Fazer silêncio e procurar o transcendente na Quaresma

Padre Luís Rocha e Melo propõe um itinerário de reflexão e busca interior no tempo de preparação para a Páscoa A Quaresma é um tempo de pausa. A Páscoa enquanto tempo forte na vida cristã é um apelo forte à conversão e esta conversão pode significar a transformação da própria pessoa. O Padre Luís Rocha e Melo apresenta uma proposta de “tornar o transcendente mais acessível”, pois é importante que “cada um desça ao fundo de si próprio sem medo daquilo que possa encontrar”, afirma ao Programa ECCLESIA. Esta proposta de reflexão não é facilmente aceite. Mas esta dificuldade não é apenas própria do nosso tempo. “Mas hoje mais do que nunca, porque vivemos numa sociedade onde as coisas se facilitam” e onde dificilmente se prescinde de coisas. O homem moderno e auto suficiente tem dificuldade em fazer escolhas. “Há uma cultura de facilidade, de bem estar e de qualidade de vida, que é concerteza um valor a promover mas não é um fim em si próprio”, sublinha o sacerdote jesuíta. Com tantas solicitações, o homem “tem mais dificuldade em interiorizar a sua própria vida, encontrar-se consigo próprio e com Deus”. Apesar de tudo esta procura de espiritualidade e silêncio interior “não me parecem que sejam impossíveis”, talvez exija um esforço um pouco maior do que há 100 anos, “mas o homem é o homem e está aqui para ser aquilo que é, enfrentando os desafios do mundo contemporâneo”. O jejum, por exemplo, como marca da Quaresma é um exemplo se sacrifício, mas que “actualmente é uma coisa praticamente simbólica”. O jejum não é um fim em si mesmo, tem por objectivo focar a pessoas, “de a ordenar”, porque com tantas solicitações, “a vida facilmente se desordena”, sustenta o Pe, Luís Rocha e Melo. Não é algo insuportável para o homem e “mesmo uma pessoa que não tenha fé tem que ter uma ascese na sua vida caso contrário não singra na vida”, afirma. “Se até nas coisas habituais do mundo se tem que ter uma regra para conseguir um objectivo, eu diria que muito mais na perspectiva cristã e para aquele que quer caminhar para uma plenitude de vida” e o jejum e a Quaresma servem então para “preparar uma atitude de escuta do dom de Deus que está em nós”. A sociedade moderna valoriza o externo que visa parecer interno. Proliferam propostas de ascese nos ginásios, em dietas, mas que não orientam internamente. “Atravessamos uma crise de valores”, onde o tradicional é descartável e considerado mau porque “para sermos modernos temos que deitar fora tudo o que eram antigos valores”. O Pe. Luís Rocha e Melo afirma que “na essência e estrutura do homem há valores que podem ser interpretados e vividos de uma forma ou de outra conforme as culturas e os tempos mas que não são descartáveis porque são tão verdade há 2000 anos, como na Idade Média como agora e vão continuar a ser por daqui a 100 anos – a justiça, a verdade, a sinceridade, a honestidade, a hombridade e o amor. O Pe. Luís Rocha e Melo recebe com regularidade grupos que querem fazer um retiro por esta altura. Uma proposta para um itinerário de vida espiritual. “Precisamente porque as pessoas se sentem «afogados» neste mundo contemporâneo, procuram meios para fugir a essa opressão da sociedade, para poder respirar espiritualmente”. É isto que encontra nos grupos que recebe. “A tradição da Igreja sempre nos disse que Deus se encontra no silêncio. O deserto surge na Quaresma com o o local de silêncio, porque a pessoa está só e espera iluminar os barulhos que tem dentro, fazendo um repouso interior que traz uma paz de espírito e onde a pessoas se pode encontrar”, sublinha. Não há grupos tipo a aderir a esta experiência. Pessoas com uma “boa caminhada espiritual, pessoas desorientadas na vida e sem saber para onde ir”, empresários e gestores católicos que também sentem as mesmas dificuldades. Esta descoberta de um serviço à vocação através do exercício da espiritualidade “veio cedo”, dá conta o Pe. Luís Rocha e Melo. Quando entrou na Companhia de Jesus e se dedicou à vida espiritual, sentiu um pendor grande para a vida de oração e de reflexão e também para o futuro do que é a vida espiritual. E esta resposta foi surgindo. A reflexão e os livros nunca ficaram de lado. “A formação vou buscá-la à Palavra de Deus em primeiro lugar, particularmente ao Novo Testamento, que está mais próximo de nós. A Palavra tem uma riqueza e intensidade que quando aprofundada nos pode levar muito longe”, sublinha ao ponto de o chamar “um romance de amor”, mas que “deve ser lido à luz do Espírito Santo. Cita os místicos como fonte também do seu estudo. Santo Inácio de Loyola, em especial, como fundador da Ordem a que pertence, “por isso conheço razoavelmente bem”, mas cita também a espiritualidade carmelita “que considero de uma riqueza incalculável”, e outros como Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus, Isabel da Santíssima Trindade e Santo Agostinho. “Santa Teresa de Ávila tema uma actualidade incalculável”, por isso aconselha a sua leitura, permitindo uma descoberta “espantosa para a vida de hoje e para o mundo de hoje”. Esta é uma proposta para o homem descer ao seu interior e fazer silêncio na sociedade barulhenta. O tempo de Quaresma esta é uma forma de levar o transcendente ao homens através da espiritualidade e de se escutar a si próprio.

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