«Há uma forma cristã de viver a morte e a morte deve ser vivida» – padre Amaro Gonçalo
Porto, 01 nov 2019 (Ecclesia) – O grupo “In Manus Tuas”, da paróquia da Senhora da Hora, na Diocese do Porto, nasceu para acolher e acompanhar famílias em situação de luto, uma realidade que deve ser vista como “oportunidade” para mostrar uma “Igreja próxima e companheira”.
“Eu penso que é um momento oportuno para dizer aos cristãos que também há uma forma cristã de viver a morte, que a morte deve ser vivida e não pode ser marginalizada, nem renegada, como se fosse um tabu ou algo pouco higiénico ou pouco saudável na vida das pessoas”, explicou o pároco Amaro Gonçalo, em declarações à Agência ECCLESIA.
O sacerdote refere que a experiência de fim de vida deve ser uma “oportunidade para crescer e caminhar”, mostrando uma “Igreja próxima e companheira”.
“Também nestas situações porque se perdemos o contacto com as pessoas nestes momentos essenciais, seja nascer, casar sofrer e morrer, momentos em que se abrem brechas tão importantes para a semente do amor, desperdiçamos as oportunidades”, defende.
O grupo “In Manus Tuas” nasceu em novembro de 2018, inspirando-se no lema episcopal de D. António Francisco dos Santos, falecido bispo do Porto; encarrega-se de ajudar as famílias em situação de luto, acolhendo, acompanhando e rezando, com elas, desde logo no velório que tem lugar na capela mortuária daquela paróquia.
“Vemos muitas vezes as pessoas, e são poucas, que vêm ao velório, mas que se vê que não não têm referências, nem apoio a ajudar a viver aquela hora, ora quem perde os familiares às vezes sente-se sozinho, nem tem o apoio e a consolação da oração porque muitas vezes perderam o contacto com as raízes cristãs, alguns não têm experiência de oração, outros nunca a tiveram”, refere.
O pároco refere que o “apoio pastoral na hora da morte” é um âmbito que estava por cuidar e quando se deixa de “falar de ressurreição e de apontar a esperança cristã”, quando se descuida a morte, “se foge dos horizontes específicos da fé cristã, um contributo essencial do anúncio”.
O grupo foi sendo constituído com a ajuda da conferência de São Vicente de Paulo daquela paróquia e, atualmente conta com várias integrantes, “só senhoras talvez por esta ligação à vida, à sensibilidade especial de dar vida”, explica o padre Amaro.
“Digo-lhes que se aproximem, que não tenham preocupação de dizer muitas coisas, mas que a proposta seja sempre a partir de uma conversa; às vezes propõem a oração do terço e temos uma senhora que é salmista e convida a rezar um salmo”, acrescenta.
O grupo foi ainda tendo noção que é necessário apresentar-se quando chega ao velório, vão apenas duas pessoas, e dizer que são da paróquia e estão ali a pedido do prior, pois “chegavam a ser confundidos com pessoas de outras religiões”.
A presença destas pessoas é também uma oportunidade para que não se caia nos “lugares comuns”, das “frases clichés ditas em momentos de luto e que devem ser evitadas”, “estes “missionários da esperança” seguem mesmo um rol de boas práticas que a paróquia disponibilizou no seu sítio online.
O padre Amaro Gonçalo refere que a colaboração deste grupo é também uma mais valia para si.
“Numa cidade em que nem sempre conhecemos a história e a vida das pessoas, este grupo é muito útil neste sentido, quando presido à celebração exequial estou contextualizado, sei quem são e que histórias de vida estão ali, pode ser um momento simples mas de grande significado para a família”, destaca.
Este grupo vai ser mote para conversa no programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública, no próximo domingo, pelas 06h00, ficando depois disponível no site da Ecclesia.
SN