Esses incêndios expiatórios

Já é matéria recorrente, no tempo de Verão, o assunto dos incêndios. Só que este ano o caso ganhou grandiosidade em termos de área ardida, meios envolvidos, confusão de acusações e (relativa novidade) perda de habitações (centenas, talvez) e, sobretudo, de vidas humanas (só em quatro dias pereceu uma dezena!), com prognósticos, palpites e dúvidas à mistura ! * Em tudo isto ouvimos, vimos e lemos: dos bombeiros – a falta de meios adequados, uma panóplia de carros, auto-tanques, grande confiança nas suas forças, mesmo que ditas insuficientes; das autarquias – lamentos pelas perdas florestais, críticas ao poder central, evacuação de populações, demora no socorro as pessoas e bens; dos proprietários particulares (serão mais de seiscentos mil) – reivindicações, exigências e mais desabafos e choros angustiados; do governo (que talvez não atingiu o alcance dos factos com realismo) – fez-se ouvir a lamúria de que esta tragédia tem cambiantes várias, como a temperatura, condições adversas dos terrenos… até à declaração (nos primeiros dias de Agosto) da situação de calamidade pública… * Apesar disso não ouvimos nem vimos nem lemos: o reconhecimento claro de culpas por parte dos vários intervenientes, isso é sempre com os outros, esses malfadados; quase uma absoluta falta de alusão a Deus, tanto nas palavras – ‘seja o que Deus quiser!’- em relação ao futuro ou ‘graças a Deus’- por alguma melhor solução encontrada por entre tanta dor e sofrimento – ou nas atitudes das pessoas atingidas ou dos combatentes dos fogos; pessoas revoltadas por aquilo que lhes estava a acontecer, é claro que houve laivos de uma certa resignação desse interior desprezado, esquecido e de segundo plano nacional…. * Gostaríamos de ver, ouvir e acreditar: que vamos saber tirar lições desta (quase) fatalidade cíclica, com implicações a muito curto prazo na limpeza das matas de forma responsável; que saberemos unir esforços de solidariedade em favor das vítimas, organizando a própria Igreja Católica uma campanha – para além das já propostas pela ‘Caritas’ e a Rádio Renascença’ – em favor destes concidadãos – a maioria deve ser católica – numa campanha de Advento ou pelo Natal; que vamos conseguir sensibilizar todos para a reflorestação, começando pelas crianças através de cada escola/catequese, indo mesmo plantar árvores através de parcerias entre Igrejas, autarquias e associações. Não podemos continuar a fazer dos incêndios a razão do nosso descontentamento. Vamos tornar este país – concretamente nesta região tão atingida – um espaço de maior harmonia e compromisso. Assim o cremos e desejamos! A. Sílvio Couto

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