Festejos de São Bartolomeu: a religiosidade e a tradição popular

Os banheiros voltam sexta-feira à praia de S. Bartolomeu do Mar, em Esposende, para ministrar a miúdos e graúdos o chamado “banho santo”, que segundo a tradição popular esconjura medos e cura maleitas como a gaguez, gota ou epilepsia. Mantido e difundido pela devoção popular e aceite pelo cristianismo, o banho santo continua a usufruir de toda a devoção de uma sociedade. Muitas festas e romarias incluem banhos considerados purificadores e profilácticos, tanto em fontes como nos rios e mares. Embora os banhos santos já não se realizem nos mesmos moldes, tendo perdido muita da sua importância, a verdade é que para além das celebrações litúrgicas ligadas as estas datas, as celebrações populares perduram ainda com alguma animação. O dia de São Bartolomeu, festejado a 24 de Agosto incluiu o tradicional banho santo. Em vários locais de Portugal este dia é dedicado àquele que é conhecido como padroeiro das crianças, fazendo reviver tradições que se misturam com a fé e devoção. Na foz do rio Douro, no Porto, este dia continua a ser festejado, não apenas com o banho ritual na praia, mas também com o cortejo de São Bartolomeu, ou mais conhecido, pelo Cortejo do Traje de Papel. Trata-se de um desfile que percorre as principais ruas da freguesia, com centenas de figurantes com fatos feitos em papel crepe de diversas cores, mostrando modelos antigos ou mais actuais, mas sem deixar perder a tradição. No final do desfile todos os participantes se juntam para um banho colectivo. Assim, o banho santo significa uma oferta ritual, simbolizada nos trajes de papel às águas do mar, tendo por objectivo receber os favores de São Bartolomeu. A origem da festa é anterior a 1869, sabendo-se que por esses tempos era costume acorrerem à foz ranchos de romeiros para tomarem banho. Em simultâneo realiza-se uma feira de artesanato com o objectivo de divulgar o artesanato nacional. A par dos festejos mais profanos, realiza-se uma missa solene na Igreja Matriz de São João Baptista da Foz. Assente em características supersticiosas, de devoção ou crença do povo, ainda hoje se acredita que o banho de mar tomado no dia 24 de Agosto serve de cura e prevenção contra o mal sendo o malefício exorcizado pela acção da água tornada miraculosa nesse dia por parte de São Bartolomeu. De acordo com a tradição local e com as histórias que o povo tece, São Bartolomeu foi morto e deitado ao mar, aparecendo o seu corpo nas águas da Foz no dia 24. Noutro ponto, também a norte, em Esposende vivem-se dias de festa por esta altura. Com a duração de três dias (22, 23 e 24 de Agosto), tem o seu ponto alto no dia 24, consagrado ao santo, sendo as celebrações antecedidas por uma novena (novena de São Bartolomeu). Não existem muitas mudanças a assinalar, pois desde os primórdios a romaria conserva as genuínas tradições, onde as festividades religiosas e pagãs se misturam. A afluência sempre foi grande. Antigamente, muitos romeiros chegavam a pé ou em carroças. Vinham de longe ou de perto, e chegavam a cantar em grupos. Actualmente a afluência cresceu, agora com milhares de romeiros oriundos sobretudo dos concelhos vizinhos. Das cerimónias religiosas destaca-se a Eucaristia, celebrada na Igreja Nova, da parte da manhã. A procissão tem lugar à tarde, desde a Igreja matriz, seguindo a estrada do mar até à praia, num percurso de dois quilómetros. Pára junto ao cruzeiro erguido no areal, em 1978, onde o sacerdote profere uma curta alocução. Com 14 andores e um elevado número de devotos, esta é conhecida como uma das mais grandiosas procissões minhotas. O andor de São Bartolomeu é em forma de barco alusivo ao facto do apóstolo ter sido pescador. O Padre António Frankelin Neiva Soares, conta que estas tradições remontam à Idade Média e que “inicialmente se celebravam a 24 de Julho, mas que depois com o rito romano se mudou a data para 24 de Agosto” explica em declarações à Agência ECCLESIA. Documentações só existem a partir do Séc. XIX. São Bartolomeu é conhecido como o padroeiro contra as doenças das crianças, para que o santo pudesse actuar contra o medo, a gaguez, o atraso na fala e livrá-las da epilepsia. Segundo a tradição, o banho santo deve ser tomado sempre em número impar “pois o número impar está ligado ao masculino e ao mais forte” explica. Estes ritos tradicionais misturam-se com a religiosidade. “Há claramente superstições nas tradições” afirma. “Purismos só na teoria, as crenças e as devoções acabam todas misturadas. Todos os cultos são assim. E enquanto o homem tiver problemas há-de procurar forma de os resolver. Uma delas é ir à tradição popular” afirma.

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