Escutismo/Centenário: Um encontro de três gerações, entre memória e futuro

«Gostaria que continuasse nesta senda de fazer o bem, de ajudar os jovens a crescerem para a vida» – Vítor Faria

Lisboa, 27 mai 2023 (Ecclesia) – Francisco Maia, escuteiro há 70 anos, e três gerações da família Faria – Vítor, Tiago e Diana, partilharam memórias e olham o futuro do Escutismo Católico Português, que celebra hoje 100 anos de fundação.

“Gostaria que continuasse nesta senda de fazer o bem, de ajudar os jovens a crescerem para a vida, dentro do que aprendemos no Escutismo, compreendo as normas existentes. Preocupa-me, entre aspas, que aprendemos aquelas coisas essenciais que precisamos para a nossa vida, hoje já não se comunica muito através de acampamentos, de encontros, manda-se emails, faz-se reunião de zoom, e aquelas pessoas não se encontram, não se abraçam”, disse Vítor Faria, à Agência ECCLESIA, no Museu do Corpo Nacional de Escutas (CNE).

O antigo chefe nacional do CNE, que foi também presidente nacional da Fraternidade de Nuno Álvares (escuteiros adultos), acrescenta que esta é a “riqueza do escutismo, o toque”, recordando que “as grandes decisões” que tomavam nas reuniões era, depois, quando iam “beber um café, trocar impressões”, que ajuda a “construir a vida num agrupamento, enriquece as atividades”.

Tiago Faria, filho de Vítor, refere que vê o futuro numa perspetiva do que “é que ainda tem de permanecer e o que é que se torna imprescindível”, segue “um bocadinho” a linha de pensamento do pai, e afirma que uma “atividade sem cheiro do fumo ou da fogueira não sabe a acampamento”, o não ficarem molhados.

Com 70 anos de promessa, Francisco Maia, também da região de Lisboa, afirma que o “escutismo tem futuro se não abdicar dos pensamentos do fundador”, que estão válidos e podem “adaptá-los ao tempo” na forma de aplicar, porque “faz falta aos jovens” chegar a casa com cheiro a fumo, estar no final de um dia “ao redor da fogueira, partilhar as experiências, e até a correção fraterna”.

A mais nova deste grupo intergeracional, Diana Faria, conta que o que mais espera “é ter atividades”, e recorda que quando experimentou viu que “era amigável e divertido”, percebeu que se ia “divertir muito neste agrupamento”, já a sua irmã, lembra o pai, “experimentou o escutismo e não gostou”.

Francisco Maia, que continua “no ativo”, explica que no Agrupamento 50 São João de Brito têm um dirigente com 52 anos, mas, desde o chefe de agrupamento até à chefe de alcateia, têm “34 anos para baixo”, são pessoas que beberam “bem o passado e tem grandes projetos e perspetivas para o futuro”, por isso, “o CNE vai adaptar-se aos novos tempos e vai para a frente”.

O Corpo Nacional de Escutas está a promover em Braga a “Festa do Centenário”, reunindo mais de 20 mil escuteiros de todo o país.

Para Diana Faria, filha e neta de escuteiros, estar na associação é “muito diferente” de tudo o resto.

Sobres estes laços familiares, Vítor Faria graceja, referindo que “é uma associação de casamenteiros”, onde as famílias se “vão desenvolvendo, vão crescendo”.

“Em casa chegamos a ser dez, agora no ativo estamos quatro”, acrescenta Francisco Maia, explicando que a sua esposa “foi sempre escuteira, os filhos também, desde lobitos”, tendo-se depois somado o genro, a nora e os netos.

Este dirigente conheceu o CNE no Bairro da Encarnação onde cresceu, “o chefe Renato Graça passava de vez em quando fardado”, até que, um dia, foi convidado para entrar, mas por outro escuteiro; já Vítor Faria, com menos anos de promessa, recorda que a primeira referência foi “ver outros miúdos da Amadora vestidos de calções, com mochila”, alguns acampamentos perto de casa, e entrou para o Agrupamento 55, em 1960.

O Museu do CNE, em Lisboa, preserva a memória histórica do “escutismo em Portugal e do movimento em geral”, guarda, por exemplo, o guia do 10.º acampamento nacional, que se realizou em Avintes, em 1956, o primeiro acampamento de Francisco Maia.

De Lisboa para Vila Nova de Gaia viajaram de comboio, depois, até à quinta, em camiões do Exército, “e os primeiros dias foram debaixo de chuva”.

No acampamento nacional seguinte, em 1960, no Estoril, era dirigente, esteve “nas montagens e desmontagens”, foi no dia 1 de agosto e só regressou a 30 desse mês, numa altura em que na associação “eram só rapazes”.

Vítor Faria, que tinha acabado de entrar nos escuteiros, não pôde ir, “entenderam que não tinha a formação adequada”, ainda não a tinha concluído e “só depois é que se fazia a promessa”, mas já foi ao seguinte, o 12.º Acampamento Nacional, na Covilhã.

Os dois dirigentes recordam também mudanças que aconteceram no CNE, como com a revolução do 25 de abril de 1974, no ano seguinte foi empossada a 1.ª Junta Central eleita por sufrágio, o chefe nacional deixou de ser indicado pelo arcebispo de Braga, enquanto a admissão de jovens do sexo feminino começou em 1976, através de “uma conclusão do Conselho Nacional, com condições”.

O CNE – Escutismo Católico Português foi fundado há 100 anos, em Braga, por iniciativa do arcebispo local, D. Manuel Vieira de Matos, e o seu secretário, monsenhor Avelino Gonçalves, após o Congresso Eucarístico de Roma (1922).

As memórias de Francisco Maia e de Vítor Faria, às quais se juntaram Tiago Faria e a pequena Diana Faria, vão estar em destaque no Programa ‘70×7’ deste domingo, pelas 17h20, na RTP2.

PR/CB/OC

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