Faleceu o Padre Torres Neiva

Religioso Espiritano, membro da Academia Portuguesa de História, destacou-se ao serviço da Missão e da História do nosso país

Faleceu neste Domingo, 10 de Janeiro, o Pe. Adélio Torres Neiva, missionário espiritano. Nesta Segunda-feira, às 18h00, será celebrada uma missa na casa dos Espiritanos, em Lisboa (Rua de Santo Amaro à Estrela, 51). Na Terça-feira realiza-se o funeral em São Paio de Antas, Esposende, às 14h30; a celebração será presidida por D. António Couto, presidente da Comissão Episcopal Missões e Bispo auxiliar de Braga.

Nascido em Esposende, cedo entrou no Seminário Espiritano, fazendo o seu percurso até à Ordenação, em 1956. Olhando às suas qualidades académicas e ao seu gosto pela História, os Superiores enviaram-no a Coimbra, onde terminaria, em 1961, a Licenciatura em História, na Faculdade de Letras.

Nomeado para a Casa Provincial, em Lisboa, dirigiu a revista “Portugal em África” e fundou a revista “Encontro” em 1962. Foi professor, largos anos, no Seminário da Torre d’Aguilha, no Instituto Superior de Estudos Teológicos e, mais recentemente, leccionou Missiologia na Universidade Católica.

De Roma para o mundo

Roma acolhê-lo-ia durante 12 anos quando foi eleito Conselheiro Geral. De 1974 a 1986, percorreu os 50 países onde os Espiritanos trabalham, a fim de avaliar a Missão que se fazia e de estimular a mais comunhão.

Escreveu numerosas crónicas que mostram o rosto plural de Missão que se vivia com os muçulmanos da Argélia ou Mauritânia, com as populações ribeirinhas da Amazónia, com os pobres excluídos que ousam sobreviver nas periferias das grandes cidades da Nigéria, da Tanzânia, do Congo, de Angola ou do Brasil….

Foram tempos que o marcaram e que o tornaram muito conhecido em todo o mundo espiritano, a ponto de ser convidado para conferências, retiros e comissões nos quatro cantos da terra.

Lisboa, ponto de partida

Lisboa voltou a recebê-lo de braços abertos. A Revista “Encontro”, as aulas, as muitas conferências e retiros fizeram-no percorrer este país real.

A sua credibilidade académica levou organizadores de enciclopédias e outras obras colectivas a pedir-lhe colaboração, pelo que tem entradas em diversas publicações científicas, sendo a mais recente a “História Religiosa de Portugal”, dirigida por D. Carlos Azevedo.

Vimo-lo, nos últimos tempos, a proferir conferências sobre Missão e Espiritualidade, a convite de dioceses, paróquias e institutos. Deslocou-se, com frequência, ao estrangeiro, para reuniões internacionais, nos âmbitos da História e da Missiologia, pertencendo a diversas comissões internacionais. Orientou um retiro da Conferência Episcopal Portuguesa.

A arte de comunicar

Comunicar sempre foi o seu forte. Até à data da sua morte dirigia as revistas “Vida Consagrada” e “Missão Espiritana”. Colaborava, todos os meses, no jornal “Acção Missionária”, com um texto de reflexão sobre o Ano Sacerdotal e uma “Parábola”.

Foi um perito em Missão. Daí que tenha sido professor de Missiologia na Universidade Católica e no Curso de Missiologia que se realiza todos os anos em Fátima. Apesar dos limites de saúde, podíamos ir encontrando o Pe. Torres Neiva a proferir conferências.

Era um contador de histórias e um homem da História. Foi uma referência de Espiritualidade.

Do seu curriculum constam 112 artigos científicos, salientando-se a “História da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo” (2003, com prefácio de D. Manuel Clemente) e a “História da LIAM” (2007).

Escreveu quatro obras que permitiram aos grupos missionários da LIAM e Jovens Sem Fronteiras aprofundar temas sobre a Igreja e a Missão: “Com a força do Espírito” (2002), “O Leigo, Vocação para a Missão” (2004), “Sereis minhas testemunhas: a Missão na Bíblia” (2006) e “S. Paulo e a Missão sem fronteiras” (2008).

O prémio da História…

A notícia foi recebida com surpresa, a 4 de Setembro: a Academia Portuguesa de História nomeou-o seu membro honorário, pelo contributo que deu à investigação histórica em Portugal. É uma honra para a Igreja e um estímulo a aprofundar mais o diálogo entre a Fé e a Cultura, desafios que João Paulo II, na “Missão de Cristo Redentor”, colocou no patamar da participação nos novos areópagos da Missão hoje.

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