«Família Cristã» italiana reivindica autonomia

A revista Família Cristã, na sua edição italiana, vai declarar-se independente para assumir as suas posições. A publicação, que chega amanhã às bancas, quer afirmar-se livre para adoptar posições contrárias ao governo de Silvio Berlusconi, nomeadamente a respeito de recentes medidas contra a imigração ilegal adoptadas em Itália. Num editorial recente, assinado por Beppe Del Colle, a revista lançou novas críticas ao governo Berlusconi e desejou que “não seja certa a suspeita” de que na Itália esteja a renascer o fascismo “sob outras formas”. O governo protestou e o próprio Vaticano, através do porta-voz, manifestou que a revista não representa a “linha da Santa Sé nem da Conferência Episcopal Italiana (CEI)” e que “suas posições são, portanto, responsabilidade de sua direcção”. Num editorial sem assinatura, a revista sublinha não ser órgão oficial do Vaticano. “Família Cristã nunca pretendeu expressar a linha política da Santa Sé e da CEI, que possuem os seus próprios jornais, mas procurou sempre orientar-se pelo princípio ‘in certis oboedientia, in dubiis libertas’, confirmado pelo Concílio Vaticano II: total, apaixonada fidelidade à doutrina da Igreja, liberdade de juízo sobre as questões políticas e sociais até onde não tocam os princípios e os valores ‘irrenunciáveis’ que descendem do Evangelho”. O artigo afirma que a imprensa católica, ao contrário de “quase todos os outros meios de comunicação, não tem por trás nenhum conflito de interesse, público ou privado, não tem ligações nem económicas e nem políticas com nenhum grupo hegemónico na sociedade civil”. Além de reivindicar a sua independência em relação ao Vaticano, a publicação defende-se das réplicas do actual governo recordando que também criticou o gabinete anterior, chefiado por Romani Prodi, sobretudo na questão da legitimação das “uniões de fato”, assim como agora denuncia a iniciativa de Berlusconi de registar as crianças ciganas. “Acreditamos não poder omitir nossa oposição”, escrevem, sublinhando o direito de, em democracia, “expressar em plena liberdade os próprios juízos críticos, com base em princípios e valores, no nosso caso, os cristãos, compartilhados por muitos cidadãos”.

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