Eutanásia: Desafio da sociedade é combater solidão de quem morre – Vítor Feytor Pinto

Especialista sublinha importância de clarificar conceitos

Lisboa, 17 abr 2016 (Ecclesia) – O padre Vítor Feytor Pinto, antigo coordenador nacional da Pastoral da Saúde da Igreja Católica em Portugal, afirmou que o debate sobre a eutanásia precisa de uma clarificação de conceitos, centrando a atenção na “solidão”.

“O drama da solidão num doente terminal é a fonte do maior sofrimento e esse, podemos evitá-lo”, declara, em entrevista à Agência ECCLESIA, o sacerdote e mestre em Bioética.

Em 84 anos de vida, muitos deles ligados à área da Saúde, o pároco do Campo Grande, em Lisboa, ouviu muitas vezes o pedido de eutanásia, que entende ser uma fuga ao sofrimento, a que se responde com “ternura e carinho”, não com a morte.

“A legalização da eutanásia entre nós seria um risco muito grande, em termos de civilização, para o respeito profundo pela dignidade da pessoa humana”, adverte.

O especialista sublinha que é necessário evitar conceitos errados para que as decisões sejam “claras”.

“Não podemos querer a eutanásia, nem querer obstinação terapêutica, ou distanásia, um prolongamento inútil da vida apenas com sofrimento sem sentido”, precisa.

Em relação ao “problema da liberdade” individual, o padre Feytor Pinto observa que esta tem de estar ligada à “autonomia social”.

O sacerdote assinala, por outro lado, que é necessário distinguir entre dor e sofrimento.

“Hoje há condições para fazer a neutralidade do sofrimento e não são só os cuidados paliativos gerais”, refere.

Quando o sofrimento é de outra natureza, ultrapassando a dor física, é preciso “encontrar a solução para esse problema”.

Para o padre Feytor Pinto, no caso de um doente terminal o principal problema é “a solidão”, pelo que se exige “acompanhamento, não só de voluntários ou familiares e amigos, mas acompanhamento da equipa técnica, que tem o dever de terapia de compaixão”.

Do ponto de vista económico, sublinha o antigo coordenador nacional da Pastoral da Saúde, a eutanásia apareceria sempre como uma “solução de comodidade” de quem tem o dever de assistir o doente.

“A vida é inalienável, inviolável e indisponível. Estra três palavras são chave, a partir da ética, nem é a partir da religião”, insiste.

O sacerdote considera que uma eventual legalização da eutanásia viria a “afetar gravemente” a relação médico-doente.

“A medicina é para servir a vida, não é para precipitar a morte. Nunca”, explica.

O padre Vítor Feytor Pinto é um dos entrevistados do programa ‘70×7’ (RTP2) que vai ser transmitido hoje às 13h30, tendo como pano de fundo a recente nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a Eutanásia, tema em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

PR/SN/OC

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