiões para incitar o ódio, a violência, o extremismo e o fanatismo cego, e que se abstenham de usar o nome de Deus para justificar atos de assassinato, exílio, terrorismo e opressão”, refere o documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a convivência comum.

O texto, divulgado durante um encontro inter-religioso promovido nos Emirados Árabes Unidos, parte da “crença comum em Deus”, que “não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas”.

Al-Azhar é a mais conceituada instituição teológica e de instrução religiosa do Islão sunita no mundo e a mais antiga universidade islâmica, tendo sido construída em 969.

Católicos e muçulmanos assumem que as religiões “nunca devem incitar a guerra, atitudes de ódio, hostilidade e extremismo”, nem devem incitar à violência ou ao derramamento de sangue.

Al-Azhar al-Sharif e os muçulmanos do Oriente e do Ocidente, juntamente com a Igreja Católica e os católicos do Oriente e do Ocidente, declaram a adoção de uma cultura de diálogo como o caminho; a cooperação mútua como código de conduta; a compreensão recíproca como método e padrão”.

O Papa e o grande imã esperam que a posição conjunta una em seu redor intelectuais, filósofos, figuras religiosas, artistas, profissionais dos media e homens e mulheres de cultura para “redescobrir os valores da paz, justiça, bondade, beleza, fraternidade humana e coexistência”.

No documento apela-se ao reconhecimento e implementação do conceito de “cidadania plena”, considerando “essencial” que as mulheres tenham direito à educação e ao emprego e liberdade de “exercer os seus próprios direitos políticos”.

“Também é necessário proteger as mulheres da exploração sexual e de serem tratadas como mercadorias, objetos de prazer ou de lucro”, pode ler-se.

A declaração alude a uma “deterioração moral” que influencia a ação internacional e questiona o “silêncio inaceitável” perante as crises que originam “a morte de milhões de crianças”.

“Condenamos todas as práticas que são uma ameaça à vida, como o genocídio, atos de terrorismo, deslocamento forçado, tráfico de pessoas, aborto e eutanásia. Da mesma forma, condenamos as políticas que promovem essas práticas”, acrescentam os signatários.

O Papa e o grande imã de al-Azhar pedem que ninguém seja forçado a “aderir a uma determinada religião ou cultura”, bem como a proteção dos locais de culto – sinagogas, igrejas e mesquitas.

A Declaração de Abu Dhabi assume o “objetivo de encontrar uma paz universal de que todos possam desfrutar nesta vida”, crentes e não-crentes.

Esta é a primeira viagem de um pontífice católico à península arábica, uma visita iniciada no domingo que se conclui esta terça-feira, com uma Missa para a comunidade católica nos Emirados, constituída sobretudo por emigrantes.

OC

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