«Fratelli Tutti»: Papa destaca papel das religiões em favor da fraternidade humana

Francisco cita autores e personalidades de várias confissões, na sua nova encíclica

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 04 out 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco destaca na sua nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, publicada hoje pelo Vaticano, o papel das religiões na construção da fraternidade e na rejeição do extremismo.

“As religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue”, escreve.

O documento, que tem como temática central a fraternidade e amizade social, cita em várias ocasiões a inédita declaração sobre a fraternidade humana que foi assinada em Abu Dhabi (2019) pelo Papa e pelo imã de Al-Azhar, a mais prestigiada instituição do Islão sunita.

“Declaramos adotar a cultura do diálogo como caminho; a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério”, refere.

A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Fratelli Tutti ‘ (todos irmãos) remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.

Francisco recorda a visita do santo de Assis, há 800 anos, ao Sultão Malik-al-Kamil, no Egito, em busca da paz.

“É impressionante que São Francisco apele a evitar todas as formas de agressão ou contendas e também a viver uma ‘submissão’ humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse a sua fé”, indica.

O Papa fala da importância de refletir sobre “o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos”.

“Não se pode admitir que, no debate público, só tenham voz os poderosos e os cientistas. Deve haver um lugar para a reflexão que provém de um fundo religioso que recolhe séculos de experiência e sabedoria”, observa.

O Papa apela a uma Igreja que “serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade”.

O texto pede ainda que seja garantida liberdade de culto aos cristãos e apresenta a liberdade religiosa, “para os crentes de todas as religiões”, como um direito humano fundamental.

Além de vários Papas e pensadores cristãos, Francisco cita a Eneida, Cícero, Vinicius de Moraes, os filósofos Gabriel Marcel e Paul Ricoeur, o jesuíta Jaime Hoyos Vásquez ou o sociólogo Georg Simmel, entre outros.

“Neste espaço de reflexão sobre a fraternidade universal, senti-me motivado especialmente por São Francisco de Assis e também por outros irmãos que não são católicos: Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi e muitos outros”, explica.

A última personalidade citada ‘e o beato Carlos de Foucauld (1858-1916), religioso católico, pelo seu ideal de “identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano”.

“Somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós”, deseja Francisco.

Entre os episcopados católicos citados está a Conferência Episcopal Portuguesa, com a sua carta de 2003, Responsabilidade solidária pelo bem comum, à imagem do que tinha acontecido na encíclica Laudato Si’.

Fratelli Tutti’ tem oito capítulos, com 287 parágrafos, duas orações conclusivas e 288 notas.

As duas anteriores encíclicas do atual pontificado foram a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), de 2013, que recolhe reflexões de Bento XVI, Papa emérito; e a ‘Laudato Si’, de 2015, sobre a ecologia integral.

OC

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Agência ECCLESIA

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