Secretariado da Pastoral Familiar publicou guião para «discernimento de situações irregulares» que «pode ou não possibilitar acesso aos sacramentos»
Porto, 03 set 2020 (Ecclesia) – O bispo do Porto espera que o guião do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar para “discernimento de situações irregulares” “contribua fortemente” para que a diocese se aventure, “sem medos paralisantes, a ir ao encontro das situações difíceis”.
“É aí que nos mostraremos Igreja credível, sinodal, mãe e mestra, capaz de passar de uma pastoral das estruturas a uma outra fundada na pessoa e suas situações”, escreve D. Manuel Linda na introdução do novo documento, publicado pelo jornal ‘Voz Portucalense’.
O bispo do Porto explica que o guia do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar, é uma “tentativa de ajudar a Igreja” a, segundo a Exortação do Papa Francisco ‘Amoris Laetitia’, «revelar-lhes (aos casados civilmente recasado) a divina pedagogia da graça na sua vida e ajudá-los a atingir a plenitude do plano de Deus neles».
“Auguro que este guião contribua fortemente para nos aventurarmos, sem medos paralisantes, a ir ao encontro das situações difíceis”.
O Papa Francisco propõe na sua exortação apostólica sobre a família, publicada em 2016, após duas assembleias do Sínodo dos Bispos (2014 e 2015), um caminho de “discernimento” para os católicos divorciados que voltaram a casar-se civilmente, sublinhando que não existe uma solução única para estas situações.
‘Guia prático para o percurso de discernimento’ é o novo documento do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar, que se destina “em especial às pessoas ou casais que pretendem fazer esse percurso e aos pastores que as acompanham” e pretende ser um “auxílio” para o percurso proposto nos números 3.4 e 3.5 da nota pastoral ‘Orientações para a pastoral familiar na Diocese do Porto’, de 6 de março de 2019.
“Os vários intervenientes (pessoa ou casal de recasados e acompanhante espiritual) devem aceitar que não se trata de um processo para ter acesso aos sacramentos, mas sim de um caminho para procurar a vontade de Deus – que pode ser, ou não, possibilitar esse acesso aos sacramentos”, explica nas orientações que “são apenas um guia”, porque cada caso tem características próprias.
No guião o secretariado reflete sobre o percurso de acompanhamento e discernimento, a missão e perfil do acompanhante espiritual, as etapas deste percurso e a sua duração, que segundo a nota pastoral, tem “uma duração mínima de seis meses” mas outras “experiências vividas apontam para percursos mais longo”, sendo o “mais importante a qualidade do percurso” e não “queimar etapas”.
O Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar do Porto explica que o processo de acompanhamento e discernimento desenvolve-se em cinco etapas: “A graça da liberdade interior; fazer memória e exame de consciência do matrimónio sacramental; ‘avaliação’ da relação atual” e a “tomada de decisão segundo a vontade de Deus”.
Na última etapa surge a reflexão sobre o “acesso aos sacramentos” e de colocar a questão “honesta e livremente”: “Qual é a vontade de Deus para mim?”.
O bispo do Porto recorda que os dois Sínodos sobre a Família e a Exortação Apostólica do Papa Francisco ‘Amoris laetitia’ (A alegria do amor) vieram dizer que “o lugar da Igreja não é em uma qualquer fortaleza cercada”, mas nas “linhas de fronteira onde as necessidades e as angústias dos homens e mulheres de hoje têm de ser colmatados pela benignidade e misericórdia do Evangelho”.
D. Manuel Linda explica que “não houve nenhuma mudança na doutrina sobre o matrimónio e família”, na sequência das duas assembleias dos bispos e da publicação da exortação pós-sinodal mas «progresso».
“Um chamamento à Igreja para que afronte desafios e problemas novos com um espírito novo e acolhedor”, acrescentou o bispo do Porto.
CB/PR
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