Espaços sagrados à escala humana

Cón. João Peixoto, pároco e professor de liturgia, caracteriza os espaços sagrados do presente. E pensa os do futuro Agência Ecclesia – O edifício faz comunidade? Cón. João Peixoto – Pode condicioná-la fortemente. Modela a comunidade. Podemos dizer que há movimento circular: a Igreja viva, pedras vivas, faz comunidade e a comunidade faz Igreja. AE – Será de outros tempos a estruturação comunitária a partir da igreja paroquial? JP – Pimeiro existe a Igreja Pedras Vivas. Depois constrói-se um espaço para a sua vida eclesial, de culto e de comunhão. A ordem é essa. Acontece como nós com as nossas casas: somos nós que de algum modo fazemos as nossas casas, as vamos preenchendo, as vamos habitando. Mas elas, as casas, também nos marcam, também nos fazem! AE – Qual a identidade de uma igreja matriz? JP – Uma igreja matriz é uma igreja mãe. É uma igreja onde se celebra o baptismo, que faz comunidade. Em português, aos vários aglomerados populacionais, chamamos freguesias: o agrupamento dos filhos de uma igreja, daqueles que nasceram naquela matriz, que foram baptizados naquele baptistério e que formam uma comunidade de proximidade e de vida. O que define, de facto, uma igreja paroquial, como paroquial, é o seu baptistério e é a partir daí que tudo começa na Igreja: o baptismo é o início da vida cristã e da comunidade que continuamente nasce da Páscoa. AE – Há outros elementos e outros espaços que a caracterizam? JP – O baptistério é especificador de uma igreja matriz. O centro de qualquer igreja é o altar da Eucaristia, que é o centro da vida da comunidade. Ao lado do altar está o ambão, onde a comunidade se alimenta da palavra, o lugar da presidência que simboliza a apostolicidade da igreja. AE – E fora do espaço de celebração? JP – Fora do espaço e do tempo da celebração há também um elemento qualificante: o lugar da reserva eucarística, o sacrário. Trata-se do coração vivo deste espaço. AE – E quem vê do exterior, quem desconhece esses espaços, como os descobre? JP – A arquitectura sacra começou por ser eminentemente de interior. A igreja constrói-se de dentro para fora. Mas, à medida que os cristãos penetram na sociedade e a transformam, a presença da igreja começa também a ser visível do exterior e a qualificar os quarteirões ou as povoações. Ainda hoje, muitos emigrantes quando lhes perguntamos pela sua terra mostram uma fotografia da igreja paroquial. A visibilidade exterior do edifico é o testemunho de uma Igreja que não se envergonha de dar testemunho da ressurreição, que se ergue nas praças, nas ruas, como sinal de esperança. Muitas vezes o ordenamento urbanístico tem como fulcro as igreja. AE – E o campanário? JP – A partir de determinado momento da história ganhou importância: a torre, o campanário. Por uma razão funcional: elevando-se acima dos telhados dos outros edifícios, permite projectar o som dos sinos, dos sinais, que convocam para a assembleia de uma forma mais eficaz, mais longe. Elas tornaram-se em si mesmas também um sinal da Igreja, sendo um meio de comunhão importante de uma comunidade paroquial, porque sintoniza todos nas alegrias e nas tristezas. AE – Como serão os espaços sagrados no futuro? JP – É uma questão que precisa de ser reflectida! Nós estamos a viver uma situação – que será certamente transitória – de escassez preocupante do clero. E isso pode determinar que as nossas assembleias, para poderem ser atendidas pelo ministro ordenado, têm de crescer em número, sendo necessários espaços mais amplos. Essa evolução não me agrada! Porque as assembleias devem ter uma dimensão média, de escala humana, e não de mega-assembleias. Nos santuários temos essas experiências em momentos especiais, de festa. Mas no dia-a-dia precisamos de espaços familiares, comunitários. Não seria bom que começássemos a projectar igrejas com mais de 400 lugares sentados.

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