GTIR Religiões-Saúde manifesta-se contra a «reincidente aprovação do diploma sobre o suicídio assistido e eutanásia»
Lisboa, 5 nov 2021 (Ecclesia) – O Grupo de Trabalho Inter-Religioso (GTIR) Religiões-Saúde manifesta “perplexidade” pelo facto de questões da vida e da morte dependerem de “interesses de lóbis e ideologias” e afirma que o futuro da sociedade “não se encontra na oferta da morte”.
“Estamos convictos de que o futuro das nossas sociedades não se encontra na oferta da morte, mas na aposta coletiva num modelo compassivo de sociedade”, afirma o GTIR, em comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA.
As confissões religiosas manifestaram-se contra a “reincidente aprovação do diploma sobre o suicídio assistido e eutanásia, pela Assembleia da República”, e reafirmaram “a convicção comum de que a vida humana é inviolável e indisponível”.
No documento, o GTIR Religiões e Saúde afirma que os cuidados paliativos deveriam ser “uma resposta que o Estado deveria obrigatoriamente oferecer, de modo suficiente em quantidade e qualidade, para fazer frente às necessidades existentes dos doentes, sem marginalizar os mais frágeis e os mais pobres”.
“Não compreendemos que o Estado ofereça a morte a quem mais sofre, quando o SNS não responde atempada e adequadamente às necessidades dos doentes (tenhamos em conta as filas e os tempos de espera em consultas e cuidados); quando a resposta das Unidades de Cuidados Continuados é insuficiente; e quando não existe uma Rede de Cuidados Paliativos capaz de responder às solicitações dos doentes”, acrescentam.
“Verificamos com perplexidade que a problemática da vida e da morte deixa de ser uma questão ética e passa para o foro da política, ficando sujeita às maiorias de circunstância e aos interesses de lóbis e ideologias. Será que um dia destes cada um de nós acorda com um algoritmo que determina a hora da morte?”
As confissões religiosas não acreditam “que sejam suficientes as boas intenções dos legisladores ao limitarem a aplicação da lei a casos limite de sofrimento definidos por dicionário”, lembrando “os exemplos da rampa deslizante vindos do Canadá, da Holanda, da Bélgica e de outros países” e o facto de não serem “escutados os alertas de peritos vindos desses países”.
“Vemos como evidente que a morte a pedido não resolve o problema do sofrimento nem da falta de autonomia, de liberdade ou de qualidade de vida. A morte mata a vida e quando já não há vida, não é possível a autonomia nem a liberdade, já que é a vida que funda o direito, a autonomia ou a liberdade e não o contrário”.
O GTIR lamenta que “médicos, formados para curar e proteger a vida, tenham de negar o juramento de Hipócrates e passem também a matar, violentando as suas consciências e gerando desconfiança nos doentes”.
“Não deixaremos de nos empenhar na proclamação dos valores da vida e na formação humana suportada pelos mesmos porque cada pessoa é única e irrepetível, insubstituível e necessária à sociedade de que faz parte e porque não há vidas descartáveis”, acrescenta o comunicado.
O Grupo de Trabalho Inter-religioso Religiões-Saúde afirma “o desafio de uma maior proximidade aos doentes através do acompanhamento espiritual”, referindo que “esse pedido não só é um grito que clama por ajuda para enfrentar o sofrimento, mas é também um pedido dramático de proximidade humana e um desejo de sentido espiritual” e pede ao SNS e aos hospitais privados que “abram as portas das suas Instituições para que os doentes sejam acompanhados espiritualmente sem entraves ou tabus de uma forma organizada e integrada, segura e transparente”.
O comunicado do GTIR Religões-Saúde é subscrito pela Aliança Evangélica Portuguesa, Comunidade Hindu Portuguesa, Comunidade Islâmica de Lisboa, Comunidade Israelita de Lisboa, Igreja Católica, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, União Budista Portuguesa e União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia, signatários da Declaração Conjunta “Cuidar até ao fim com compaixão”, em Maio de 2018.
A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) reafirmou também que “a legalização da eutanásia e do suicídio assistido viola claramente o princípio da inviolabilidade da vida humana”, sublinhando que “ao médico cabe a defesa intransigente da vida”.
“Do ponto de vista médico, enquanto associação profissional representativa de associados médicos e estudantes de medicina de todo o país, a AMCP rejeita o suicídio assistido e a eutanásia como atos médicos”, refere um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.
A Associação dos Médicos Católicos Portugueses diz que a aprovação pelo parlamento do diploma sobre a despenalização da eutanásia , “na 25ª hora”, “mostra bem o desespero dos defensores da causa” e “lamenta que a tática política não corresponda aos problemas reais do país, que assim se vê enfraquecido do ponto de vista humano e ético”.
PR