Festas da família. E depois?

Jorge Cotovio, Secretariado da Pastoral Familiar da Diocese de Coimbra

O Dia Internacional da Família e a Semana da Vida estão a ser pretexto para se realizarem festas dedicadas à família em muitas dioceses. Coimbra não foge à regra. Melhor, desde há dezoito anos consecutivos, foi construindo e espalhando a regra.

A festa faz parte integrante da vida, desde os primórdios da humanidade. Precisamos de fazer festa, mesmo quando (ou sobretudo porque) parecem escassear os motivos para tal. Fazer festa à família e valorizá-la é refleti-la, é proclamar, através dos pequenos e grandes meios de comunicação e nas conversas do dia a dia, a sua importância vital na sociedade e na Igreja. A pastoral diocesana precisa, pois, destes momentos solenes e mediáticos, destas oportunidades de encontro festivo.

Como são reduzidas estas oportunidades, temos a gravíssima obrigação de as potenciar. Ou seja, uma festa das famílias deve ser uma excelente ocasião para evangelizarmos, para catequizarmos, para organizarmos melhor a pastoral local de forma a atingirmos com mais intensidade e eficiência a instituição familiar.

O “depois da festa” – normalmente associado ao cansaço, à desmobilização, ao esquecimento, à rotina – tem de transformar-se num permanente desafio para as comunidades, mantendo bem acesa a chama inflamada no dia da festa.

Com alguma arte e engenho, com muita inspiração e consequente transpiração, podemos ir entusiasmando pessoas da comunidade incumbida de organizar o evento. Será oportunidade de deitar o olho a casais com especiais apetências para coordenar, decorar, pintar, elaborar cartazes, ler, falar com autoridades locais, etc. Algumas destas pessoas até podem não frequentar assiduamente o templo, mas será um ótimo ensejo para se irem sentindo envolvidas por este Deus que as ama sobremaneira…

Esta preparação cuidada será uma oportunidade para se deitar o olho a coletividades locais, convidando-as a atuar na festa. Quem sabe se algumas das pessoas que as constituem (ou familiares que as vão aplaudir) não se vão «convertendo»? E se, educadamente, se convidarem as autoridades locais, envolvendo-as nos preparativos (pedindo-lhes colaboração) e dando-lhes destaque no evento?

Como a família perpassa todas as estruturas societárias e eclesiais, porque não envolver as crianças da catequese (que arrastam sempre os familiares…), ou responsabilizar grupos de jovens por tarefas específicas, ou dar um destino sócio caritativo ao peditório? Porque não convidar um seminarista ou um sacerdote/ religioso(a) para testemunhar? São recursos preciosos que, bem trabalhados, surtem efeito e manifestam a urgência de efetivarmos uma pastoral integrada e concertada.

Neste processo organizativo, o grupo coordenador, idealmente constituído por pessoas de diversas comunidades vizinhas, aprende a encontrar-se, a pensar em conjunto, a potenciar esforços, a fruir da riqueza da «comunhão». Como até são mais do que “dois ou três” reunidos em Seu nome, Ele estará no meio deles. E a festa vai-se fazendo. E os milagres surgem.

Um percurso pedagógico (e espiritual) desta natureza, cirurgicamente pensado, dará certamente frutos (pelo menos tem-se a consciência de que «se semeou»). E a festa acontece.

E os dias e as semanas e os meses seguintes à festa, ao invés de tempos de inércia e de regresso ao passado, são desafios permanentes para a mudança, para a reativação e renovação das práticas pastorais.

Por entre ânimos e desânimos, avanços e recuos, sonhos e pesadelos, o grupo vai querer continuar o espírito da festa. Sabemos que nem todos se comprometem. Mas os resistentes, em conjunto, vão querer ajudar as famílias e vão pensar em formas criativas de o fazer: marcar reuniões periódicas para rezarem, refletirem (a Familiaris Consortio continua muito atual!) e planearem novas ações; colaborar com o pároco na preparação dos noivos para o matrimónio ou dos pais para o batismo dos filhos; preparar momentos especiais (dia da Sagrada Família, Dia do Pai, Dia da Mãe, Semana da Vida, etc.); acolher, acompanhar casais novos; ajudar discretamente (e com muita delicadeza) casais com problemas conjugais; colaborar com a catequese na preparação de reuniões de formação de pais ou nas festas (e deitar o olho a casais humanamente bons, mas nunca desafiados a integrarem um serviço eclesial); ajudar famílias que vivem situações difíceis (desemprego, doença, morte de um membro, etc.).

Assim – ou mais ou menos assim – vale a pena fazermos festa. Vale a pena termos feito festa. Vale a pena insistir, corrigir eventuais falhas, avançar. Vale a pena sermos ousados e criativos, como pedem os nossos bispos. Vale a pena olhar para além da cerca do redil e ir ao encalce da ovelha tresmalhada, do filho pródigo, das marias madalenas, dos zaqueus.

Nem a festa nem o «depois da festa» são fáceis de executar. Mas não tenho dúvidas de que também passa por aqui a «nova evangelização» de que tanto carece a nova sociedade.

Jorge Cotovio

Secretariado da Pastoral Familiar

da Diocese de Coimbra

 

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