Escola católica e iniciativa pública

Etienne Verhack, Secretário-geral do Comité Europeu para o Ensino Católico

O ensino no mundo livre ocidental é baseado numa sã colaboração entre a iniciativa pública e a iniciativa semi-pública ou, em certos casos, a iniciativa puramente privada, movida por projectos pedagógicos particular, como Steiner, entre outros.

A rede católica semi-pública (liberdade pedagógica, salários pagos pelo Estado e subsídios num quadro de entendimento) conta com 25 698 estabelecimentos escolares primários e secundários na União Europeia, sem contar com o pré-escolar. O conjunto destas escolas e liceus acolhe cerca de 7, 63 milhões de alunos.

É importante recordar brevemente os objectivos das escolas católicas. Uma escola católica quer ser um lugar de educação integral da pessoa humana. Isso quer dizer que não se contenta apenas em formar a inteligência ou em preparar jovens unicamente para serem empregáveis nas empresas. Certamente, o primeiro objectivo de qualquer escola é ser uma boa escola, com uma excelente formação. O mundo dá-se conta, mais do que nunca, de que uma boca preparação para um emprego é importante. Os resultados dos antigos alunos das universidades e escolas superiores mostram que a escola católica atinge excelentes resultados. No entanto, a escola católica não se deixa instrumentalizar por instâncias meramente económicas.

A mais-valia da escola católica é colocar em diálogo a vida e a cultura, a cultura e a fé em Jesus Cristo. Ela propõe aos jovens que confrontem, gradualmente, o conhecimento e a cultura que adquirem com as questões do sentido último e com a fé, num curso de religião católica.

Isso não a impede de contribuir seriamente para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, ensinando a doutrina social da Igreja e propondo aos jovens compromissos concretos de serviço social. Por isso, a maior parte das escolas católicas da Alemanha obriga os seus alunos a fazer serviço social de duas semanas em hospitais, creches, casas para idosos ou institutos para pessoas com deficiências. Os alunos são aí acompanhados pelos próprios professores.

Há cerca de vinte anos, as escolas católicas de Birmingham (Inglaterra) organizaram uma educação e um ensino para alunos ditos impossíveis de gerir. Esta iniciativa generalizou-se, desde então, noutras regiões, também por escolas públicas.

O que é que motiva milhões de pais europeus a fazer uso da sua liberdade para escolher uma educação católica? Porque é que tantos líderes comunistas húngaros e polacos escolheram as raras escolas católicas, que combatiam em público, para lhes confiar a educação dos seus próprios filhos? Qual foi a razão pela qual o ministro lituano da educação pediu às escolas católica que o ajudassem a redigir os novos programas, após a queda do Muro de Berlim? O que pode explicar o sucesso das escolas católicas no Egipto ou Marrocos, bem como nas capitais muito multiculturais como Roterdão ou Bruxelas (por vezes, mais de 70% de imigrantes nas escolas primárias), ou ainda em Marselha e Lyon, a não ser o seu ensino e a sua educação para a liberdade do homem e para uma responsabilidade em relação à sociedade?

Uma das chaves da pedagogia das escolas católicas, segundo inquéritos realizados, por exemplo, nos Estados Unidos da América, é que a comunidade educativa é ali fortemente valorizada. Assim que uma comunidade se organiza em volta de um único projecto educativo, neste caso um projecto claro de humanismo evangélico, conjugado com uma preocupação de excelência com cada criança, a qualidade das relações pedagógicas fica a ganhar.

Queremos sublinhar duas consequências disto: A primeira é que a solicitude dos professores para com os alunos encontra um fundamento, sobretudo um encorajamento. Pensemos no sucesso das escolas dos Salesianos, que apresentam uma relação pedagógica de amizade. Porque é que os pais acampam, na Bélgica, diante das escolas de «Dom Bosco» para ter a possibilidade de ali inscrever o seu filho ou a sua filha? Pensemos na espiritualidade de Santo Inácio, que encoraja desde há muitos séculos os educadores a tomar conta, de forma personalizada («cura personalis»), da educação de todos os alunos. Esta espiritualidade deu forma a numerosas iniciativas pedagógicas no mundo. Os irmãos das Escolas cristãs, os Maristas, as Ursulinas e tantas outras escolas de Congregações religiosas e diocesanas elaboraram uma pedagogia personalizada e, ao mesmo tempo, comunitária.

Uma segunda consequência é que o clima de motivação é mais facilmente sustentado, dado que os colegas educadores contribuem pessoalmente e assumem, em conjunto, os desafios no mesmo espírito e em volta dos mesmos valores. As escolas católicas da Bósnia-herzegovina acolhem alunos católicos, ortodoxos, judeus e muçulmanos num clima político e social de tensão. Os educadores colocam a sua motivação na sua fé, cumprindo um trabalho fantástico de «peace-keeping», de construção da paz entre crenças e raças, assim como fazem os seus colegas na escola católica do Kosovo. A motivação é sinónimo de vocação, ali.

Em quase todos os países da União Europeia, tanto ocidentais como ex-comunistas, os governos exprimiram o seu apreço pelos direitos internacionais de liberdade, mas também pela qualidade do contributo das escolas católicas para a sua sociedade, assegurando o pagamento de salários, incluindo o dos professores de religião, e um subsídio no quadro de acordos. As escolas dos países de Leste são já mais bem subsidiadas do que as escolas (secundárias) da Itália. É evidente que a afirmação de liberdades fundamentais só tem sentido quando os governos oferecem igualmente os meios necessários para organizar essas liberdades aos pais – que pagam, aliás, os seus impostos – que fazem a sua livre escolha. Nenhum governo deve temer que a escola católica seja mais dispendiosa do que a escola pública. A realidade é que um subsídio a escolas católicas é sinónimo de poupança. Sempre e quando elas sigam os programas oficiais, aceitem inspecções e controlos sobre o uso dos subsídios e se inscrevam nos direitos do homem.

Num momento em que a Europa está em crise, e não só a Europa, os governos têm de testemunhar lucidez. Para usar os termos da Comissão Europeia: se a Europa quer ser «a economia mais competitiva do mundo», os seus membros devem reflectir na melhor maneira de fazer frutificar o seu pomar. O meu conselho seria não cortar as árvores que dão excelentes frutos!

Etienne Verhack,

Secretário-geral do Comité Europeu para o Ensino Católico – CEEC

www.ceec.be

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