Família em mudança desafia a Igreja

Mensagem às famílias, dos participantes das XVII Jornadas da Pastoral Familiar Reunidos em Fátima, os cerca de 230 participantes das XVII Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar aprofundámos a nossa reflexão e a nossa partilha sobre a Eucaristia “Pão de Amor no coração da Família”, motivados pelo Ano da Eucaristia, há pouco solenemente encerrado, e fazendo-nos eco do recente sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia. Ao terminar estas Jornadas Nacionais, gostaríamos de deixar a nossa Mensagem às Famílias, partilhando com elas os nossos trabalhos e incentivando-as, ao mesmo tempo, para a (re) descoberta da Eucaristia e da sua celebração no âmbito familiar, em cujo coração ela é, verdadeiramente, Pão de Amor, Pão de Vida e de União. As várias abordagens temáticas das jornadas permitiram-nos reflectir em diversas dimensões: 1. A compreensão da eucaristia em chave bíblica (Lucas 24,13-35) sublinhou o carácter progressivo da descoberta da eucaristia, bem como da sua iniciação, e projectou-nos na necessidade de ensaiarmos formas pedagógicas de descoberta da mesma em contexto familiar. Este contexto é de facto fundamental para a transmissão de valores que conduzam a atitudes como a capacidade de receber, agradecer, partilhar e dar gratuitamente e assim preparar a vivência mais completa da eucaristia. 2. A Eucaristia reforça a comunhão familiar e é um elemento próprio da sua espiritualidade que ajuda a viver tarefas e responsabilidades específicas. A íntima relação entre família e eucaristia entende-se pelo facto de a família ser espaço de comunhão e participação, escola de sociabilidade e humanismo, âmbito de comunicação e vivência da fé. Além disso, os vários momentos da celebração da eucaristia aparecem-nos com grande evidência como momentos próprios da vida familiar. 3. A problemática da participação na Eucaristia dos casais recasados, remete-nos para a responsabilidade pastoral de encontrar caminhos novos, com criatividade e compaixão, na fidelidade à doutrina da Igreja e na solidariedade para com o sofrimento destas famílias. Há 40 anos, o Concilio dizia, com toda a clareza, que a Eucaristia é “fonte e cume” da vida e da missão da Igreja (LG 11) e integrava o matrimónio e a família entre as muitas questões urgentes nos nossos dias (GS 46). Com o recente Sínodo, partilhamos a convicção de que a “Santa Eucaristia anima e transforma quer a vida das nossas igrejas particulares […] quer as múltiplas actividades humanas nos contextos mais diversos em que vivemos” (Mensagem Final do Sínodo dos Bispos), sem esquecer, em particular, a vida das nossas famílias, marcada pelo ritmo dominical da celebração e da vivência da Eucaristia, autêntico Pão de Amor a alimentar a partilha generosa da vida e dos dons, bem como a sua missão de dar testemunho de vida autêntica no mundo de hoje. A nossa reflexão dá-se, inevitavelmente, conta das situações dramáticas e de sofrimento por que passam não poucas famílias, nos nossos dias e no nosso contexto geográfico e por todo o mundo, por causa das guerras, da fome e das diferentes formas de injustiça e de pobreza que ferem a sua vida quotidiana. Além disso, o contexto cultural em que vivemos, cuja secularização conduz à indiferença religiosa e às diversas expressões de relativismo, reflecte-se de forma inegável na concepção e na prática da vida das famílias do nosso tempo e do nosso País. Ao perder-se a identidade religiosa, perde-se, inevitavelmente, a verdadeira noção da pessoa e da sua dignidade bem como o valor inviolável da vida, desde a sua concepção até à sua natural conclusão, ofuscando-se também a compreensão da Família tal como ela é e se deve exprimir, quer no plano sobrenatural da revelação quer no âmbito do direito natural. Ora, a fidelidade à Eucaristia, no seu ritmo litúrgico de Páscoa semanal, permitirá, sem sombra de dúvidas, dissipar qualquer forma de relativismo e integrar, na tessitura do quotidiano das nossas famílias, o absoluto do amor e da verdade que elas são chamadas a espelhar. O testemunho de numerosas famílias que celebram fielmente a eucaristia, inserindo nela o ritmo e a sensibilidade familiar, leva-nos a afirmar que vale a pena iniciar as nossas famílias à celebração eucarística. Fátima, 5-6 Novembro 2005

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