Estátua de João Paulo II no adro da Catedral do Funchal

1. Dentro de uma cidade a Catedral significa o carácter público da presença da Igreja no espaço público da comunidade humana. Não é um sinal de prepotência dos crentes, mas a proposta pública da salvação que Deus oferece a todos os homens e mulheres. A Catedral exprime a alma cristã dos filhos da Igreja e ao mesmo tempo é o sinal de abertura para todos os que se sentem necessitados de Deus Salvador. Desde o inicio do cristianismo, principalmente com a Paz conseguida por Constantino no séc. IV, a Igreja quis estabelecer lugares públicos de culto, com o sentido profundo de que a aventura da santidade cristã é uma aventura pública, que Deus, em Cristo, oferece a salvação na visibilidade de um lugar público, com actos públicos. A razão que, em todos os séculos, levou os cristãos a erguerem templos nos centros das cidades profanas ou secularizados, foi manifestar o poder sacramental e santificador de Jesus Cristo, Senhor do Céu e da terra. A Catedral é o sinal visível de toda a Igreja Diocesana, cada convocação presidida pelo Bispo na Catedral, tem um significado especial para a vida e comunhão da Diocese, ela é a Igreja mãe que gerou e gera toda a nossa Igreja. No centro do magnífico retábulo da capela-mor, ergue-se a estátua de Nossa Senhora Assunta ao Céu, padroeira de todas as catedrais portuguesas. A Assunção indica a glória do Céu, em Maria manifesta-se o cumprimento do mistério da salvação. 2 – A liturgia da dedicação da Catedral, apresenta o carácter maternal e regenerador da Igreja Mãe. Ela é a fonte de todos os sacramentos, é o lugar da celebração quotidiana da Oração da Igreja, do ofício Divino, agora reservado a alguns dias da Semana Santa. A Catedral é por excelência a Igreja do Bispo Diocesano, quando rodeado pelo presbitério e fiéis se reúne nas grandes ocasiões: Missa crismal, vigília pascal, ordenações diaconais e sacerdotais, confirmações e administração dos outros sacramentos. Catedral vem da palavra latina “cattedra” ou seja a cadeira onde o Pastor anuncia como Mestre a Palavra de Deus ao seu povo. Noutros tempos, quando o número de sacerdotes permitia a celebração da liturgia das horas na Catedral, esta tornava-se o pólo habitual da oração da Diocese. A adoração do Santíssimo, veio de alguma forma colmatar esta falta. O facto da Catedral se encontrar no centro da nossa cidade, é muito significativo, pois apresenta a fonte de santidade no coração da vida da cidade dos homens. A nossa Catedral apresenta este sinal no decorrer dos dias e durante todo o dia. É uma Catedral viva, é o coração da Diocese com o duplo movimento de diástole e sístole, acolhe todos na oração e nos sacramentos, e envia todos para a cidade dos homens com o dinamismo do evangelho e da caridade. A Catedral, com a sua vitalidade cristã, recorda-nos a contemplação do judeu piedoso descrita no livro do Deuteronómio (Dt. 4,7 e 4, 32); “que nação existe tão grande, que tenha a divindade tão perto de si como está o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocarem?” 3 – A Catedral, para além da sua finalidade prioritária – o culto cristão, tornou-se lugar de cultura. A Catedral, com as suas capelas, retábulos, pinturas, esculturas é um património que atrai o turismo e os estudantes de arte. Ela atrai muitos visitantes porque se tornou lugar da memória e das tradições nacionais e socioculturais. A atmosfera da nossa Catedral não se ressente, como lugar de culto, dos numerosos visitantes nem de um turismo, por vezes, curioso e vulgar, porque se conseguiu um equilíbrio entre o cultual e o cultural, de forma que o edifício não perdeu a sua alma. Devido à sua colocação no centro da cidade e frequência de fiéis e actos de culto, ela não se reduziu, como algumas catedrais da Europa, a uma secção de museografia da arte cristã ocidental, mas continuou como espaço de vida intensa espiritual e litúrgica. Para que o sinal simbólico, concreto e visível da sucessão apostólica, por meio do qual a Igreja se une e relaciona com Jesus Cristo e o Colégio dos Doze, é preciso que a estátua do Papa João Paulo II venha ocupar o lugar que lhe é próprio no adro da Catedral. O Papa visitou, orou e cumprimentou numerosas crianças e fiéis no adro e dentro da Catedral, ofereceu-lhe um cálice e o paramento com o qual celebrou a eucaristia. É possível escolher um lugar digno que não perturbe as linhas gerais do edifício, sem tentar esconder a estátua num recanto como objecto incómodo. A comemoração dos 500 anos da cidade não pode esquecer a visita de um Papa que lutou contra uma oposição que recusava uma visita à Madeira. Outras ilhas mais populosas e desenvolvidas, como as Canárias não o conseguiram, foi o Papa que me indicou a maneira de tratar com a Secretaria de Estado para que viesse aos Açores e à Madeira. A visita do Papa foi um dos momentos altos da história religiosa da Diocese. Foi um acto que deu maior transparência e beleza à “Alma da Cidade” Funchal, 6 de Agosto de 2006 † Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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