«Há crianças que vivem e crescem em acolhimento durante muitos anos e anos a mais» – Ana Sofia Marques
Lisboa, 22 nov 2022 (Ecclesia) – A Associação ‘Candeia’ e o Projeto ‘Amigos p’ra Vida’, ligado a esta Instituição Particular de Solidariedade Social, constroem relações com as crianças que estão em acolhimento residencial, protegem e são ajuda na sua vida e das famílias.
“É uma margem da nossa sociedade que é muitas vezes esquecida e pouco protegida, são crianças que crescem sem aquilo que é elementar, sem um enquadramento familiar estável e real”, disse o presidente da direção da ‘Candeia’, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Miguel Simões Correia, jovem de 22 anos de idade que cresceu “um bocadinho neste ambiente”, porque os pais são dos fundadores da ‘Candeia – Associação para a animação de crianças e jovens,’, afirma que esta é uma área que “tem poucos recursos e pouca atenção”, por isso, é importante esta visibilidade e poderem “falar mais destas causas”.
“É uma realidade muito desconhecida do grande público, é uma realidade muito desconhecida, às vezes, das pessoas que trabalham na área. Conhecer cabalmente a realidade destes miúdos, as respostas que há é um desafio ainda longe, é um desafio também para mim”, acrescentou, no âmbito do Dia Internacional dos Direitos das Crianças, que se assinalou este domingo, 20 novembro.
Ana Sofia Marques explica que aquilo que a ‘Candeia’ tem feito, e também surgiu o Projeto ‘Amigos p’ra Vida’, ligado a esta IPSS, é responder às necessidades que encontra nas crianças e também “das casas de acolhimento”.
“Mas, mais do que as necessidades das casas de acolhimento, responder às necessidades das crianças que lá vivem e crescem. Há crianças que vivem e crescem em acolhimento durante muitos anos e anos a mais”, referiu em entrevista ao Programa ECCLESIA (RTP2), emitido na última segunda-feira.
A jurista com especialização no Direito da Família e Menores explica que quando uma criança entra em acolhimento residencial “a preocupação de todo o sistema”, incluindo a própria casa, deve ser como é que estes miúdos vão sair dali, e, cada vez mais, estão “todos certos que por melhor que seja a casa de acolhimento, não é o sítio onde a criança deve viver”.
“Uma criança quando é retirada procura sempre perceber se pode voltar ao seu meio familiar de origem, é o meio familiar que deve sempre ser privilegiado”, salientou a fundadora do Projeto ‘Amigos p’ra Vida’.
Sobre os ‘Amigos p’ra Vida’, Ana Sofia Marques explica que procuram “perceber o que é que as crianças que estão em acolhimento precisam”, as que vão ser reintegradas no seu agregado familiar, e “estas famílias têm dificuldades, passaram por um momento de fragilidade”, por isso precisam de rede, “famílias que ajudem outras famílias”, e até evitar que as crianças regressem a uma casa de acolhimento, enquanto “há outras crianças que não vão poder regressar” ao seu núcleo e são precisas “famílias que se constituam como resposta”.
A jurista assinalou também que o foco da ‘Candeia’ é “investir na relação com os miúdos e em relações de amizade”, e há poucos projetos que têm este objetivo principal de “criar relação” com as crianças que estão em casas de acolhimento.
A partir da sua experiência, Miguel Simões Correia salienta que “os miúdos estão só à procura de alguém que goste deles”, e partilhou que ainda hoje traz consigo a história de um miúdo que num campo de férias, logo no primeiro ou no segundo dia, disse-lhe ao ouvido: “Leva-me no teu coração”.
O presidente da direção da ‘Candeia’, que surgiu em 1991, disse que hoje acompanham “muitas casas” e “muitos miúdos, cerca de 200”, com várias atividades ao longo do ano, onde vão “sempre tentando privilegiar esta questão da relação”.
PR/CB/OC