Férias: «Arrumamos as gavetas interiores onde tem de haver perdão, reconhecimento e novo começo» – Ana Oliveira (c/vídeo)

Professora da Faculdade de Ciências Humanas aponta tempo de verão como oportunidade, depois de três meses de confinamento

Foto: Agência Ecclesia/MC

Lisboa, 08 jul 2020 (Ecclesia) – Ana Oliveira, professora da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse à Agência ECCLESIA que o tempo de verão pode ser tempo de oportunidade e “respiração de outro ar”, depois de três meses de confinamento. 

“Estas férias vão ser diferentes para muitas famílias, férias era tempo para estar juntos, a família toda junta mas, de repente, tivemos quatro meses juntos e, no entanto, pode ser tempo de oportunidade, como um tempo de respiração de outro ar”, sublinha.

Ana Oliveira aponta que pode ser ainda tempo de olhar para si próprio “de outra maneira e olhar para o que passou, para cada um com aquilo que foi capaz de viver”, nas mais variadas realidades e circunstâncias familiares. 

“Por exemplo, perceber que as crianças tiveram atos heróicos em tempo de confinamento e saibamos agradecer o termos permanecido e aguentado uns aos outros, e assim arrumamos as gavetas interiores onde tem de haver perdão, reconhecimento e um novo começo”, explica.

Num tempo de pandemia, inédito, a entrevistada aponta que estão “todos em teste e não é fácil”, porque “não se controla o futuro mas a forma de o viver”; o “erro e a zanga acontecem naturalmente mas o bom é regressar e perceber o que fazer diferente, é um teste forte”.

A docente sente que este “tempo estranho” em que vivemos, seja nas relações, ambientes e no que temos de viver “gerou impactos e marcas diferentes, conforme as idades e circunstâncias”. 

No seu acompanhamento aos jovens universitários, Ana Oliveira foi sentindo que o que fazia mais falta era o “encontro, estar com, foram percebendo que precisamos de estar uns com os outros” e as “dinâmicas afetivas que precisamos de sentir”.

“Os suportes tecnológicos foram surpreendentemente mediadores de afetos, de repente nos convertemos a pequenos instrumentos que permitiam encurtar distâncias, aprender e reinventar a forma de chegar ao outro e hoje é algo normal”, assume. 

Ana Oliveira que acompanha jovens, na faculdade e nos grupos de jovens na paróquia do Campo Grande, no Patriarcado de Lisboa, considera que esta faixa etária ficou com a “vida em suspenso”, mas estão mais fortalecidos e proativos.

Foto: Agência Ecclesia/MC

“Há duas realidades que me parece estarem a viver, uma certa sensação de tudo acabar mas a vida continua em suspenso, ninguém sabe como vai ser o ano letivo, os que acabaram não conseguiram celebrar nem despedir-se e surge o medo do que vem aí; os que entram na universidade trazem a ansiedades face às circunstâncias; a outra realidade é a criatividade nas nas relações que promovem, a forma como não perder o que é essencial sentirem que têm nas mãos o que o futuro pode vir a ser, não se querendo desconectar”, indica.

A docente enfrentou o desafio de se reinventar para “acompanhar melhor o outro” e deixar-se acompanhar, num “olhar virtual” a cada dia. 

Olhando uma “nova normalidade” Ana Oliveira deseja que todos sejam “mais humanos e mais solidários” mas que não se volte ao que era antes. 

“Oxalá não sejamos muito rápidos a voltar ao que era antes, já precisávamos disso antes da pandemia”, conclui.

O tema está em destaque na edição desta quarta-feira do programa ECCLESIA, na RTP2, pelas 15h00.

SN

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