Francisco: «Exemplo» do Papa deu mais «credibilidade» à Igreja

Um crente e um não crente, José Tolentino Mendonça e Daniel Oliveira, em diálogo sobre os dois anos de pontificado

Lisboa, 13 mar 2015 (Ecclesia) – O político e jornalista Daniel Oliveira e o padre e poeta José Tolentino Mendonça consideram que o “exemplo” é a forma de intervenção do Papa e afirmam que Igreja está a “aprender” e a ganhar “credibilidade” com Francisco.

“É verdade que os papas anteriores falavam contra a pobreza, mas não deixavam de viver no fausto”, disse Daniel Oliveira, avaliando sobretudo a “eficácia do discurso” do Papa Francisco.

A Agência ECCLESIA e o programa ‘70×7’ promoveram este diálogo sobre o Papa Francisco, no contexto do segundo aniversário do pontificado.

“O corte que Francisco faz, desconstruindo a imagem monárquica do Papa, é algo que a própria Igreja Católica, no seu interior, está a aprender. Primeiro acontece o gesto profético e agora há uma hermenêutica do quotidiano que a obriga a fazer um caminho”, assinala o padre José Tolentino Mendonça.

Daniel Oliveira considera Francisco o Papa com “mais sentido político”, que usa os “instrumentos conhecidos da democracia” para “ganhar força dentro da Igreja”.

“O Papa percebeu que era nos mecanismos da democracia, no apoio popular que é necessário em democracia, que encontraria a força para fazer a transformação da Igreja”, sustenta.

Para José Tolentino Mendonça, o Papa “tem tido um discurso exigente e transformador”, que “nem sempre é fácil de acolher”, mas “potencia o futuro da própria Igreja”.

“No interior da Igreja Católica tem havido, nestes dois anos de pontificado do Papa Bergoglio, uma espécie de aprendizagem desta figura”, observa.

Daniel Oliveira, por sua vez, confessa que Francisco é a “figura no ativo” com quem mais se identifica.

“E nunca pensei dizer isto de um Papa”, reconhece.

Segundo José Tolentino Mendonça, Francisco “reforça” a necessidade de se fazerem “pontes efetivas” entre crentes e não crentes, para “perceber que há patrimónios comuns e grandes linhas de encontro”.

“O que une um crente e um ateu é muito mais intenso do que aquilo que nos separa”, afirmou, referindo que “a questão de Deus é sempre uma interrogação”.

“Eu também nunca vi a Deus, como o Daniel nunca o viu”, disse ainda.

“Arrisco-me a dizer: todos nós vemos Deus, de alguma maneira, mesmo eu sendo ateu”, contesta Daniel Oliveira

“Eu consigo perceber qualquer coisa que tem a ver com o amor universal, com a fraternidade humana”, acrescenta.

Para José Tolentino Mendonça, os dois anos de pontificado de Francisco ficam marcados pelas palavras “encontro” e “transformação”.

Daniel Oliveira considera que o “exemplo de Francisco” no Vaticano é o “legado mais forte” que o Papa tem deixado e coloca “a fasquia muito alta” para o seu sucessor.

Analisando o poder de simbólico da Igreja, o jornalista afirma também que o Papa contrariou a tendência das últimas décadas: “Nestes dois anos, o poder simbólico da Igreja aumentou, coisa que não acontecia há décadas. Potencialmente, este Papa mostrou que é possível a Igreja aumentar o seu poder simbólico, político e social por via do exemplo”.

O diálogo entre Daniel Oliveira e José Tolentino Mendonça vai ser emitido no programa ‘70×7’ deste domingo, na RTP2, às 11h30, e publicado integralmente na segunda-feira nos canais Ecclesia do Youtube e Meo Kanal (524995).

PR

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